A 3R Petroleum está bem posicionada para evitar solavancos em meio às discussões sobre a restrição de ampliação de áreas para exploração de petróleo e gás no Brasil, acredita o CEO da companhia, Décio Oddone.
O executivo concedeu a primeira entrevista coletiva, nesta sexta (2/8), após a combinação dos negócios com a Enauta, companhia que ele presidiu desde de 2020.
“No onshore, vida que segue. Para nós, esse é um ambiente que continua trazendo oportunidades, continua ativo, não está sendo afetado por essa grande discussão do futuro da exploração de alto risco”, disse.
A fusão foi sacramentada na reunião do conselho de administração da nova empresa na quinta-feira (1/8). Foi aprovada a renúncia dos diretores e conselheiros da 3R e a eleição dos novos administradores das empresas combinadas, além de questões burocráticas sobre a combinação dos negócios.
Com a incorporação da Enauta, a “nova 3R” vai elaborar até novembro um plano de negócios que vai trazer a estratégia de investimentos para os próximos cinco anos.
3R vai reavaliar portfólio e pode comprar e vender
“A gente vai fazer um trabalho de avaliação do portfólio das duas empresas juntas. Portfólio combinado, vamos olhar os melhores ativos, selecionar aqueles que acharmos que merecem nosso investimento”, afirmou o CEO.
Há possibilidade de que parte dos ativos sejam desinvestidos. Também existe disponibilidade de caixa para eventual aquisição de novos ativos ou de outras empresas.
No segmento de exploração, a empresa não tem intenção de entrar em áreas de novas fronteiras ou de alto risco, mas pode avaliar blocos exploratórios próximos aos ativos que já opera.
“Uma companhia como a nossa tem a obrigação de estar sempre atenta a oportunidades. Só como estatística, a gente já nasce com uma disponibilidade no balanço de mais de US$ 1,6 bilhões”, disse o diretor de Relações com Investidores, Pedro Medeiros.
Oddone deixou claro que a companhia vai focar nas atividades de petróleo e gás e que não há previsão de investimentos em geração de energia renovável.
“Temos objetivos relacionados com redução de emissões, mas não vamos propor para o conselho de administração nenhum investimento que não seja na indústria do petróleo e do gás natural”, afirmou.
Durante esse processo de definição de propósitos, a 3R também deve passar a ter um novo nome. Antes disso, em setembro, a companhia vai finalizar a adequação da equipe à nova estrutura, o que pode incluir reduções de pessoal pela sobreposição de atividades.
Oddone lembrou que o setor de petróleo tem vivido um grande processo de consolidação de empresas no mundo todo, em busca de ganhos de competitividade e escala.
“Tamanho, custo de capital, capacidade de atração e retenção de talentos são importantes”, disse o CEO.
No caso da 3R e da Enauta, há oportunidade de sinergias da ordem de US$ 1,2 bilhão, incluindo possibilidade de compartilhamento de embarcações, estocagem, logística e ganhos de escala nas negociações comerciais para a venda da produção.
Também é esperada uma melhoria na avaliação de risco e uma redução do custo de endividamento.
“Essa capacidade que a gente tem de estocagem em terra e no mar também dá uma capacidade de armazenagem, de logística, muito interessante. E vem também a parte de sinergias comerciais, venda em maior escala, mais volume que a gente pode acumular para vender junto. Tudo isso faz parte da tese que levou à incorporação das duas empresas” disse o CFO Rodrigo Pizarro.
Juntas, as empresas passam a operar uma produção que hoje é de cerca de 80 mil barris de óleo equivalente por dia (boe/dia), incluindo campos terrestres e marítimos. A nova 3R passa a ser uma das três maiores produtoras de gás natural do país.
No Rio Grande do Norte, as empresas operam ainda a Refinaria Clara Camarão, uma unidade de processamento de gás natural (UPGN) e um Terminal de Uso Privado (TUP).
Greve atrasa Atlanta
Há expectativa de que a empresa coloque em operação o primeiro sistema de produção definitivo do campo de Atlanta, no pré-sal da Bacia de Santos, nos próximos meses.
A previsão inicial era de começo da produção do FPSO Atlanta em agosto, mas os movimentos de paralisação de servidores da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) devem afetar o cronograma.
De acordo com o diretor de Operações, Carlos Mastrangelo, está pendente no Ibama apenas uma última vistoria presencial, que foi agendada para agosto.
No entanto, o processo de liberação na ANP ainda depende de respostas que estão levando um prazo mais longo do que o usual, em meio à mobilização dos servidores pela valorização da carreira. Pode haver necessidade de pelo menos mais duas interações com a agência até a liberação e cada resposta demora cerca de 30 dias.
Para evitar uma parada na produção do ativo, a empresa pretende manter o sistema de produção antecipada, o FPSO Petrojarl I, em operação por mais tempo, até que a plataforma definitiva seja liberada para operar.
Com a instalação da plataforma definitiva, a capacidade de produção no campo deve subir dos atuais 20 mil barris/dia de petróleo para 50 mil barris/dia.
“Todas as atividades de conexão dos outros poços permanecem inalteradas. O que acontece é que o momento inicial de produção pode ser postergado”, disse o diretor de Relações com Investidores, Pedro Medeiros.
Além do aumento na produção em Atlanta, a companhia também trabalha para ampliar a produção no campo de Papa-Terra, na Bacia de Campos.
A expectativa é sair de uma produção de 13 mil barris/dia no segundo trimestre deste ano para 22 mil barris/dia em 2024. O ativo foi comprado no processo de desinvestimentos da Petrobras e passou a ser operado pela 3R em dezembro de 2022.
Já nos ativos terrestres, a empresa tem hoje 6 mil poços produtores e quase 700 poços injetores. Os trabalhos devem focar no aumento da recuperação nessas áreas, com trabalhos de workover (reparação) e novas perfurações.
Hoje, a empresa tem três sondas terrestres em atividade nessas regiões e a expectativa é chegar a cinco unidades até o fim de 2024, além de 15 sondas em atividades de workover.
Parceria com a PetroReconcavo
Segundo os executivos, a 3R segue em negociações com a PetroReconcavo para avaliar oportunidades de otimização do processamento do gás natural produzido pelas empresas na Bacia Potiguar.
Hoje, a produção da PetroReconcavo é processada na UPGN operada pela 3R, mas a produção da região deve ultrapassar a capacidade de processamento instalada nos próximos anos.
Por isso, as companhias assinaram um memorando de entendimentos, em julho, com duração de 90 dias, para avaliar oportunidades conjuntas de expansão do processamento de gás.
Antes da proposta da fusão entre Enauta e 3R, a PetroReconcavo chegou a propor uma fusão com a 3R, o que não se concretizou.