Diálogos da Transição

As ideias do BNDES para ser um “banco verde”

Sob nova direção, banco de desenvolvimento planeja voltar ao patamar de desembolsos que já chegou a 2% do PIB

As ideias do BNDES para ser um “banco verde”. Na imagem: Aloizio Mercadante, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

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Editada por Nayara Machado
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O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, disse esta semana que a instituição financeira do futuro é verde, digital, inclusiva, tecnológica e “reindustrializante”.

Em um evento sobre desenvolvimento sustentável organizado pelo banco, Mercadante afirmou que é preciso, guardadas as devidas proporções, aprender com as recentes políticas dos Estados Unidos e União Europeia para alavancar a indústria por trás da economia de baixo carbono.

“Essas economias estão fazendo política industrial, repensando a relação Estado/mercado, buscando novos padrões de regulação, especialmente marcos de regularidade fiscal pós-pandemia, e o Brasil precisa olhar para essas experiências”.

Em 2022, a instituição financeira registrou lucro recorrente de R$ 12,5 bilhões, alcançando R$ 41,7 bilhões de lucro líquido.

Sob nova direção, quer voltar ao patamar de desembolsos que já chegou a 2% do PIB, e planeja dobrar o tamanho do banco até 2026.

Segundo Mercadante, o BNDES será um centro de formulação — para dar suporte à estratégia brasileira de “reindustrialização”.

Uma das frentes é a energia renovável

Na corrida tecnológica, EUA e UE estão adiantados com seus programas de incentivos bilionários para disputar o mercado de baterias, entre outras tecnologias de transição energética.

“Precisamos entender esse desafio e tentar recolocar o Brasil para atrair investimentos e disputar essas possibilidades. É um horizonte bastante complexo e nós estamos atrasados”.

O banco já tem uma carteira de renováveis com 10% dos financiamentos no Brasil para energia eólica e 2% da solar, mas quer ir além. Com cerca de R$ 8,6 bilhões de investimentos projetados para 2023, Mercadante afirma que há “grandes possibilidades na área da energia solar fotovoltaica”.

Mas a grande oportunidade — e desafio — está no hidrogênio verde (H2V).

O presidente do BNDES avalia que, embora o Brasil tenha uma matriz energética e um potencial de geração renovável que viabilizam o H2V, o custo de capital é um problema.

“A Alemanha, por exemplo, está financiando todas as plantas nesse setor a juro zero. E nós estamos com uma taxa de custo muito elevada e pouco competitiva”.

Emergência climática e combate ao desmatamento também estão no horizonte

Uma das iniciativas pretende fortalecer o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) e apoiar a reorganização da defesa civil.

Reconhecendo o custo elevado dos desastres naturais — causados pela emergência climática — o BNDES planeja um edital específico para aprimorar tecnologias na área de prevenção.

No combate ao desmatamento, o banco começou um programa em fevereiro que usa imagens de satélite para bloquear empréstimos a propriedades rurais desmatadas ilegalmente.

A ideia é bloquear o financiamento “antes de entrar no banco”.

O controle ocorre por meio de uma parceria com o MapBiomas, que monitora em tempo real todos os biomas brasileiros usando satélites de alta resolução e gera alertas e laudos com imagens antes e depois de desmatamentos.

Desde o dia 9 de fevereiro, as informações geradas pela plataforma serviram como base para negar 58 pedidos de empréstimos que somavam R$ 24,8 milhões e eram destinados a imóveis rurais com desmatamentos em 14 estados, no total de 948 hectares — equivalente a cerca de 1.300 campos de futebol.

Para Mercadante, a pauta de rastreabilidade virá e é preciso modernizar a agenda. O banco também quer começar a financiar programas de produção de mudas, reflorestamento, e produtos brasileiros que se apresentem como desmatamento zero na pauta de exportação.

Cobrimos por aqui:

Indústria quer investir em hidrogênio, mas falta política

O discurso de reindustrialização verdee compromisso com sustentabilidade ambiental do governo Lula (PT) tem agradado segmentos da indústria que querem investir em novas energias no país. A bola da vez é o hidrogênio.

