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Editada por André Ramalho
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PIPELINE Produtores argentinos e comercializadoras brasileiras se lançam em corrida pelos primeiros contratos de importação de gás argentino no verão.
Usuários defendem suspensão dos efeitos do tarifaço na NTS. MME pretende incluir gás associado nas debêntures incentivadas. EPE estima déficit de potência em 5,5 GW em 2028. Eneva compra térmicas do BTG e mais. Confira:
CORRIDA ABERTA
O verão 2024/2025 surge no horizonte como a 1ª janela de oportunidade para importação de gás natural argentino e os agentes do mercado movimentam suas peças no tabuleiro, em busca dos primeiros contratos para testar a integração com o país vizinho.
Do lado de lá da fronteira, produtores como Pan American Energy (PAE), Pluspetrol e Tecpetrol estruturam seus primeiros acordos de suprimento com comercializadores do lado de cá (Tradener, Gas Bridge e MGás são exemplos).
Está lançada a corrida pelo primeiro despacho de gás argentino para o Brasil.
Os agentes estão ativos no mercado, atrás de clientes para esse gás que deve chegar, num primeiro momento, em caráter flexível (interruptível) e sazonal – fruto da sobra de gás no norte da Argentina no verão e que só deve se traduzir em contratos firmes mais para frente.
Em paralelo, as empresas correm para tentar fechar as demais lacunas para colocar o negócio de pé: fechar acordo com a Bolívia (única rota viável a curto prazo); calcular as tarifas na malha de gasodutos argentina; e precificar, enfim, o gás no mercado.
A seguir, a gas week apresenta um raio-x dos principais atores que se movimentam hoje pela importação de gás argentino.
E, para enriquecer o material, traz alguns insights sobre a dinâmica dessa integração Argentina-Brasil, a partir do olhar do diretor sênior na Alvarez & Marsal, Rivaldo Moreira Neto; e do VP de Mercado de Gás da Rystad Energy Brasil, Vinícius Romano.
Leia na agência epbr:
- Verão será teste de confiança para gás argentino, diz diretor da A&M
- Importar gás argentino depende exclusivamente do consumidor brasileiro, diz VP da Rystad
QUEM É QUEM
O governo argentino concedeu, em junho, as duas primeiras autorizações para exportação de gás (interruptível) ao Brasil:
A PAE foi autorizada a exportar até 300 mil m³/dia do campo de gás convencional de Acambuco (não é Vaca Muerta, e sim na Bacia Noroeste, no norte do país), para a Tradener.
O preço na fronteira com a Bolívia é de US$ 6,6 o milhão de BTU, segundo dados apresentados no pedido de autorização para exportação.
A Pan American está em negociações com outros agentes e avalia desenvolver um braço próprio de trading no Brasil. Espera começar a enviar gás no verão.
Produz cerca de 18 milhões de m³/dia de gás na Argentina e espera dobrar esse volume em até quatro anos.
Já a Tecpetrol foi autorizada a exportar para a MGás até 1,5 milhão de m3/dia de Fortín de Piedra – um dos principais ativos de gás não-convencional em Vaca Muerta, na Bacia de Neuquén, com produção superior a 20 milhões de m3/dia. O preço na fronteira com a Bolívia é de US$ 9 o milhão de BTU.
A MGás, aliás, foi recém-adquirida pela J&F – que fincou seus pés na Argentina, ao comprar, por meio da Fluxus, ativos de gás convencional da Pluspetrol de 1,3 milhão de m3/dia.
A J&F busca gás para as térmicas da Âmbar, sua geradora, mas também avalia oportunidades de comercialização para terceiros.
Quem também está se movimentando no mercado brasileiro é a Pluspetrol – que em 2023 comprou a comercializadora Gas Bridge.
A empresa opera o bloco La Calera, em Vaca Muerta, e já anunciou publicamente a intenção de aumentar esse dos atuais 10 milhões para 15 milhões de m³/dia em 2025 a produção do ativo, E vê potencial para ampliar para até 25 milhões de m³/dia no futuro.
Outra carta no baralho é a Petrobras – principal agente do mercado brasileiro e que avalia oportunidades de importação da Argentina. Assinou este ano com a Enarsa um acordo não vinculante de três anos, para estudos de parcerias.
AFINAL, VEM GÁS BARATO?
Por se tratar de uma sobra de gás no verão, em caráter interruptível, a expectativa no mercado é que a molécula argentina chegue competitiva no Brasil.
Os preços na cabeça do poço, em Vaca Muerta, são baixos – o governo Alberto Fernández chegou a contratar gás a US$ 3,5 o milhão de BTU, patamar comparável ao do Henry Hub dos EUA, referência de gás barato.
Mas o preço para o consumidor brasileiro dependerá de uma série de fatores:
- do percurso do gás na Argentina e, por consequência, das tarifas de transporte envolvidas (que, segundo fontes, podem variar de US$ 1,7 a US$ 2,5 o milhão de BTU do Sul para o Norte);
- da tarifa de passagem boliviana (da ordem de US$ 1,5 o milhão de BTU);
- do tipo de campo produtor (se é gás rico ou seco);
- e, claro, de condições de mercado (incluindo as margens de produtores e comercializadoras).
Conforme antecipado pelo político epbr, serviço de assinatura exclusivo para empresas (teste grátis por 7 dias), agentes acreditam que seja possível entrar com o gás na fronteira brasileira, em condições favoráveis. a um patamar da ordem de US$ 7 por milhão de BTU – um pouco acima do gás boliviano.
Restaria acrescentar aí os custos de transporte daqui (US$ 2 o milhão de BTU).
