Mercado de gás

Alexandre Silveira defende importação de gás argentino

“A guerra da Rússia com a Ucrânia acendeu, e não foi a luz amarela, foi a luz vermelha para o mundo”, afirma

HOUSTON – O Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), defendeu a importação de gás natural da Argentina como maneira de garantir a segurança energética brasileira. É “inadmissível” o Brasil ficar sujeito a choques na oferta de gás natural, afirmou.

Por isso, ele voltou a defender a produção nacional em terra e os avanços nas tratativas para importar a produção argentina.

“Porque nós precisamos nos tornar autossuficientes. A guerra da Rússia com a Ucrânia acendeu, e não foi a luz amarela, foi a luz vermelha para o mundo. Quando a Rússia cortou o gás da Europa é que começou a se fazer o grande debate da sustentabilidade e da soberania dos países na questão energética”, disse o ministro.

Alexandre Silveira falou com exclusividade ao estúdio epbr, na terça (19/3), durante a CERAWeek 2024, da S&P Global, no Texas. Veja acima a íntegra da entrevista.

O Ministério de Minas e Energia (MME) integrou, recentemente, uma comitiva brasileira na Argentina que se reuniu com produtores locais. Na ocasião, se discutiu o uso da infraestrutura existente que interliga os países por meio do Gasbol, gasoduto Bolívia-Brasil, da TBG.

O gasoduto é uma porta de entrada possível para o gás argentino, via Mato Grosso do Sul. A infraestrutura já existente atualmente é ociosa e possui gasodutos interligados tanto com a Argentina quanto com o Brasil.

“Estamos discutindo agora, por exemplo, e achamos que nós não podemos fechar a porta para todas as possibilidades, a questão da utilização do gasoduto da Bolívia para ver se a gente consegue ampliar a oferta e a possibilidade de trazer gás de Vaca Muerta”, afirmou Silveira.

A missão brasileira a Buenos Aires foi organizada com o objetivo de abrir as conversas e entender melhor as perspectivas do país vizinho, após a mudança do governo local.

Ainda não foi o momento de se colocar propostas na mesa, mas os argentinos prometeram um gás competitivo.

Outra alternativa seria a conexão direta pela TSG, no Rio Grande do Sul, com a construção de um gasoduto no Brasil, interligando Uruguaiana a Porto Alegre.

No ano passado, o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB) afirmou à epbr que estava buscando o diálogo com o governo federal, para garantir a importação do gás natural argentino de Vaca Muerta pelo estado.

O governador chegou a visitar pessoalmente a Casa Rosada, ainda sob administração do ex-presidente argentino Alberto Fernandez, para discutir o tema.

“Estamos advogando, especialmente junto ao Ministério de Minas e Energia, para que, no que diz respeito aos investimentos que o governo brasileiro se propôs a fazer através do BNDES na Argentina, por exemplo, os gasodutos de Vaca Muerta tenham a priorização da entrada desse gás pelo Rio Grande do Sul, e não simplesmente sejam levados a Bolívia para, pelo Gasbol, fazer a transmissão – o que imporia um intermediário, um terceiro elemento [a Bolívia]”, disse Eduardo Leite, na ocasião, à agência epbr.

Garantir que o gás da Argentina chegue pelo Rio Grande do Sul pode significar, para o estado, investimentos em infraestrutura de gás e produção de fertilizantes, além de mais arrecadação de ICMS com a importação.

A retomada das conversas sobre a integração energética entre Brasil e Argentina reacendeu a expectativa de que o gasoduto de 615 km de extensão, entre Porto Alegre (RS) e Uruguaiana (RS), na fronteira com o país vizinho, saia, enfim, do papel.

O projeto da Transportadora Sulbrasileira de Gás (TSB) remonta aos anos 1990 e permitiria a conexão da Argentina com a malha integrada do Brasil – e significaria também mais uma fonte de suprimento para o Rio Grande do Sul, cuja demanda, reprimida, sofre com gargalos logísticos.

Confira a cobertura do estúdio epbr na CERAWeek 2024