BRASÍLIA – O presidente da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2), Paulo Emílio Miranda, defendeu nesta terça (8/8), na Câmara, que as políticas para o hidrogênio se concentrem mais em alternativas que reduzam as emissões de CO2 do que em substituir rotas que utilizam combustíveis fósseis.
Para ele, a inclusão de rotas mais baratas facilitará o avanço da regulação brasileira de hidrogênio e a abertura de mercados na corrida global pela molécula.
“O importante para a regulação no Brasil é não ter trancamento tecnológico e utilizar todas as rotas possíveis, principalmente as que são inicialmente mais baratas, para fazer a abertura de mercados. É mais relevante a descarbonização do que a desfossilização”, comentou Miranda.
Com uma representação mais acadêmica, a diretoria da ABH2 é composta por representantes da Coppe/UFRJ, Inmetro, Rystad Energy, UFPR, SAE Brasil e SAV Motors.
Na visão de Miranda, que também é professor titular da UFRJ, a diversidade de rotas tecnológicas para o H2 vai garantir um fornecimento constante de energia, visto que a disponibilidade dos recursos renováveis pode variar ao longo do ano.
“[Mesmo] com o potencial de geração eólica, solar e hidráulica, é importante que o Brasil tenha várias rotas porque as energias renováveis são intermitentes. Desta maneira, o Brasil terá eletricidade firme durante o ano inteiro.”
O professor participou de audiência na Comissão Especial de Transição Energética e Produção do Hidrogênio Verde (CEHV) nesta terça (8/8). A comissão planeja apresentar, ao final dos trabalhos, um marco legal para o hidrogênio no Brasil.
Categorização do hidrogênio
A taxonomia do hidrogênio é um dos pontos de maior divergência entre os representantes do setor no desenvolvimento de políticas para o combustível.
De um lado, há aqueles que apoiam a produção do H2 sem restrição aos combustíveis fósseis. Na abordagem “arco-íris” são consideradas diversas rotas de elaboração da substância, além do hidrogênio verde.
Por outro, há aqueles a favor da geração do hidrogênio verde propriamente dito, fabricado a partir da eletrólise e através de fontes renováveis, como eólica e solar.
A ABH2 está entre os que acreditam que o mercado brasileiro não deve se limitar ao hidrogênio verde, podendo agregar todas as formas de produção – incluindo fósseis e a exploração do hidrogênio natural (branco).
Segundo o presidente da associação, Paulo Miranda, algumas iniciativas internacionais, como o Hydrogen Council e a Agência Internacional de Energia (IEA), já estão desconsiderando a categorização de cores pois “a taxonomia dificulta a quantificação da descarbonização”.
Vantagem brasileira
Para o CEO da thyssenkrupp na América do Sul, Paulo Alvarenga, a classificação deve considerar o impacto ambiental.
“O que importa não é a cor, e sim o impacto do ponto de vista ambiental. É importantíssimo salientar que a vocação do Brasil estará sempre no hidrogênio verde”, sustentou.
De acordo com Alvarenga, o país apresenta vantagem competitiva na geração do hidrogênio verde – a partir de renováveis – em comparação com outras formas de geração combustível.
“O Brasil tem abundância na geração e o custo marginal de energia eólica e solar mais competitivo do mundo. Temos esse hidrogênio de baixa intensidade de carbono que vai ser competitivo no mercado, e não os demais”, afirmou.
O grupo tem interesse na produção do energético a partir da eletrólise. No início de junho, a thyssenkrupp lançou a listagem de sua divisão de hidrogênio verde, a thyssenkrupp nucera, na Bolsa de Valores de Frankfurt (Prime Standard).
O foco da nova companhia será a produção em larga escala de eletrólise alcalina da água (AWE). Com isso, a thyssenkrupp nucera espera atingir cerca de € 700 milhões em receitas no ano fiscal de 2023/24.
Estratégia para fertilizantes
A indústria de fertilizantes pode assegurar sua participação no mercado de hidrogênio com a produção de amônia verde e derivados, acredita Alvarenga.
“O Brasil tem 1/4 do seu PIB relacionado com o agronegócio e quase a totalidade dos nossos fertilizantes nitrogenados é importada […] É estratégico para o país utilizar a capacidade e o potencial em hidrogênio verde para fertilizantes, como amônia verde e outros derivados”, disse na terça.
Hoje, os setores do agronegócio tentam garantir espaço na cadeia de abastecimento já que, no Brasil, o planejamento para suprir a demanda de hidrogênio verde também inclui soluções a partir de biomassa, como o biogás e etanol.
Para o presidente da ABH2, é esperado que o hidrogênio musgo – gerado através de biomassa – supere a produção do hidrogênio por eletrólise (verde) até 2030.
“Pelo final dessa década, o Brasil produzirá mais hidrogênio a partir de biomassa do que por meio de eletrólise. Temos centenas de usinas de biogás no país e outras possibilidades nesse sentido”, garantiu Miranda.
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