Diálogos da Transição

América Latina tem 319 GW em renováveis anunciadas até 2030; Brasil lidera

Relatório do GEM mostra que a região tem potencial para aumentar sua capacidade de energia solar e eólica em mais de 460%

Portos, transmissão e regulação são incertezas para eólicas offshore no Brasil. Na imagem: Turbinas eólicas em alto mar para geração offshore (Foto: Enrique/Pixabay)
Potencial de eólicas offshore no Brasil é superior a 700 GW, calcula EPE (Foto: Enrique/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Relatório do Global Energy Monitor (GEM) mostra que a América Latina tem potencial para aumentar sua capacidade de energia solar e eólica em mais de 460% até 2030 se todos os 319 gigawatts (GW) de novos projetos em grande escala anunciados, em pré-construção ou em construção entrarem em operação.

Isso representa um crescimento de quase 70% em relação à capacidade elétrica atual da região considerando todas as fontes (457 GW).

O Brasil lidera, com um potencial de 217 GW – 57 GW de parques solares, 160 GW de eólicas onshore e offshore. Só em eólicas offshore o país tem mais de 176,5 GW em projetos com pedidos de licenciamento no Ibama.

Em seguida vem Chile (38 GW), Colômbia (37 GW), Peru (10 GW) e México (7 GW) com anúncios em renováveis até 2030.

Hoje, Brasil, Chile, Colômbia e México representam quase 84% dos 69 GW existentes de parques solares e eólicos em escala de utilidade atualmente em operação na região.

Mas enquanto Brasil, Chile e Colômbia estão na vanguarda da corrida renovável, o México ficou para trás; em última análise, deve atingir apenas 70% de sua promessa de trazer 40 GW de energia solar e eólica até 2030, diz o estudo.

Há pelo menos cinco motivos para o otimismo em relação aos três líderes: leilões de energia bem estabelecidos, abertura ao investimento privado, potencial econômico das exportações de hidrogênio verderedução do custo das instalações solar e eólica e respostas políticas às mudanças climáticas.

Se todos esses 319 GW saírem do papel, a AL ficará atrás apenas da Ásia Oriental, puxada pela China, na corrida por energia verde.

“A corrida pelas energias renováveis está se acelerando rapidamente, o que significa que países que fizeram mais esforços até aqui, como Brasil e Colômbia, devem permanecer vigilantes enquanto criam projetos solares e eólicos em larga escala”, observa Sophia Bauer, pesquisadora da GEM.

Abrindo caminhos para o hidrogênio verde

Com potencial excedente de energia, os países latino-americanos estão na mira dos investimentos internacionais para produção de hidrogênio verde e exportação de derivados como amônia, metanol e combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).

Chile, Colômbia, Uruguai, Equador, Argentina, Paraguai e Brasil são exemplos de países que adotaram ou estão elaborando estratégias nacionais de hidrogênio.

“De 2020 a 2021, o mercado global de hidrogênio foi avaliado em US$ 130 bilhões e espera-se que cresça mais de 9% ao ano até 2030. Os acordos de hidrogênio verde, como os que o Chile assinou com os portos da União Europeia, são uma abordagem para garantir que a América Latina possa garantir uma parcela desse mercado em crescimento”, analisa o GEM. Veja na íntegra (.pdf)

Chile e Colômbia estão avançados em suas estratégias. Em janeiro, os dois países firmaram um acordo para desenvolver o mercado regional.

O Brasil, apesar do enorme potencial e dos projetos que se multiplicam nos portos, ainda ensaia seu plano.

Desafios de transição justa

Tanta energia também carrega desafios de transição justa, avalia Cristina Amorim, coordenadora do Plano Nordeste Potência.

“O país precisa fazer algumas lições de casa — em especial, planejar a expansão lado a lado e com o respeito a comunidades rurais e tradicionais, além de cuidar dos impactos ambientais. Atrás dos gigawatts, há oportunidades para o país crescer de forma sustentável e responsável”, defende.

E de transmissão

Publicado no início deste ano, estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) recomenda aproximadamente 6.000 km de novas linhas de transmissão e 11 novas subestações de Rede Básica, investimentos estimados em R$ 20,75 bilhões nos próximos anos.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Desmatamento recorde outra vez

A área desmatada na Amazônia Legal em fevereiro foi de 322 km², mostra o Deter/Inpe. O aumento é de 62% em relação ao mesmo período do ano passado e de 93% em relação ao mês de janeiro de 2023. A área de desmatamento registrada para o mês de fevereiro foi a maior da série histórica desde 2015

No Cerrado, a área desmatada em fevereiro foi ainda maior: 558 km², o maior número desde 2018 para o mês de fevereiro – aumento de 99% em relação a fevereiro do ano passado e de 26% em relação ao mês de janeiro deste ano, que também já vinha em uma tendência de alta.

“É urgente que os planos do governo para o combate ao desmatamento saiam do papel para a efetivação das políticas de proteção ambiental e fortalecimento dos órgãos de fiscalização e controle”, alerta Mauro Armelin, diretor executivo da Amigos da Terra.

Frete aéreo com SAF

Clientes da empresa alemã de logística Dascher poderão optar pelo uso de combustível sustentável de aviação no frete de suas remessas. Segundo a Dascher, para o lançamento do serviço já em março de 2023, a empresa garantiu um grande estoque de SAF para disponibilizar em todas as suas rotas no mundo, a um preço acessível.

Como forma de assegurar a credibilidade da redução de CO2, que chega a 30% por remessa, o cliente recebe um relatório de emissões e um certificado anual com emissões poupadas, quantidade de combustível usado e a base exata da matéria-prima do SAF.

Só elétricos

A Mitsubishi Motors planeja que os veículos elétricos híbridos e a bateria respondam por todas as vendas de carros novos até meados da década de 2030, em uma estratégia de eletrificação agressiva para se manter competitiva nos principais mercados. Reuters

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