“O Brasil tem uma escolha a fazer. Ele não é o único que pode fornecer hidrogênio verde para o resto do mundo. Pelo custo marginal baixo, temos uma vantagem no momento zero, mas essa vantagem tem que ser encorajada”, defende Henrique Paiva, head de Relações Governamentais e ESG da Siemens Energy para a América Latina.

Em entrevista à Diálogos da Transição, ele defendeu uma política industrial direcionada para incentivar as rotas de baixo carbono, a exemplo do que ocorreu para eólica no início dos anos 2000, ou para o etanol na década de 1970.

Olhando para os possíveis parceiros comerciais e investidores, o Brasil também precisa melhorar sua mensagem, de forma a dar segurança sobre qual será sua estratégia para o novo energético.

Paiva participou na semana passada de uma reunião da comissão mista do Encontro Econômico Brasil-Alemanha, fechada a alguns agentes do mercado e governos dos dois países.

Ele conta que o encontro mostrou representatividade e consistência de agendas, com diversas oportunidades de parcerias. Um desafio do país, no entanto, é dar garantia sobre as informações que são repassadas ao mercado.

“Dar confiança para o tipo de informação que mandamos lá para fora é algo que também vai nos abrir portas”.

A Siemens Energy está desenvolvendo plantas de hidrogênio verde na América Latina, e Paiva afirma que grandes projetos estão previstos para o Brasil em 2024-2025.

“Cada vez mais os projetos se mostram mais maduros. Tem uma fase do entendimento dos atores da cadeia de valor, o papel do financiamento governamental também começa ficar um pouco mais claro. É uma evolução natural de aprendizado que esse novo mercado terá”, completa.

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Curtas

Oitavo em solar

O Brasil entrou, pela primeira vez, na lista dos dez países com maior potência instalada acumulada da fonte solar fotovoltaica, com 24 GW de potência operacional solar em 2022.

Segundo Absolar, a oitava colocação do Brasil é fruto dos cerca de 10 GW adicionados no ano de 2022. Os dados consideram grandes usinas solares e sistemas de geração própria solar de pequeno e médio portes, em telhados e fachadas.

“Ao analisar a capacidade instalada acumulada da tecnologia solar entre 2021 e 2022, o Brasil subiu cinco posições no ranking mundial da fonte fotovoltaica no período, saindo da 13ª colocação em 2021 para a oitava em 2022”, diz a associação.

O ranking é liderado pela China (392 GW), seguida pelos Estados Unidos (111 GW), Japão (78,8 GW), Alemanha (66,5 GW) e Índia (62,8 GW).

Irrespirável

O governo chinês alertou moradores vulneráveis a ficarem em casa nesta quarta-feira, já que uma tempestade de areia — a terceira neste mês — combinada com a poluição industrial regular cria uma névoa espessa e irrespirável sobre Pequim.

Este mês está a caminho de ser o pior desde 2017. Os níveis de material particulado associados aos escapamentos de carros e fábricas têm sido relativamente altos nas últimas semanas. Quase todo mundo que andava do lado de fora usava máscara e, às vezes, óculos de proteção. Bloomberg

Mulheres no Conselho

A Santo Antônio Energia, quarta maior hidrelétrica do país, recebeu esta semana o certificado Women on Board, iniciativa que reconhece empresas que fomentam a diversidade em seu quadro de conselheiros de administração. O Conselho de Administração da empresa é composto por sete mulheres entre 15 posições. A presidência e a vice-presidência são ocupadas por executivas.

Dia da Água

Pesquisa global da Ecolab com consumidores em oito países descobriu que 74% acreditam que as empresas devem ter a conservação da água como prioridade em sua estratégia de sustentabilidade. Em contraste, apenas 25% julgam que o setor privado está tomando as medidas certas para economizar água. E mais de 60% afirmaram que eles ou algum familiar já tiveram problemas no acesso à água potável.