Agendas da COP

Ação lenta faz custo de adaptação climática dobrar

Gap de financiamento para a adaptação é estimado em uma faixa de US$ 194 bilhões a US$ 366 bilhões por ano

Ação lenta no financiamento dobra o custo de adaptação às mudanças climáticas. Na imagem: Vista de grande banco de areia aparente devido a baixa vazão por conta da seca no Rio Madeira, na Bacia Amazônica; com pequena embarcação junto à margem e, ao lado, três pessoas conversam (Foto: Defesa Civil/AM)
Seca no Rio Madeira, na Bacia Amazônica (Foto: Defesa Civil/AM)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Os países de renda média e baixa vão precisar de algo entre US$ 215 bilhões a US$387 bilhões anualmente, ainda nesta década, para se adaptarem às mudanças climáticas, estima o mais recente relatório sobre o estado do financiamento da adaptação no mundo, divulgado pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

A menos de um mês do início das negociações da COP28, a agência da ONU destaca que as necessidades de capital desses países superam de 10 a 18 vezes o fluxo de financiamento público atual – isso é 50% a mais do que a estimativa anterior.

Como resultado, o atual gap de financiamento para a adaptação é estimado em uma faixa de US$ 194 bilhões a US$ 366 bilhões por ano.

Enquanto os investimentos e ações em adaptação desaceleram, os efeitos das mudanças climáticas estão cada vez mais implacáveis – e a lacuna vai só aumentando.

Em 2023, registros de temperaturas recordes foram quebrados, enquanto tempestades, inundações, secas e ondas de calor causaram devastação em todo o mundo.

Esses impactos – que também são econômicos e da ordem de trilhões de dólares – deveriam ser suficientes para intensificar os esforços para proteger as populações vulneráveis e, ao mesmo tempo, promover cortes rápidos nas emissões de gases de efeito estufa.

A ONU mostra, no entanto, que o progresso na adaptação está estagnando em três áreas críticas: financiamento, planejamento e implementação. 

Adaptação climática diz respeito à capacidade de uma região reduzir a sua vulnerabilidade ambiental e socioeconômica frente às mudanças climáticas.

A falta de ação adequada em relação à mitigação e adaptação está se traduzindo em limitações para a adaptação, algumas das quais podem já ter sido atingidas.

Como resultado, a área de perdas e danos, especialmente no caso de populações mais vulneráveis, vai se tornando ainda mais sensível.

A ONU calcula que as 55 economias mais vulneráveis às mudanças climáticas já experimentaram perdas e danos de mais de US$ 500 bilhões nas duas últimas décadas, e esses custos aumentarão substancialmente até 2050.

Mundo em guerra

Os analistas estão preocupados. As recentes crises geopolíticas contribuem para um olhar pessimista sobre o futuro.

Em 2023, o número de ações de adaptação apoiadas por quatro fundos internacionais de clima diminuiu em relação ao ano anterior, possivelmente devido a fatores como os efeitos da pandemia de covid-19 sobre a economia e o conflito na Ucrânia, diz o Pnuma. O número de ações está estagnado na última década.

“Estamos em uma emergência de adaptação. Devemos agir como tal e tomar medidas para fechar a lacuna de adaptação agora”, declarou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, no lançamento do relatório.

“Todas as partes devem operacionalizar o Fundo de Perdas e Danos na COP28 deste ano. E precisamos de novos compromissos iniciais para lançar o fundo com uma base sólida”, completou.

O problema é que mesmo os compromissos assumidos nas COPs não estão sendo cumpridos.

Os fluxos de financiamento público multilateral e bilateral para a adaptação nos países de renda média e baixa diminuíram 15% em 2021, totalizando cerca de US$ 21 bilhões, de acordo com a ONU.

Naquele ano, os países ricos se comprometeram, na COP26, em Glasgow (Escócia), em dobrar o apoio financeiro à adaptação, passando de US$ 20 bilhões por ano em 2019 para cerca de US$ 40 bilhões por ano até 2025.

E falta destravar os famosos US$ 100 bilhões anuais em financiamento climático para países emergentes ou vulneráveis, prometidos em 2009 e até hoje não entregues.

Novos refugiados

Refugiados climáticos são outra face perversa da inação.

Estimativas do Banco Mundial indicam que, até 2050, cerca de 216 milhões de pessoas poderão ter que deixar suas regiões por causa de desastres ambientais, pela insegurança de morar em climas mais hostis e pelos impactos nas atividades econômicas, como na agricultura, pesca e geração de energia.

Esses deslocamentos populacionais já estão ocorrendo, sobretudo dentro dos próprios países, dizem analistas.

À medida que as alterações no clima se intensificam, a tendência é que as migrações passem a ocorrer cada vez mais entre os países, ampliando o número de refugiados climáticos ou refugiados ambientais.

Entenda quem são essas pessoas e como a mudança climática está obrigando milhões de pessoas a abandonarem suas casas e seus países.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Clima extremo em São Paulo

As fortes chuvas e o vendaval que atingiram o estado na sexta-feira e no sábado (3 e 4/11) deixaram ao menos sete mortos. Também interromperam o fornecimento de energia a cerca de 2,5 milhões de pessoas na Região Metropolitana da capital, um alerta sobre a necessidade de tornar o sistema elétrico mais resiliente a eventos climáticos extremos. Mundo precisa de 80 milhões de km de redes para escoar energia limpa até 2040

Meta sem qualidade

Apenas 4% das principais empresas atendem às diretrizes da ONU para metas climáticas, mostra o consórcio de dados independente Net Zero Tracker.

Metade das 2.000 maiores empresas listadas do mundo estabeleceu a meta de atingir emissões líquidas zero até meados do século, mas apenas uma fração atende às rigorosas diretrizes das Nações Unidas para o que constitui uma promessa de qualidade.

Na América Latina e Caribe, das 42 empresas avaliadas, 29 (67%) não têm metas de emissões líquidas zero.

Para a agenda

Na próxima quinta (9/11), Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Embaixada da Alemanha no Brasil realizam a 24ª edição do encontro internacional Diálogos para um Futuro Sustentável, em Brasília.

O encontro reunirá especialistas para tratar da preparação para o Brasil sediar, em 2025, a principal conferência global anual sobre mudanças climáticas, a COP30. O evento terá transmissão online e tradução simultânea de inglês e português. É necessário fazer inscrição no link.