RIO – O mercado de geração distribuída brasileiro ganhou 381 mil novas usinas de janeiro a julho de 2024, com a entrada em operação de 4,02 gigawatts (GW) de potência no período, segundo levantamento da consultoria ePowerBay.
Com isso, o país chegou a 30,53 GW de capacidade instalada ao final de julho, sendo 98,99% da fonte solar.
Dados mais recentes da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) apontam que em agosto o total já supera 31,2 GW, instalados em 4 milhões de unidades consumidoras.
Ao final de julho, a maioria desses projetos estava no estado de São Paulo, com 4,3 GW, e Minas Gerais, com 4,03 GW. Grande parte está na rede de baixa tensão, que responde por 79% da capacidade total instalada.
A geração distribuída é o modelo pelo qual o consumidor gera a própria energia que consome.
Na prática, o cidadão pode instalar um pequeno sistema de geração, que injeta a energia na rede da distribuidora e gera créditos que são descontados na tarifa de luz. Também é possível participar de modelos compartilhados, nos quais os créditos gerados por uma usina instalada na mesma área de concessão são usados pelo consumidor.
Rumo aos 35 GW
Para o presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Carlos Evangelista, os números mostram que o país pode terminar o ano com mais de 35 GW instalados de geração distribuída.
“As chances de atingir, talvez até superar um pouquinho o projetado, são grandes. Nós havíamos projetado um crescimento de 8 GW desse ano, ou mais 820 mil instalações novas em unidades consumidoras”.
Segundo Evangelista, a alta nos juros e dificuldades na relação com as distribuidoras são algumas das questões que têm impedido um crescimento ainda mais robusto para esse segmento.
“Continuamos crescendo apesar de todos os problemas que as distribuidoras ainda trazem ao setor, como, por exemplo, não seguir prazos, a não conexão por alegada inversão de fluxo de potência, muitas restrições ao investidor”, afirma o presidente da ABGD.
Parte da expansão projetada para o setor em 2024 e 2025 ainda é resultado da corrida pela outorga de projetos na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) até 2022, quando as regras de compensação de créditos foram alteradas.
Projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que o Brasil é capaz de chegar a uma potência acumulada de 70,5 GW em projetos de geração distribuída até 2034. Definições regulatórias que ainda precisam ocorrer, no entanto, podem reduzir esse potencial de expansão, restringindo a expansão a uma potência acumulada de 58,8 GW até 2034.
O CEO da Safira Energia, Mikio Kawai Jr., lembra que a geração distribuída oferece um suprimento no mesmo local da carga, o que ajuda a reduzir a necessidade de expansão da transmissão.
O grupo tem 13 MW de projetos de geração distribuída instalados no Sudeste, incluindo a modalidade da geração compartilhada, mas espera chegar a 50 MW nos próximos anos.
“A geração distribuída é uma das melhores maneiras de criar uma eficiência energética no país”, defende.
Expansão gera novos negócios entre fornecedores
A ePowerBay aponta que o Brasil tem 51 fornecedores diferentes de módulos fotovoltaicos para geração distribuída, sendo que os 20 maiores são responsáveis por 80% dos equipamentos em operação no país.
Entre os maiores fornecedores desses equipamentos estão Canadian Solar, Jinko, Risen, Trina Solar e BYD.
Já para inversores, o país tem 67 fornecedores.
O crescimento do setor está se refletindo em novos negócios entre os supridores desse mercado.
Recentemente, a fornecedora de inversores e soluções de armazenamento SolaX anunciou que vai passar a ter em estoque no Brasil todos os produtos do portfólio, dado o momento positivo para os negócios no país. A companhia importa os equipamentos da China.
“A principal motivação é ter um estoque local para servir como pulmão para poder atender a demanda dos nossos clientes”, explica o diretor-executivo da SolaX Power no Brasil, Gilberto Camargo.
Um dos impulsos para o crescimento da empresa no país foi um trabalho de qualificação dos integradores, que são as empresas instaladoras de equipamentos de energia solar fotovoltaica.
O crescimento do número de integradores no país, inclusive, está gerando empregos. A startup 77Sol, marketplace de equipamentos, financiamentos e profissionais para integradores, registrou 4 mil novos profissionais na plataforma no primeiro semestre do ano. A expectativa é terminar 2030 com mais de 30 mil integradores cadastrados.
Já na área de condutores elétricos, um dos maiores players do setor, o grupo ConnectGlobal, comprou este mês a empresa paranaense Conduspar.
A expectativa agora é dobrar o volume de produção e o faturamento da Conduspar nos próximos seis meses. Com capacidade de produção de 3 mil toneladas de condutores elétricos por mês, a Conduspar vinha operando com apenas 30% de sua capacidade instalada devido à recuperação judicial.
Fiscalização da GD por assinatura
Em julho, o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que a Aneel fiscalize denúncias de comercialização indevida de créditos de projetos de geração distribuída compartilhada. O cenário pode impactar investimentos no país no segundo semestre.
Evangelista, da ABGD, ressalta, no entanto, que um eventual impacto tende a recair sobre poucas empresas, não sobre os consumidores.
“É uma minoria absoluta de empresas que estariam, talvez, não com o modelo errado, mas comunicando errado”, explica.