RIO – O leilão de petróleo promovido pelo governo republicano de Donald Trump com áreas no Círculo Polar Ártico, no estado americano do Alasca, arrecadou apenas US$ 14 milhões com lances promovidos por duas empresas privadas novatas e uma estatal sem experiência em liderar projetos de exploração.
Em meio a corte de gastos devido à crise mundial provocada pela pandemia de covid-19, protestos de moradores e ambientalistas no Alasca e incertezas regulatórias com a sucessão presidencial que ocorrerá dentro de menos de 20 dias, as grandes empresas do setor ficaram de fora da disputa promovida pelo governo federal.
Ao todo, o leilão conseguiu lances em 11 apenas arrendamentos – a metade das áreas oferecidas – para permitir a exploração em cerca de 223 mil hectares e envolveu áreas costeiras do refúgio de vida selvagem Arctic National Wildlife Refuge.
A área é considerada sagrada por populações nativas do Alasca, mas estima-se que possua reservas de até 11 bilhões de barris de óleo.
A disputa teve como ganhadoras as companhias Knik Arm Services LLC e Regenerate Alaska Inc., além da estatal Alaska Industrial Export and Development Authority, controlada pela administração estadual.
Coube à estatal fazer os lances mais altos ao desembolsar US$ 12 milhões pela maior parte das áreas. A empresa não tem qualquer experiência em capitanear projetos de exploração. As privadas Knik e Regenerate fizeram ofertas de US$ 1,6 milhão e US$ 771 mil, respectivamente.
A principal ameaça à exploração na região vem das promessas do presidente eleito, Joe Biden, de promover uma guinada sustentável na produção de energia no país e restringir ainda mais as emissões de gases do efeito estufa.
Biden pode não conseguir cassar as licenças de exploração – que a administração Trump tenta emitir antes da posse, marcada para 20 de janeiro -, mas seu governo pode evitar a concessão de outras licenças que venham a ser demandadas para viabilizar a exploração na região.
Fracasso anunciado
Analistas do setor previam, há meses, que haveria pouco interesse pelas áreas. Larry Persily, que foi diretor da agência federal Alaska Natural Gas Transportation Projects durante da presidência de Barack Obama, afirmou que o leilão foi uma falência e disse apostar que ninguém vai ver petróleo ser extraído na região.
Para ele, embora a exploração na região siga sendo um sonho para alguns políticos, ela já está fora do interesse do setor.
À Bloomberg, o analista Jenny Rowland-Shea, do Center for American Progress, classificou o leilão como um grande fracasso.
A permissão para exploração da área foi dada pelo Congresso em 2017 como uma forma de compensar cortes de impostos massivos promovidos pela administração Trump.
Então comandado por maioria do partido republicano, o parlamento havia autorizado dois leilões na região. O segundo está previsto para ocorrer em 2024.
Mas ativistas ambientais seguem lutando para impedir a exploração das áreas, inclusive na Justiça, mas também com campanhas e abaixo-assinados. Adam Kolton, diretor da organização ambientalista Alaska Wilderness League, afirmou que os políticos republicanos do estado que apoiaram o leilão com a promessa de criar milhares de empregos e reduzir a dependência de combustível estrangeiro promoveram um fracasso épico.
“Eles acabaram dando uma festa para eles, com o estado sendo um dos únicos licitantes”, disse em comunicado, citando a atuação da Alaska Industrial Export and Development Authority no leilão.