Agendas da COP

Agenda da COP28 propõe dobrar a produção de hidrogênio até 2030

CEO da Adnoc reconhece que abandonar fósseis é inevitável e insta petroleiras a diversificar portfólio

Agenda da COP28 propõe dobrar a produção de hidrogênio até 2030. Na imagem: Sultão Ahmed al-Jaber, CEO da petroleira estatal dos Emirados Árabes, Adnoc, será o presidente da conferência climática da ONU em 2023 – COP28 (Foto: Divulgação)
O sultão Ahmed al-Jaber, CEO da petroleira estatal Adnoc, será o presidente da COP28, conferência climática das Nações Unidas em 2023 (Foto: Divulgação)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Presidente da COP28, o sultão Ahmed al-Jaber divulgou nesta quinta (13/7) a agenda de negociações para a principal cúpula global sobre o clima, incluindo ambição de triplicar a produção de energia renovável e dobrar a produção de hidrogênio até 2030 para acelerar a transição.

Além de dobrar o financiamento, até 2025, para compensar os países pobres atingidos por eventos extremos causados pela elevação da temperatura da Terra.

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 (COP28) ocorre em novembro deste ano nos Emirados Árabes Unidos, país que tem o petróleo como importante motor da economia.

O plano de trabalho divulgado hoje por al-Jaber, que também é CEO da petroleira estatal Adnoc, tem quatro pilares: acelerar a transição energética responsável, corrigir o financiamento climático, focar os esforços de adaptação nas pessoas e meios de subsistência e tornar a COP “totalmente inclusiva”.

Ao mesmo tempo em que reconheceu que abandonar as energias fósseis é “inevitável e essencial”, o executivo disse que não tem “uma varinha mágica” para determinar o ritmo de abandono dos combustíveis fósseis. E instou as empresas a diversificar o portfólio.

“Temos que ter cuidado, não devemos criar uma crise energética”.

A nomeação de al-Jaber para presidir o evento da ONU é cercada de críticas desde o início. Grupos ambientalistas temem que a conferência falhe em construir os acordos necessários – e urgentes – para enfrentamento da crise climática já em curso.

Na reunião de hoje com ministros do clima de países como Brasil, China e Estados Unidos na Bélgica, o sultão argumentou que o ritmo de desenvolvimento e crescimento do novo sistema energético não acompanha as necessidades dos países emergentes.

“As economias estão crescendo, as populações estão crescendo. Não podemos eliminar o sistema energético atual antes de construir o sistema de amanhã, com zero emissão de CO2”.

O que diz o plano de trabalho

Segundo o sultão, o objetivo central será manter 1,5ºC ao alcance. Nada fácil, já que o próprio reconhece que os acordos e medidas adotados desde o Acordo de Paris, em 2015, não atendem “à urgência do momento”.

“Hoje, estou convocando todos nós a interromper os negócios como sempre, unir-nos em torno de uma ação decisiva e alcançar resultados que mudam o jogo”.

Renováveis e hidrogênio

O primeiro pilar é acelerar a transição, para triplicar a produção de energia renovável e a dobrar a produção de hidrogênio até 2030, instando as empresas de petróleo e gás a diversificar para energias limpas.

Nesse sentido, defende uma abordagem holística, que reúna a oferta e a demanda em uma resposta integrada.

“Precisamos usar todas as ferramentas de redução de emissões disponíveis, incluindo tecnologias nucleares, de armazenamento de baterias e captura e remoção de carbono, especialmente para os setores mais difíceis de reduzir”, disse o presidente designado.

Transição justa

Financiamento é o segundo. A Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) estima que os investimentos anuais em energia limpa precisarão mais do que triplicar até 2030, nos países de renda média e baixa.

Significa saltar dos US$ 770 bilhões em 2022 para até US$ 2,8 trilhões no início da próxima década.

Al-Jaber pediu uma “transformação abrangente” do financiamento climático, com foco no Sul global para garantir que essas tenham acesso a recursos para sua transição energética.

