Em franca expansão em países como Coréia do Sul, Alemanha, China e Estados Unidos, os sistemas de armazenamento de energia solar fotovoltaica tendem a ficar cada vez mais atraentes para os consumidores de média e alta tensão no Brasil.
A queda nos custos de equipamentos fotovoltaicos e baterias, combinada aos elevados custos de distribuição em regiões como o Norte e Nordeste do país faz com que a conta feche para alguns perfis de consumidores.
“A gente não está falando de uma coisa para o futuro. Na média e alta tensão esta conta está fechando e as taxas de retorno estão ficando cada vez mais atraentes, porque o CAPEX (investimento) das baterias e dos sistemas de armazenamento como um todo está caindo muito rapidamente”, ressaltou Markus Vlasits, diretor da New Charge Energy.
O mercado de armazenamento de energia solar fotovoltaica foi tema de evento promovido pela Greener, nesta quinta (21).
Um estudo feito pela Bloomberg New Energy Finance no ano passado mostra que, de 2010 para 2019, o preço da bateria caiu quase 87% e chegou ao custo médio de US$ 156/kWh.
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Baterias são aliadas da energia solar
Além de possibilitar independência do consumidor em relação às distribuidoras de energia, os sistemas permitem aos consumidores utilizar a energia solar à noite ou quando não houver sol.
Marcio Takata, CEO da Greener, afirma que o armazenamento de energia elétrica, principalmente na sua forma de armazenamento elétrico químico, é um mercado que está “literalmente explodindo lá fora”.
Segundo o executivo, aqui no Brasil, grandes empresas de renováveis começam a olhar com muita atenção o armazenamento, em uma sinalização importante para o desenvolvimento desse segmento.
“A solução de armazenamento traz para o mercado um canivete suíço de soluções”, diz Jhonatan Paloschi, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Renovigi, fabricante de sistemas fotovoltaicos no Brasil, durante sua participação no painel.
A empresa já vem há algum tempo olhando para o cenário de armazenamento e vê esse mercado como promissor, diante da aceleração do interesse dos consumidores nos últimos anos.
O mesmo sistema utilizado para reduzir o consumo de energia da rede durante os horários de pico, mas também funciona como uma ferramenta para injetar energia nos momentos em que a demanda está excedendo o valor limite.
Ou seja, ajuda a reduzir a demanda contratada, com economia na conta de luz.
“No mercado livre a questão do armazenamento de energia também é importante, principalmente para o consumidor convencional, que não tem direito ao desconto da TUSD [Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição]”, destaca Markus Vlasits.
Desafios para ampliar a utilização
No mercado de projetos de armazenamento de energia solar fotovoltaica com potências de média e alta tensão, isto é, comercial ou industrial, o uso de baterias para viabilização de projetos solares é um assunto que ainda esbarra em desafios para a ampla utilização desse tipo de solução.
Em entrevista à epbr, Gabriel Vibert, diretor de Estratégia e Inovação da GreenYellow, elenca cinco questões principais que ainda precisam ser superadas:
- Preço dos bancos de baterias elevado, principalmente pela tributação para nacionalização, que é cerca de 80%;
- Desafios regulatórios da comercialização dessa energia, seja a frente do medidor (como geração) ou atrás do medidor (como consumidor), principalmente quando considerados projetos de maior escala;
- Operação e manutenção desses bancos de baterias: o grande desafio é manter a temperatura do ambiente das baterias;
- Vida útil que diminui significativamente com o aumento da temperatura de operação;
- Descarte/Reciclagem: o que será feito com as baterias no descomissionamento da usina.
O diretor da GreenYellow vê na indústria de carros elétricos um nicho potencial para atrair incentivos que reduzam os custos das baterias.
“Para a viabilização de nichos de mercado que utilizam baterias, alguns incentivos poderiam impulsionar o crescimento em escala – seja por redução de tributos, por tarifas incentivadas para comercialização desse tipo de energia ou ainda investimento na indústria nacional”, indica Gabriel.
Solução de backup
O consumidor brasileiro fica em média 14 horas por ano sem energia elétrica, segundo dados da ANEEL apresentados no evento, situação mais grave em regiões mais afastadas dos centros de distribuição e geração de energia.
A estatística só considera interrupções acima de três minutos, excluindo pequenas interrupções ou flutuações de tensão que poderiam interromper processos produtivos.
Markus Vlasits explica que a mesma bateria usada para baratear a conta de luz pode assumir a função de uma espécie de UPS (os conhecidos nobreaks) ou fonte de energia de emergência em caso de interrupção.
“É uma questão do dimensionamento dessa bateria, porque geralmente a interrupção vai acontecer no momento menos oportuno, no finalzinho do horário ponta, quando a gente acabou de descarregar a bateria. Mas do ponto de vista técnico, esse banco pode suprir essas funções de UPS e dar uma maior segurança”, pontua.
O mercado ainda é restrito para consumidores residenciais e comércios de pequeno porte, em redes de baixa tensão, mas há um mercado para backup em regiões litorâneas e no interior do Norte e Centro-Oeste, em lugares onde as interrupções são mais frequentes.
“É um mercado que já vale a pena ficar de olho”, diz.
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