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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Com previsão de crescimento de 12,8% ao ano até 2040, o mercado de armazenamento de energia deve adicionar até 7,2 gigawatts (GW) de capacidade instalada e movimentar mais de US$ 12,5 bilhões no Brasil, calcula a Clean Energy Latin America (Cela).
A estimativa considera o cenário atual, sem políticas específicas para a tecnologia. No entanto, a consultoria afirma que a adição de capacidade poderia chegar a 18,5 GW no período, com incentivos e metas para fomentar a integração das baterias à infraestrutura de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.
“Isso inclui, por exemplo, a definição de tarifas para serviços auxiliares e o empilhamento de receitas, o que pode contribuir significativamente para a redução dos custos de implantação dos sistemas e aumentar a atratividade financeira dos projetos”, defende Camila Ramos, CEO da Cela.
A solução de armazenamento é discutida na Aneel desde 2016, como um desdobramento de uma chamada de P&D Estratégico. Em 2022, a agência publicou um roadmap regulatório dividido em três ciclos. O primeiro deles, previsto para o primeiro semestre de 2024, e o último para 2027.
Para a Cela, é necessário celeridade na regulação para garantir oportunidades em certos modelos de negócios como os Leilões de Reserva de Capacidade.
Por enquanto, o único projeto de armazenamento em larga escala do sistema de transmissão brasileiro é da ISA Cteep, na Subestação Registro (SP), uma das responsáveis pelo abastecimento do litoral sul de São Paulo. O empreendimento foi selecionado na chamada de P&D da Aneel em 2016.
- Estocar energia elétrica é essencial para controlar as variações de fontes de energia que geram de forma intermitente, como solar e eólica. Atualmente, no Brasil, essa regulação tem sido feita com os reservatórios hidrelétricos, mas o crescimento exponencial das outras renováveis cria desafios tecnológicos e operacionais. Entenda
Marco legal
Em análise publicada em novembro do ano passado, a Cela destaca dois projetos de lei em discussão no Congresso Nacional que abrem perspectivas para que as soluções de armazenamento ganhem escala: o PL 414/2021 e o PL 1224/2022.
O PL 1224/2022, por exemplo, traz as primeiras definições para a atividade, propõe a criação de um agente armazenador, estabelece diretrizes e indica os serviços que podem ser oferecidos pelos agentes de armazenamento de energia.
Autora da análise, a consultora de Energias Renováveis da Cela Ana Zornitta explica que essas definições são importantes para determinar os custos e receitas associados aos sistemas – cruciais para viabilizar as operações.
“A implementação de regulamentações, estabelecimento de metas e oferecimento de incentivos desempenham um papel crucial no desenvolvimento do setor de armazenamento de energia. Nos Estados Unidos, líder nesse setor, é possível traçar uma linha do tempo que correlaciona as decisões regulatórias e os estímulos com o aumento da capacidade instalada dos sistemas de armazenamento de energia pelo mundo”, comenta Zornitta.
Como exemplo, ela cita a Lei de Redução da Inflação (IRA, em inglês), sancionada pelo governo de Joe Biden em 2022, que amplia o crédito de imposto de renda (ITC) para sistemas de armazenamento de energia, mesmo quando não estivessem vinculados a fontes renováveis. Além de estender o período de elegibilidade para esses créditos até 2032.
“Essa medida proporcionou benefícios fiscais que aumentaram a viabilidade econômica dos sistemas de armazenamento”, observa.
De acordo com a especialista, a combinação de ações regulatórias e incentivos foram fundamentais para posicionar os Estados Unidos como um dos líderes globais na produção e adoção de BESS – e deve servir de inspiração a outros países.
Entre 2017 e 2022, os EUA aumentaram sua capacidade instalada de BESS de 288 MW para 4.798 MW.
US$ 150 bi até 2030
No mundo, a meta de triplicar a capacidade renovável até 2030 para cumprir as metas do Acordo de Paris, além de incentivos em diferentes mercados na Ásia, Europa e América, está impulsionando o mercado de sistemas de armazenamento de energia com baterias.
