As ações das distribuidoras estaduais de gás natural, que conseguiram na Justiça manutenção das condições dos contratos que terminam nesta sexta (31/12), abalam a segurança jurídica do ambiente de negócios, “interferindo na livre formação de preços, colocando em risco a implementação da própria abertura do mercado de gás natural no Brasil e atração de investimentos no país”, informou nesta quinta (30) a Petrobras em nota à imprensa.
“Para exemplificar a competição que se instaurou no mercado, é possível citar diversas notícias sobre a existência de contratos com vigência a partir de 1 de janeiro, firmados por distribuidoras e consumidores livres com outros fornecedores, tais como Shell, Petrogal, Potiguar E&P, entre outros. Além disso, esses produtores firmaram contratos com a TAG para levar seu gás ao mercado consumidor”, diz a empresa em nota.
A estatal afirmou ainda que esteve, por vários meses, engajada em negociações de novos contratos com as distribuidoras para oferecer melhores condições e mecanismos contratuais para reduzir a volatilidade dos preços, como, por exemplo, referência de indexadores ligados ao GNL e ao Brent.
“No entanto, apesar do processo de negociação conduzido entre a Petrobras e as distribuidoras, como prevê qualquer relação comercial e em observância ao estabelecido nas Chamadas Públicas, a Petrobras foi surpreendida pela judicialização do tema”, disse a estatal. (Veja a íntegra da nota abaixo)
O conflito ocorre após a negociação feita ao longo de 2021 para os novos contratos, que atualizaram os preços do gás natural, tornando o energético 50% mais caro, em média.
Liminares foram concedidas em Alagoas, Ceará, Rio de Janeiro e Sergipe, até o momento.
Nesta quarta (29/12), o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (sem partido), anunciou que o estado foi à Justiça contra o reajuste no preço do gás natural proposto pela Petrobras para as distribuidoras de gás a partir do próximo sábado (1/1).
“Vamos entrar ainda hoje com uma ação judicial contra o aumento, em defesa da modicidade tarifária e das condições adequadas para o desenvolvimento econômico de Santa Catarina”, comentou em sua conta no Twitter.
Petrobras notificada no Rio
A Petrobras informou ainda que foi notificada nesta quinta (30), pela Justiça do Rio de Janeiro, de decisões liminares que determinaram a manutenção das condições dos contratos celebrados entre Petrobras e CEG e CEG RIO.
A empresa reiterou que vai recorrer contra todas as decisões judiciais que impedem a aplicação dos novos contratos.
“Também foram proferidas decisões liminares semelhantes para manutenção das condições contratuais referentes às distribuidoras CEGÁS (Companhia de Gás do Ceará), SERGÁS (Sergipe Gás S.A.) e ALGÁS (Gás de Alagoas S.A.), cujos respectivos contratos também se encerram em 31 de dezembro de 2021”, disse a empresa.
Gás natural chegou a subir 500%
Para as distribuidoras, o fato de a Petrobras terminar como a única supridora em diversas concorrências para atendimento ao mercado cativo demonstra que as condições para concorrência no suprimento não foram atingidas e o mercado continua fechado.
A Petrobras ressalta que ela tem avançado com os compromissos firmados com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), para abertura do mercado, e que as propostas foram flexibilizadas em diversos pontos para assinatura dos contratos pós-2022.
“Petrobras ofereceu às distribuidoras de gás natural produtos com prazos de 6 meses, 1 ano, 2 anos e 4 anos e mecanismos contratuais para reduzir a volatilidade dos preços, como, por exemplo, referência de indexadores ligados ao GNL e ao Brent, opção de parcelamento e possibilidade de redução dos volumes nos contratos de maior prazo”, diz a empresa.
Outra crítica das distribuidoras é que a contrapartida pelos menores reajustes oferecidos são os contratos mais longos, de quatro anos.
A Petrobras diz também que a questão envolve cerca de metade das distribuidoras, que optaram por assinar, no passado, contratos vencendo em 2022.
Nos mercados em que o gás está contratado nas condições anteriores, os termos estão mantidos.
“Algumas distribuidoras de gás fizeram a opção nos últimos anos por contratos de curto prazo e, por isso, não possuíam ainda fornecimento contratado para o ano de 2022”.
O conflito no mercado doméstico acompanha uma crise global de preços, que provocou um deslocamento dos preços do gás dos barris de referência do petróleo, com o repique da demanda e choques na oferta internacional.
“A alta demanda por GNL e limitações da oferta internacional resultaram em expressivo aumento do preço internacional do insumo, que chegou a subir cerca de 500% em 2021”, diz a Petrobras.
Veja o comunicado da Petrobras, na íntegra
Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 2021 – A Petróleo Brasileiro S.A. – A Petróleo Brasileiro S.A.- Petrobras informa que foi intimada, nesta data, de decisões liminares proferidas pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro que determinaram a manutenção das condições dos contratos celebrados entre Petrobras e distribuidoras estaduais (CEG e CEG RIO), cuja vigência terminará em 31/12/2021, impedindo a adequação dos preços à realidade atual da indústria de gás a partir de janeiro/2022.
Também foram proferidas decisões liminares semelhantes para manutenção das condições contratuais referentes às distribuidoras CEGÁS (Companhia de Gás do Ceará), SERGÁS (Sergipe Gás S.A.) e ALGÁS (Gás de Alagoas S.A.), cujos respectivos contratos também se encerram em 31/12/2021.
A Petrobras esclarece que atende seus contratos de venda de gás por meio de um portfólio de ofertas composto por produção nacional e importação do gás da Bolívia e de Gás Natural Liquefeito – GNL. A alta demanda por GNL e limitações da oferta internacional resultaram em expressivo aumento do preço internacional do insumo, que chegou a subir cerca de 500% em 2021.
Há vários meses, a Petrobras está engajada, de boa-fé, em negociações de novos contratos com diversas distribuidoras. Para oferecer melhores condições aos clientes, a Petrobras ofereceu às distribuidoras de gás natural produtos com prazos de 6 meses, 1 ano, 2 anos e 4 anos e mecanismos contratuais para reduzir a volatilidade dos preços, como, por exemplo, referência de indexadores ligados ao GNL e ao Brent, opção de parcelamento e possibilidade de redução dos volumes nos contratos de maior prazo.
No entanto, apesar do processo de negociação conduzido entre a Petrobras e as distribuidoras, como prevê qualquer relação comercial e em observância ao estabelecido nas Chamadas Públicas, a Petrobras foi surpreendida pela judicialização do tema.
A Petrobras entende que essas decisões abalam a segurança jurídica do ambiente de negócios, interferindo na livre formação de preços, colocando em risco a implementação da própria abertura do mercado de gás natural no Brasil e atração de investimentos no país.
Para exemplificar a competição que se instaurou no mercado, é possível citar diversas notícias sobre a existência de contratos com vigência a partir de 01/01/2022, firmados por distribuidoras e consumidores livres com outros fornecedores, tais como Shell, Petrogal, Potiguar E&P, entre outros. Além disso, esses produtores firmaram contratos com a Transportadora (TAG) para levar seu gás ao mercado consumidor.
A Companhia adotará todas as medidas jurídicas cabíveis em relação aos casos judiciais noticiados.