A decisão da Petrobras de reduzir em 10% o valor médio do diesel comercializado em suas refinarias vai afetar diretamente sua capacidade de atrair investidores para comprar as quatro refinarias que estão está vendendo. Mesmo com o presidente da estatal, Pedro Parente, afirmando que a decisão não teve motivação na pressão do governo ou dos caminhoneiros, que estão fazendo greve pela redução nos preços do derivado, é pouco factível acreditar que algum investidor vai dissociar as duas estratégias. “Nosso objetivo é gerar valor pros acionistas no médio e longo prazo. Nós não somos dogmáticos”, disse Parente.
Adiciona-se ao cardápio das dificuldades para a venda das refinarias as eleições gerais de outubro. Sem um indicativo claro de quem será o novo presidente da República, fica cada vez mais inviável saber qual será a política energética adotada a partir de 2019. Mais: qual será a política energética não adotada a partir do próximo ano.
A Petrobras está vendendo 25% da participação no mercado nacional de refino. Quem levar as unidades do Sul terá ainda monopólio na região e pode até mesmo pensar em entrar no mercado de distribuição de derivados, dependendo de sua estratégia própria. Mas com a Petrobras com 75% do mercado na mão não conseguirá formar preço. E isso certamente entrará na conta.
E a incapacidade de formar preço a partir de ontem ganha ainda mais importância nessa conta. Sem estrutura para lutar contra uma empresa que terá três quartos do mercado, um possível futuro investidor – em uma situação como a tomada pela Petrobras para o preço do diesel – precisa acompanhar a decisão ou perderá mercado. Em um negócio com a margem apertada como é o refino, um risco como esse pode inclusive inviabilizar um projeto.
Alguns analistas de risco que participa da La Jolla Energy Conference, que acontece em San Diego, EUA, acreditam que esse risco agora encareceu para a Petrobras o negócio. E, claro, pode jogar para baixo preço final de uma proposta por suas unidades de refino. A percepção é que o negócio agora enfrentará muito mais dificuldade para se concretizar. “Essa decisão coloca um risco político no negócio que pode inclusive inviabilizá-lo”, comentou uma analista que pediu anonimato.
Os caminhoneiros entraram nesta quinta-feira (24/5) no quarto dia de manifestações contra o preço elevado dos combustíveis. Em Brasília, há registros de postos fechados, com estoque de combustível zerado. Em São Paulo, o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do estado, José Alberto Paiva Gouveia, informou que, desde o início dessa quarta-feira (23), os postos de abastecimento do estado não receberam combustível, e há estoque para operar só por até três dias. No Rio de Janeiro, de acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Município (Sindcomb), ao menos metade dos postos da capital estará, nesta quinta-feira, sem algum dos três combustíveis: gasolina, diesel ou etanol.
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