RIO — Os planos da Eneva para o gás natural passam não só pela consolidação dos complexos de Azulão (AM) e Parnaíba (MA), mas podem incluir outras duas novidades no portfólio da empresa: a entrada da companhia no onshore da Bahia e a produção de fertilizantes a partir do gás de Juruá, na Bacia do Solimões — ambas as frentes em estágios embrionários, mas que podem avançar ao longo do ano.
A companhia trabalha com diferentes frentes para monetizar as reservas de seus ativos:
- Construção de novas termelétricas associadas à produção de gás de Azulão;
- A recontratação das usinas maranhenses cujos contratos se aproximam do fim nos próximos anos;
- E a comercialização de molécula de gás para clientes industriais do Maranhão e região Norte.
Em paralelo, a Eneva tem planos de instalar terminais de importação de gás natural liquefeito (GNL) em São Luís (MA) e Macaé (RJ). A ideia é desenvolver novos hubs de gás, com um mix de gás nacional e importado, para atendimento tanto a novas termelétricas quanto a consumidores industriais.
A companhia, no entanto, avalia diversificar geograficamente sua carteira de ativos de produção de gás em direção à Bahia, e espera encontrar, no promissor mercado de fertilizantes, uma saída para a monetização de Juruá.
Olho no gás da Bahia
Após concluir a aquisição da Focus Energia, a Eneva mira novas oportunidades de compra de ativos e o Polo Bahia Terra, conjunto de campos maduros colocados à venda pela Petrobras nas bacias do Recôncavo e Tucano, desperta a atenção da empresa.
Inicialmente, a estatal havia recebido uma proposta superior a US$ 1,5 bilhão do consórcio formado pela Aguila Energia e Participações e Infra Construtora e Serviços, mas as negociações não tiveram êxito e uma nova rodada para recebimento de ofertas foi aberta.
O diretor de novos negócios, marketing e comercialização de gás e energia da Eneva, Marcelo Lopes, conta que o interesse no ativo se justifica pelo potencial de gás natural. Segundo ele, o petróleo produzido no polo pode ajudar, nesse sentido, a financiar um projeto de aumento da produção de gás local.
O ativo reúne 28 concessões e infraestrutura associada, como a Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) de Catu (BA). O polo produzia, na ocasião do lançamento do desinvestimento pela Petrobras, em novembro de 2020, cerca de 14 mil barris/dia de petróleo e 640 mil metros cúbicos diários (m³/dia) de gás natural.
Antes, Eneva tentou Urucu
O interesse pelo Polo Bahia Terra se dá após a desistência da companhia de comprar o Polo Urucu, na Bacia do Solimões. Petrobras e a Eneva encerraram em janeiro, sem acordo, as negociações em torno do ativo localizado no Amazonas.
As partes estavam em negociação desde fevereiro do ano passado. Segundo a Eneva, a valorização dos preços do petróleo foi um fator determinante para que a companhia não tivesse chegado a um acordo para compra de Urucu e que as duas partes chegaram à decisão de encerrar as negociações em comum acordo por divergência nos preços envolvidos.
A Eneva conta, hoje, com um portfólio mais rico em gás do que tinha quando começou a negociar a compra de Urucu, em 2020. Na ocasião, Azulão era o único ativo de gás da companhia no Amazonas. Urucu era, assim, uma oportunidade para que a empresa conseguisse acelerar o seu crescimento de reservas na região.
Com a demora nas negociações, no entanto, a Eneva conseguiu aumentar, no período, as reservas no Amazonas por meio da exploração de blocos adquiridos nas rodadas da ANP e da compra do campo de Juruá.
“Aquela alocação de capital, naquele momento, deixou de fazer sentido”, disse Lopes à agência epbr, sobre a desistência da aquisição.
Se confirmada a aquisição do polo Bahia Terra, o ativo pode representar uma diversificação regional para a Eneva, que produz gás e gera energia elétrica nos estados do Amazonas, Roraima e Maranhão.
Fertilizante pode ser solução para Juruá
A companhia também busca uma solução para monetizar as reservas de Juruá, na Bacia do Solimões. O campo foi adquirido pela empresa em 2020, na oferta permanente da ANP, e possui recursos contingentes 1C (estimativas mais conservadoras) de 16 bilhões de m³ de gás natural.
Uma das alternativas em estudo pela companhia é liquefazer o gás e desenvolver uma rede de abastecimento de GNL em pequena escala, para suprimento da demanda ociosa da região Norte por meio de um sistema hidroviário.
Lopes conta, no entanto, que outra opção tem ganhado força nas avaliações internas da empresa: a possibilidade de conversão das reservas de gás em fertilizantes.
“Estamos acreditando um pouco mais nos fertilizantes, mas ainda estamos avaliando, vai depender das oportunidades de mercado. O fertilizante pode fazer mais sentido que o gás, mas isso é dinâmico”, disse o executivo.
Segundo ele, a empresa avalia produzir ela mesma o produto — ou vender o gás para um eventual produtor que tenha interesse em investir numa fábrica na região, atraído pelas promessas do novo Plano Nacional de Fertilizantes.
“Essa avaliação ainda é embrionária e o modelo de negócios vai ser analisado mais para frente. O que estamos vendo é que aquele recurso [o gás] pode ser mais valorado se for convertido em fertilizantes”, comentou.
A ideia da companhia é avançar em 2022 com o licenciamento de Juruá e com os estudos logísticos de escoamento da produção.