RIO – A ampliação do mercado livre de energia elétrica aos clientes de baixa tensão vai tornar os consumidores mais engajados no processo de transição energética, acredita o CEO da Prime Energy, Guilherme Perdigão. Para o executivo, o empoderamento dos clientes, com a possibilidade de escolha do fornecedor de energia, é fundamental na transição para uma economia de baixo carbono.
Aberto apenas aos clientes de média e alta tensão no Brasil hoje, o mercado livre possibilita escolher o supridor da energia elétrica, diferentemente do mercado regulado, no qual todos são atendidos pelas concessionárias regionais. Nos últimos anos, a liberação ocorreu de forma gradual, de acordo com o nível de consumo.
A expectativa é que a proposta legislativa de abertura total para a entrada também de consumidores residenciais seja enviada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) ao Congresso ainda este ano.
Para Perdigão, eventuais mudanças regulatórias que contribuam para a abertura do mercado são positivas, desde que respeitem os contratos estabelecidos e tragam segurança jurídica.
“Empoderar o consumidor da escolha é a coisa certa a fazer, porque promove inovação tecnológica, competição, redução de custo e engaja o cliente no processo de transição energética”, disse em entrevista à agência epbr.
Mercado em expansão
A Prime Energy foi comprada pela Shell em 2023. A aquisição faz parte da estratégia da petroleira de expandir a oferta de energia renovável no portfólio, na ambição por atingir a neutralidade de carbono em 2050.
O Brasil é hoje um dos países prioritários para a Shell no crescimento no segmento de energia elétrica, junto com Austrália e Estados Unidos. Contribuem para isso as perspectivas de crescimento de forma rentável e a abertura do mercado livre, assim como a alta participação das fontes renováveis na matriz e a interligação nacional.
“É um mercado em franco crescimento, o que é muito bom. Você consegue servir os clientes no Brasil todo através do sistema único”, destacou Perdigão.
Segunda maior produtora de petróleo e gás do Brasil, a Shell deu o primeiro passo no setor de energia elétrica do país em 2017, quando montou uma mesa de comercialização. Em seguida, a empresa tomou a decisão de investimento na usina termelétrica Marlim Azul, em Macaé (RJ), em parceria com a Pátria Investimentos e a Mitsubishi Power. A usina começou a operar em 2023 e é a primeira do país a ser abastecida com gás natural do pré-sal.
Com a compra da Prime, o grupo passou a ter acesso direto aos consumidores de eletricidade no país. A Prime tem cerca de 40 mil clientes. O objetivo é chegar a 60 mil consumidores em quatro anos.
Ampliação de portfólio
A maior parte dos clientes hoje são atendidos pelo negócio de geração distribuída. Para os consumidores de baixa tensão, que ainda não podem migrar para o mercado livre, a companhia oferece a “energia por assinatura”, serviço no qual o cliente paga uma assinatura mensal em troca dos créditos gerados por uma usina solar fotovoltaica instalada na mesma concessão da distribuidora à qual está ligado.
No momento, a comercializadora negocia geração não apenas do grupo Shell, mas também de outros fornecedores. O crescimento do braço de comercialização pode incentivar a companhia a ampliar o portfólio de geração no Brasil nos próximos anos.
“A decisão de investimento e o modelo de negócio da Prime não depende de um investimento adicional da Shell em geração, mas à medida que o negócio for crescendo, pode destravar outras oportunidades de investimento do grupo no Brasil em geração”, afirmou o executivo.
O crescimento do mercado livre tem atraído empresas de diferentes segmentos, como companhias do setor financeiro. Perdigão também disse ver com bons olhos a entrada de novos players no mercado.
“É super positiva a participação de players como bancos ou de outras empresas com os recursos necessários para promover soluções cada vez mais inovadoras, mais sólidas, com maior confiabilidade para o consumidor”, disse.