Energia

Apagão: entenda o que aconteceu

Interrupção do fornecimento de energia afetou todos os estados do país e o Distrito Federal, com exceção de Roraima

Na imagem: Pôr do sol ao fundo de torres com linhas de transmissão de energia, com alguns postes com luzes acesas (Foto: Inna/Pixabay)
Todos os estados e o DF foram afetados pelo apagão com exceção de Roraima, que não está conectada ao SIN (Foto: Inna/Pixabay)

Um apagão afetou estados de todas as regiões do Brasil na manhã desta terça-feira (15/8), deixando cerca de 30 milhões de pessoas sem luz. Foi o maior apagão desde 2018, quando parte do Norte, Nordeste, Sul e Sudeste ficou sem luz.

Veja o que se sabe e o que precisa ser esclarecido sobre o apagão:

  • Como ocorreu o apagão?
  • Quantos estados foram afetados?
  • A energia foi totalmente restabelecida?
  • O que causou o apagão?
  • Por que as regiões são interligadas?
  • O que poderia ter sido feito para evitar o incidente?

Como ocorreu o apagão?

De acordo com o Operador Nacional do Sistema (ONS), às 8h31, houve a abertura da linha de transmissão de 500kV Quixadá II/Fortaleza II, no Ceará, operada pela Eletrobras Chesf. Após esse incidente, foram acionados mecanismos de segurança, entre eles o que cortou a ligação entre as regiões Norte e Nordeste e as regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste do Sistema Integrado Nacional (SIN).

O resultado foi um corte de 23.368 MW de carga – o equivalente a 34,5% do total.

Esse procedimento de corte de cargas – conhecido como Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac) – acontece de forma automática quando alguma ocorrência é identificada no SIN e ocorre para proteger o sistema elétrico de danos maiores.

No relatório preliminar sobre o caso, a ONS concluiu que:

“Houve, após a abertura da linha, afundamento brusco de tensão seguido da atuação de proteções de caráter sistêmico instaladas no SIN, as quais têm por objetivo conter e minimizar a propagação das perturbações no SIN, além das proteções intrínsecas dos equipamentos.

De acordo com as conclusões preliminares já alcançadas, as proteções sistêmicas, que são mecanismos automáticos de intervenção no SIN, com destaque para a proteção de perda de sincronismo (PPS) e o Erac, foram sensibilizadas de modo a evitar oscilações no sistema após a ocorrência do distúrbio inicial. As indicações preliminares são de que a atuação dessas proteções foi correto.”

Quantos estados foram afetados?

Todos os estados e o Distrito Federal foram afetados com exceção de Roraima, que não está conectada ao SIN.

Considerando as regiões do país, foram suspensas as cargas da região Norte, parte da região Nordeste e houve cortes controlados de carga (Erac) em parte dos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Sul.

A energia foi totalmente restabelecida?

Segundo o ONS, a normalização das cargas da região Sul foi concluída às 9h05min e nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, às 9h33min. O fornecimento de energia foi totalmente normalizado no Brasil às 14h49min.

O ONS identificou uma série de problemas nas transmissoras e distribuidoras que levaram ao atraso no restabelecimento da energia. Desde agentes que não sabiam como proceder, aos que não atenderam telefone e equipamentos desatualizados que não tiveram o comportamento adequado. As falhas ocorreram principalmente no Norte e Nordeste, que levaram mais tempo para voltar ao normal.

O que causou o apagão?

O Operador Nacional do Sistema (ONS) afirmou que apenas o desligamento inesperado da linha Quixadá-Fortaleza II não seria suficiente para provocar o corte de carga e os efeitos sistêmicos que vieram em seguida.

O motivo é que o sistema elétrico brasileiro trabalha com o critério n-1, o que garante redundância. Ou seja, quando ocorre uma interferência em algum ponto, há uma alternativa para evitar a interrupção no suprimento de energia.

Inicialmente, não foram encontradas outras causas que motivassem o apagão, o que levou a Polícia Federal a abrir um inquérito para investigar o ocorrido.

Após fazer novas simulações, o ONS verificou que as usinas próximas tiveram um “desempenho abaixo do esperado” ao controlar a tensão. Esse funcionamento inadequado do controle de tensão provavelmente desencadeou os procedimentos que levaram ao corte da energia elétrica no resto do país.

“Após aprofundar as avaliações sobre os fatos subsequentes ao desligamento da linha de transmissão Quixadá – Fortaleza II, de propriedade da Chesf e considerada o evento zero da ocorrência, foram encontrados sinais de que as fontes de geração próximas a esta linha de transmissão não apresentaram o desempenho esperado no que diz respeito ao controle de tensão“, informou o ONS em nota ao relatar o resultado da primeira reunião para a elaboração do Relatório de Análise de Perturbação (RAP) com as causas do apagão.

“A linha de investigação mais consistente aponta esse desempenho abaixo do esperado como um segundo evento que desencadeou todo o processo de desligamentos que aconteceram em seguida.” 

Diretor do ONS nega que geração eólica e solar tenha levado ao apagão. Veja a íntegra da participação de Silveira (MME) e Ciocchi (ONS) em audiência pública, na Câmara, transmitida pelo canal da epbr no Youtube:

Na minuta do relatório, o ONS concluiu que os equipamentos de controle de tensão de usinas eólicas e solares não funcionaram como deveriam e que os dados enviados pelos agentes não correspondiam ao comportamento real das plantas. Isso levou aos desligamentos em cascata.

“Esses dispositivos das usinas deveriam compensar automaticamente a queda de tensão decorrente da abertura da linha de transmissão, porém o desempenho no momento da ocorrência ficou aquém do previsto nos modelos matemáticos fornecidos pelos agentes e testados em simulações pelo ONS”, afirma o relatório.

“A diferença entre o desempenho em campo e as simulações não permitiu ao ONS identificar os riscos relacionados ao cenário operativo pré-distúrbio, que resultou nos desligamentos em cascata após a abertura da LT 500 kV Fortaleza II – Quixada.”

Por que as regiões são interligadas?

Especialistas explicam que é justamente a interligação nacional que garante maior flexibilidade e complementaridade no suprimento de energia no país. Isso evitou, por exemplo, que a seca ocorrida no Sul e Sudeste em 2021 levasse a um apagão, pois as usinas eólicas conseguiram compensar a menor geração hidrelétrica.

“O sistema interligado é a nossa força, mas ele precisa de manutenção, planejamento, expansão de acordo com o crescimento da carga e com o tipo de geração que está entrando”, diz Ferraz.

O que poderia ter sido feito para evitar o incidente?

O ONS apontou uma série de providências a serem tomadas pelos 122 agentes, assim como para os geradores eólicos e fotovoltaicos minuta do Relatório de Análise de Perturbação (RAP). Ao todo, foram centenas de apontamentos que os agentes e o Operador terão de implementar até julho de 2024.

As providências vão desde ajustes em proteções, passando por problemas na comunicação com os agentes no momento da recomposição, até a validação dos modelos matemáticos de todos os geradores eólicos e fotovoltaicos, entre outras.

Além disso, enquanto não tem os dados corretos das usinas, o ONS ajustou sua base de dados para representar a eficiência real desses parques durante eventuais perturbações. Também definiu novos parâmetros de intercâmbios e adotou medidas na região Nordeste com o objetivo de assegurar a estabilidade operacional do SIN. Essa medida, inclusive, já causou reação dos geradores do Nordeste, que ameaçam judicializar a questão.