A presidência da COP28 já está trabalhando com o FMI, o Banco Mundial e o GFANZ (aliança do setor financeiro para o net zero) para padronizar os mercados voluntários de carbono e incentivar o capital privado e o financiamento.

O presidente designado da COP28 também pediu que os países ricos dobrem o financiamento para adaptação até 2025, para ajudar os mais vulneráveis a suportar os impactos da mudança do clima – além de fecharem a lacuna dos US$ 100 bilhões este ano.

Adaptação focada nas pessoas

A proposta é promover o foco mundial na natureza, alimentação, saúde e resiliência como parte de uma estrutura robusta para o Objetivo Global de Adaptação.

O primeiro dia da COP28 será dedicado à saúde. A organização está construindo uma parceria com a Organização Mundial da Saúde, Alemanha, Quênia, Reino Unido, Egito, Brasil e Fiji para direcionar as discussões.

O sultão também pediu aos governos que integrem os planos de Transformação do Sistema Alimentar Nacional em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e nos planos de Adaptação Nacional.

Mais inclusiva?

A COP27, em novembro do ano passado, no Egito, foi marcada pelo aumento no número de lobistas da indústria fóssil presentes no evento. A deste ano, nos Emirados Árabes, presidida por um CEO do petróleo, acendeu o mesmo alerta entre os ativistas ambientais.

Mas al-Jaber disse hoje que esta será a COP mais inclusiva até agora, com o maior programa de jovens delegados do clima e um pavilhão designado para povos indígenas, além de um número histórico de prefeitos e líderes locais inscritos para apresentar as ações climáticas que estão conduzindo em nível subnacional.

Cobrimos por aqui:

Como o clima extremo está afetando o mundo?

Cerrado mais seco

Estudo publicado na última terça (11/7) no periódico Scientific Reports indica que o Cerrado, segundo maior bioma brasileiro, teve reduções importantes nas suas chuvas nos últimos 30 anos. Isso impacta diretamente grandes polos agrícolas, como Barreiras e Correntina, na Bahia, que perderam 15,2% e 11,7% das chuvas, respectivamente.

Brasília, a capital federal, teve 1,5% de redução na precipitação média no período – e já racionou água na década passada. O oeste baiano é uma das regiões que mais perderam chuva – e ganharam soja – nas últimas décadas. Observatório do Clima

Seca na Espanha

O país está passando por mais uma onda de calor este ano, e a seca é tão extrema que praticamente nenhum aspecto da vida cotidiana ficou intocado, relata a Bloomberg:

– Os pratos são deixados sem lavar durante a noite, quando a quantidade de água acaba. Vacas criadas para carne gourmet correm o risco de passar sede. Os turistas que se dirigem para um destino de esportes aquáticos encontram lama dura.

– Essas cenas duras estão ocorrendo enquanto a Europa enfrenta seu período mais seco em pelo menos 500 anos, uma situação que se tornou mais provável – e pior – pelas mudanças climáticas.

A temperatura do solo em algumas áreas da Espanha atingiu mais de 60°C durante a onda de calor, mostraram gravações de satélite – estava tão quente que um mapa de calor que destaca temperaturas escaldantes em vermelho ficou preto.

Recordes de temperatura foram quebrados na maior parte do continente europeu, incluindo França, Suíça, Alemanha e Itália, onde máximas de 40°C foram registradas novamente na quarta-feira (12/7). Independent

Ondas de calor elevam dependência de fósseis

Na França, as altas temperaturas dos rios ameaçam a produção de energia em duas usinas nucleares, que usam água do rio para resfriar reatores. A queda na geração pode desencadear um aumento na produção de energia movida a combustível fóssil. Reuters

Na Ásia, as importações de carvão do Vietnã subiram para o nível mais alto em três anos no primeiro semestre de 2023, também em consequência de uma onda de calor que aumentou o uso de ar-condicionado.

A necessidade de acomodar o rápido crescimento da carga reverteu temporariamente a guinada do país em direção às renováveis. O carvão representou uma média de 38% da geração de eletricidade do Vietnã em 2022, mas sua participação no mix de geração aumentou para mais de 50% em março. Reuters