A gasolina acabou. O preço deve subir

Brasília - Postos de combustíveis ajustam os preços e repassam para o consumidor o aumento da alíquota do PIS e Cofins pelo litro da gasolina(Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Brasília - Postos de combustíveis ajustam os preços e repassam para o consumidor o aumento da alíquota do PIS e Cofins pelo litro da gasolina(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O título te impressionou? Calma, vou te explicar. Obviamente, ainda há gasolina sendo produzida em grande quantidade no Brasil, mas ela não é suficiente para suprir a demanda brasileira há alguns anos, ou seja, somo deficitários na produção de gasolina. Vamos aos números.

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Para se avaliar o consumo de gasolina A é necessário avaliar a produção deste derivado nas refinarias e centrais petroquímicas, bem como sua importação e exportação, de modo a compor o consumo aparente. Assim,

Consumo aparente = Produção refino + Produção Petroquímica + importação – exportação

A produção interna de gasolina A ocorre nas refinarias e centrais petroquímicas, compondo nossa produção total:

Produção total = Produção refino + Produção Petroquímica

Desde 2011, a produção total de gasolina A é inferior ao seu consumo aparente, conforme demonstro no gráfico a seguir, utilizando dados publicados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Consumo e produção de Gasolina A no Brasil 2007-2017 (elaboração própria com dados ANP, 2018)

O consumo de gasolina A que em 2009 era próximo de 18 milhões de m³, passou para 32 milhões de m³ em 2013, um aumento de 78 % em apenas 4 anos. Por que o consumo descolou da produção?

Aumento do consumo

Os principais fatores para o crescimento do consumo de gasolina A no país de 2009 a 2013 são: crescimento da economia no período, aumento da frota de veículos leves e subsídio no preço da gasolina.

– Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB nominal brasileiro em 2009 foi de R$ 3,33 trilhões. Já em 2013, o PIB nominal foi de R$ 5,33 trilhões, o que representa um aumento de 60 % no PIB no período 2009-2013.

– Segundo levantamento da União da indústria da cana-de-açúcar (UNICA), a frota de veículos do ciclo Otto no Brasil em 2009 era próxima de 25 milhões de unidades e alcançou a marca de 33,5 milhões de unidades em 2013, um aumento da frota de 34 % no período 2009-2013.

– Dados dos relatórios mensais do Ministério de Minas e Energia (MME) demonstram que a partir de janeiro 2011 até final de 2014, os preços da gasolina do produtor interno brasileiro (PI) ficaram defasados em relação ao importado (USG), como pode ser verificado na figura 2. Com preços atrativos, o consumo aumenta.

Comparação de preços da gasolina importada com a produzida internamente (Fonte: MME, 2014)

Produção de Gasolina A

A gasolina A é produzida nas refinarias e centrais petroquímicas espalhadas pelo país. São 17 refinarias e 3 centrais petroquímicas. Majoritariamente, a gasolina A é produzida nas refinarias, sendo a produção via petroquímica pequena em comparação. A produção aproximada de gasolina nas refinarias em 2009 foi de 19,7 milhões de m³, enquanto em 2013 foi de 28,6 milhões de m³, um aumento expressivo de 45 %, mas insuficiente para suprir a demanda crescente pelo combustível no período.

Fonte: elaboração própria baseada nos dados da ANP, 2018

É importante ressaltar que o aumento na produção de gasolina A de 2009 a 2013 nas refinarias ocorreu mediante aumento das cargas de petróleo e ajustes operacionais que permitiram tal acréscimo de produção sem que nenhuma nova refinaria fosse construída no país. Só que em 2013 chegou-se ao limite, quando o parque de refino operou a 98 % da sua capacidade (ANP, 2017). Assim, podemos inferir que a capacidade máxima de produção de gasolina A nas refinarias é próxima dos 30 milhões de m³/ano.

Como visto até aqui, o Brasil tinha produção de gasolina A superior ao consumo até 2010. Desde então, as importações desse combustível sempre foram superiores à exportação, gerando déficit comercial, como pode ser observado na figura 3.

Saldo comercial, em barris equivalentes de petróleo (bep), para a Gasolina A no Brasil. (Fonte: elaboração própria baseada em ANP, 2018)

Perspectivas 2018-2028

A análise dos dados nos permite concluir que as refinarias brasileiras não têm capacidade de suprir o mercado de gasolina A nos próximos anos, pois a demanda é maior do que a capacidade instalada para produção deste insumo desde 2011. Até início de 2018, não havia previsão de investimentos em novas refinarias ou em unidades de conversão produtoras de gasolina, como unidades de craqueamento e reforma catalítica, por exemplo, então vamos recorrer cada vez mais a importação. Igualmente, a necessidade crescente de importação de gasolina irá estressar a infraestrutura logística existente, que igualmente precisará de investimentos para dar conta da demanda.

Quando o Brasil voltar a crescer, o que é esperado e desejado, a soma de fatores como maior demanda, produção no limite e logística de importação estressada, fatalmente levará a um aumento nos preços da gasolina A. Aumentos na cotação do barril de petróleo e/ou desvalorização do real frente ao dólar tenderão a pressionar ainda mais o preço do combustível.

Preços mais elevados para a gasolina tornarão outras alternativas mais atrativas: maior uso de biocombustível (etanol), de gás natural veicular (GNV), além dos carros elétricos e híbridos, cuja utilização deve aumentar nos próximos anos. Há ainda aqueles que irão trocar o automóvel por transporte público ou bicicleta, entre outras opções. Seja qual for a sua escolha, prepare-se para o futuro utilizando menos gasolina, ou então prepare o bolso.

REFERÊNCIAS

(ANP) Agência Nacional do Petróleo. Anuário estatístico brasileiro do petróleo, gás natural e biocombustíveis: 2017. Rio de Janeiro: ANP, 2017.

(ANP) Agência Nacional do Petróleo. Dados estatísticos. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/dados-estatisticos>. Acessado em Junho de 2018.

(IBGE) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contas nacionais – PIB em valores correntes. Disponível em: <https://brasilemsintese.ibge.gov.br/contas-nacionais/pib-valores-correntes.html>. Acessado em Junho de 2018.

(MME) Ministério de Minas e Energia. Relatório de mercado de derivados de petróleo. Número 103. Julho de 2014. Pág. 3. Brasília: MME, 2014.

(UNICA) União da Indústria de Cana-de-açúcar. Frota brasileira de autoveículos leves (Ciclo Otto). Disponível em: <http://www.unicadata.com.br/listagem.php?idMn=55>. Acessado em Junho de 2018.