BRASÍLIA — A Airbus anunciou na última semana o lançamento de um centro de desenvolvimento zero emissões (ZEDC, na sigla em inglês) para tecnologias de hidrogênio no Reino Unido.
Uma das prioridades será o desenvolvimento de um sistema de combustível criogênico com custo competitivo para a entrada em serviço das aeronaves de passageiros ZEROe da Airbus até 2035. Também pretende acelerar a participação do Reino Unido no mercado de tecnologias de propulsão a hidrogênio.
No sistema de combustível criogênico, o hidrogênio é liquefeito a uma temperatura muito baixa, o que facilita seu transporte
Segundo a fabricante europeia de aeronaves, o ZEDC será incluído no programa do governo do Reino Unido que deve destinar 685 milhões de libras em financiamento ao Instituto de Tecnologia Aeroespacial (ATI) nos próximos três anos para apoiar tecnologias de aeronaves de emissão zero e ultrabaixas.
Responsável por 2,5% das emissões globais de CO₂, com as emissões dobrando desde a década de 1980, a aviação internacional assumiu compromisso de crescimento neutro de emissões — a partir de 2021 de forma voluntária, em 2027 obrigatória.
Sabine Klauke, diretora técnica da Airbus, explica que o projeto pretende explorar o potencial da tecnologia de hidrogênio para apoiar a descarbonização da indústria da aviação.
A proposta é expandir as capacidades industriais da Airbus para fabricar tanques de armazenamento de hidrogênio criogênico e sistemas relacionados para o projeto ZEROe nos outros quatro países europeus onde a companhia tem instalações — Países Baixos, França, Alemanha e Espanha.
O desenvolvimento de tecnologia no novo ZEDC, com sede em Filton, Bristol, já começou e cobrirá todos os recursos do produto, desde componentes até todo o sistema e testes criogênicos. A tecnologia é complexa e crucial para o desempenho de uma futura aeronave a hidrogênio, completa Klauke.
A Airbus já vem trabalhando em tanques de hidrogênio líquido em ZEDCs em Madri, Espanha e Stade, Alemanha (tecnologias de estrutura composta) e em Nantes, França e Bremen, Alemanha (tecnologias estruturais metálicas).
A expectativa é ter todos os centros operando completamente e prontos para testes em solo com o primeiro tanque de hidrogênio totalmente funcional já no ano que vem. Os primeiros testes de voo devem ocorrer em 2026.
Hidrogênio verde em 2035
Em março, Airbus e Fortescue Future Industries (FFI) fecharam um acordo para avaliar a redução de emissões de CO₂ da aviação com o uso de hidrogênio verde.
Um dos objetivos da parceria é colocar uma aeronave à base de hidrogênio em operação até 2035.
As empresas criaram uma força-tarefa para analisar “os desafios em torno das regulamentações de hidrogênio verde, infraestrutura e cadeias de suprimentos globais” — desde a produção até a entrega em aeroportos e abastecimento de aeronaves.
A Fortescue fornecerá perspectivas de custo e tecnologia ao longo da cadeia de suprimentos. Também construirá cenários de implantação de infraestrutura de fornecimento para aeroportos alvo.
Já a Airbus apresentará características de consumo de energia da frota, cenários para demanda de hidrogênio na aviação, especificações de reabastecimento e estrutura regulatória da aviação.
“A Airbus identificou o hidrogênio verde como a opção mais promissora de descarbonização para enfrentar nossos desafios ambientais. Estamos iniciando a revolução da aviação verde”, disse Glenn Llewellyn, vice-presidente de aeronaves de emissão zero da Airbus.
SAF de hidrogênio no Brasil
Brasil e Alemanha também estão de olho no potencial do hidrogênio na aviação.
A Agência Técnica de Cooperação Alemã GIZ e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) estão desenvolvendo uma planta piloto para produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) a partir de biogás e hidrogênio verde em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Com previsão de começar a funcionar em meados de 2023, o projeto conta com investimentos na ordem de R$ 9 milhões. A produção será em escala laboratorial, mas a proposta é desenvolver um modelo que possa ganhar escala e ter os processos replicados.
Outro produto da biorrefinaria piloto será o petróleo sintético renovável.
“Uma vez que todo o território brasileiro tem disponibilidade de biomassa residual, a solução proposta pelo projeto pode ser replicada em todo o país, oferecendo uma oportunidade para a produção descentralizada de combustíveis neutros em carbono”, comenta Markus Francke, diretor do projeto H2Brasil da GIZ.
Para o executivo, o Brasil pode se apresentar como líder na transição energética.
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