De acordo com a McKinsey, mais de US$ 5 bilhões foram investidos em BESS em 2022, quase triplicando em relação ao ano anterior. Para 2030, a previsão é que esse mercado alcance entre US$ 120 bilhões e US$ 150 bilhões – mais que o dobro do seu tamanho atual.
Do ponto de vista tecnológico, as baterias de íon de lítio dominam o mercado atualmente, mas íon de sódio começa a chamar a atenção.
Embora as baterias de sódio tenham vida útil e densidade energética menores que as de lítio, elas têm potencial de ser até 20% mais baratas e são mais seguras, aponta a McKinsey.
“Há também um argumento de sustentabilidade para as baterias de sódio, porque o impacto ambiental da mineração de lítio é alto. Tudo isso torna provável que as baterias de íon de sódio capturem uma parcela crescente do mercado de sistemas de armazenamento”, diz o relatório.
Por falar em mineração de lítio…
Duas das principais empresas químicas de lítio da China, Chengxin Lithium Group e Yahua Industrial Group – fornecedores de hidróxido de lítio para Tesla, BYD e LG, entre outros – anunciaram um total de US$ 50 milhões para a Atlas Lithium, empresa americana que desenvolve um projeto de exploração do mineral no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.
O lítio é uma das matérias-primas críticas para a fabricação de baterias.
O contrato envolve o investimento direto na Atlas Lithium (US$ 10 milhões) e acordos de compra para a Fase 1 da produção de concentrado de espodumênio para baterias da companhia (US$ 40 milhões), em troca de 80% dos ativos da Atlas Lithium.
Enquanto isso, na Alemanha, a PowerCo, empresa de fabricação de baterias para veículos elétricos da Volkswagen, confirmou na última semana a aprovação da célula de estado sólido da QuantumScape no primeiro teste de resistência. A célula de lítio-metal sólido sem ânodo alcançou mais de 1.000 ciclos de carga, mantendo mais de 95% de sua capacidade.
Cobrimos por aqui:
- Petroleiras investem no lítio para transição energética; veja quais empresas apostam no mineral
- Demanda global por baterias supera vendas de veículos elétricos
- União Europeia pode não atingir net zero em 2035 por falta de baterias
- Mais Luz para Amazônia: os painéis solares, as baterias e o que vem depois
Curtas
Prontos para ultrapassar 1,5°C
O ano de 2023 entrou para a história como o mais quente, mas 2024 pode tomar este posto, de acordo com os cientistas. De acordo com o Met Office do Reino Unido, o ano que acaba de começar pode ser o primeiro em que o aumento da temperatura média da superfície global ultrapassa 1,5°C.
Ao The Guardian, James Hansen, ex-cientista da Nasa responsável por alertar o mundo sobre os perigos das mudanças climáticas na década de 1980, disse que o aquecimento global causado pela queima de combustíveis fósseis, amplificado pelo evento climático El Niño, que ocorre naturalmente, até maio elevará as temperaturas para até 1,7°C.
Mais nuclear na França
A ministra francesa da Transição Energética, Agnes Pannier-Runacher, disse esta semana que o país possivelmente precisará construir mais de 14 novas usinas nucleares para reduzir sua dependência de combustíveis fósseis de 60% para 40% até 2035. Atualmente, o plano de transição da França prevê a construção de seis novas usinas.
Outra COP do petróleo?
O indicado pelo Azerbaijão para presidir a conferência climática da ONU em 2024 (COP29) é Mukhtar Babayev, ministro da Ecologia e Recursos Naturais do país e, como na edição do ano passado, um nome ligado ao setor de petróleo e gás. Babayev fez carreira na Socar, a petroleira estatal do país, onde trabalhou durante mais de duas décadas.
Chamada para inovação
Startups e empresas de tecnologia com projetos disruptivos voltados para as energias renováveis e hidrogênio verde podem se inscrever na 8ª edição do Energy Starter, um programa global de inovação aberta da EDP para acelerar o desenvolvimento e implementação de soluções para a transição energética. As inscrições podem ser feitas pelo site do programa, até 28 de janeiro, por empresas do mundo todo.