Congresso

A luz do Sol é sempre o melhor remédio

Com transparência e jogando às claras, as decisões sobre energia que atingem a sociedade seriam menos combatidas, escreve Fernando Teixeirense

Térmica a carvão mineral Candiota 3 (RS), com capacidade instalada de 350 MW (Foto: Divulgação CGT Eletrosul)
Térmica a carvão mineral Candiota 3 (RS), com capacidade instalada de 350 MW (Foto: Divulgação CGT Eletrosul)

A comunicação moderna tem que ser entendida como parte de um processo maior. Ela abrange muito mais do que o texto escrito e a palavra dita. A comunicação mais forte muitas vezes se dá por meio de gestos ou na criação de momento, que se convencionou chamar de photo opportunity, através de ações muitas vezes classificadas como mídia de guerrilha.

Isso é muito visível em movimentos que acabam gerando constrangimento, como à delegação brasileira na COP28, no caso da prorrogação de contratos usinas carvoeiras no sul do Brasil. Nesse caso, o movimento ajudou a gerar aqui no país um debate a partir de movimentos em Dubai.

Assim, é muito importante a integração das estruturas de comunicação e relações institucionais nas empresas, associações e com as esquipes técnicas.

Relivre

Um verdadeiro case de sucesso, por exemplo, que ajudou a comunicar a necessidade da modernização do setor de gás natural no Brasil, particularmente o mercado livre de gás, foi a criação, por um conjunto de associações, do chamado Relivre, um ranking das distribuidoras com regras mais modernas para a competição do setor.

Essa ação começou a partir de um projeto interno da Abrace, mas ganhou dimensão muito maior. Hoje, é referência no mercado, inclusive gerando disputa entre os estados para modernizarem suas legislações e verem isso refletido no ranking.

Nesse caso, a criação do índice trouxe o desenvolvimento do mercado livre para o centro do debate e gerou polêmica, inclusive com críticas à iniciativa. Até as críticas mais ácidas ajudaram o objetivo de comunicação que se pretendia.

Consumidores de energia

Um outro movimento que vem sendo anunciado pela Frente Nacional dos Consumidores de Energia busca reconhecer o valor dos parlamentares que votam a favor dos consumidores de energia.

Importante que esses movimentos tenham critérios objetivos que possam ser reproduzidos e que sejam transparentes e que tenham também boa governança. Mas, a verdade é que a transparência é um vetor importante para garantir a qualidade das decisões tomadas em nome da sociedade, dos consumidores, seja no ambiente do poder, reguladores, federais ou estaduais.

Talvez a falta de transparência seja uma das razões que fez com que apenas 16 deputados tenham votado favoravelmente aos consumidores em recente decisão no caso do Projeto das Eólicas Offshore, que em sua tramitação ganhou adereços como a contração de térmicas a gás natural e a carvão, desnecessárias e mais caras.

Além da prorrogação de subsídios setoriais que oneram os consumidoras e até uma paradoxal contratação de uma térmica produzida a hidrogênio, vinda do etanol e que tem que ser feita no nordeste brasileiro.

Nesse caso, ficou evidente que a comunicação tradicional não surtiu efeito. Uma gigantesca profusão de editoriais e matérias na imprensa, na mídia escrita e na televisão levou os consumidores a serem os campeões morais, mas que não reverberou, até o momento, na hora da decisão no Congresso Nacional.

Vamos ver se agora os consumidores que foram tão bem-sucedidos na comunicação tradicional conseguiram levar o discurso para outros ambientes e mobilizar os parlamenteares para defenderem suas pautas. Com transparência e jogando às claras, as decisões que atingem a sociedade seriam menos combatidas. O debate aberto e participativo ainda é a melhor opção para as decisões do dia a dia.