Vinícius Romano, da Rystad, é cético quanto a chegada do gás de Vaca Muerta ao Brasil com “rótulo de gás barato” ou disruptivo em grandes volumes.
“Mas chegará gás argentino [a um preço suficiente] para o negócio acontecer, para os agentes mostrarem que é possível, para testar a confiança nos mercados”, acredita.
O QUE FALTA?
Há uma expectativa, entre produtores locais, de que o governo Javier Milei reduza a tributação e barreiras impostas pelo governo anterior.
Há, por exemplo, um imposto de exportação que a indústria articula para derrubar – bem como os preços mínimos de exportação que hoje são aplicados sobre os despachos para o Chile. O pleito é para que o envio de gás ao Brasil já comece a ser feito sem ele.
Também falta definir uma ou outra tarifa de pequenos trechos associados à reversão do Gasoducto Norte – a maioria das tarifas de transporte no país já é conhecida.
Do lado brasileiro, o pleito dos agentes é pela redução dos custos de acesso ao transporte — sobretudo nos contratos spot. O MME acena para uma “regulação firme” sobre as infraestruturas essenciais, no Gás para Empregar.
Aliás, por falar em política… A importação do gás de xisto argentino tem potencial para levantar mais um embate entre os ministros Alexandre Silveira (MME), defensor do não-convencional no Brasil; e Marina Silva (MMA).
Ambientalistas se opõem a uma eventual participação do BNDES no financiamento do gasoduto Néstor Kirchner, na Argentina, que escoa a produção de Vaca Muerta.
ARGENTINA PASSARÁ POR TESTE DE CONFIANÇA
As primeiras importações de gás argentino serão um teste de confiança para que o país vizinho se consolide como uma fonte de molécula competitiva e firme para o mercado brasileiro a longo prazo, na visão de Moreira Neto.
Ele relembra como a cultura de controle de preços, no passado, levou a produção local ao declínio — e culminou, nos anos 2000, na interrupção do fornecimento ao Chile e ao próprio Brasil.
“[A confiabilidade] É um desafio que a Argentina vai ter que superar para ganhar espaço efetivo no mercado brasileiro”
A chegada de gás argentino, mesmo que em bases interruptíveis e volumes limitados num primeiro momento, contudo, será um marco importante para testar o modelo de comercialização entre os dois países – e via Bolívia.
“Vai criando um contorno formal para que esse gás eventualmente chegue num modelo mais estruturado nos próximos anos”, disse.
GÁS ARGENTINO DEMANDARÁ PORTFÓLIO
O caráter sazonal da capacidade de envio do país vizinho exigirá, por parte dos compradores brasileiros, uma capacidade de compor um portfólio de suprimento diversificado para garantir a segurança – e constância – do abastecimento.
“Dentro desse cenário, seria natural esperar que a gente tivesse uma demanda por portfólio – que pode ser GNL, algum gás doméstico também…”, comenta Moreira Neto.
Romano acredita, nessa linha, que as comercializadoras devem desempenhar um papel de desbravadoras dessa importação de gás argentino, num primeiro momento, porque, em tese, têm condições de lidar melhor com riscos.
Um nicho para o gás argentino, segundo ele, é na gestão de portfólio — o agente, por exemplo, poderia reduzir a retirada de volumes contratados com outros supridores até o limite do take-or-pay e substituir esse volume por um gás de oportunidade da Argentina.
“Mas criar uma demanda nova baseada no gás de verão argentino é um pouco difícil”, completou.
Isso porque nem toda a indústria tem um perfil de consumo capaz de casar com a característica sazonal e flexível da oferta argentina.
PETROBRAS TERÁ MAIS DIFICULDADE DE MONOPOLIZAR IMPORTAÇÃO
A diversificação de agentes na Argentina deve marcar uma diferença importante na capacidade da Petrobras de assumir uma posição dominante no acesso ao gás do país vizinho – a exemplo do papel historicamente desempenhado pela estatal brasileira na Bolívia.
“Pode ser que a gente veja a Petrobras, de novo, tentando aumentar a sua relevância no comércio regional, mas, pelo menos do lado argentino, nos parece que, hoje, pelo menos, a Petrobras não tem a mesma capacidade de gerar essa posição como ela teve no passado. Mas, claro, é um player relevante demais para ser colocado fora dessa mesa”, afirma Moreira Neto.
CHILE PODE COMPETIR POR GÁS ARGENTINO
A reversão do Gasoducto Norte, na Argentina, permitirá, a partir de outubro, o envio de 19 milhões de m3/dia de Vaca Muerta para a região norte do país – historicamente dependente de gás boliviano.
A capacidade do projeto foi pensada para atender aos picos de consumo no inverno. No verão, haverá excedente de gás na região (não há consenso no mercado sobre quanto) e esse volume poderá ser destinado para cá, mas também ao Chile.
Pelo menos a curto prazo, enquanto novos investimentos em infraestrutura na Argentina não elevem ainda mais a capacidade de exportação (o que será possível com o 2º trecho do gasoduto Néstor Kirchner e a repotencialização do Gasoducto Norte).
“Aí você tem fundamentos de preços diferentes: o preço que um comprador no Chile está interessado a pagar seria sua oportunidade para deslocar GNL. O preço do Brasil não está nessa referência, ele está um pouco mais baixo”, comentou Romano.
Por outro lado, o mercado brasileiro, em termos de capacidade de expansão do consumo, é mais atraente do que o chileno.
A longo prazo, a Argentina também tem a possibilidade de desenvolver plantas de liquefação, para exportação de GNL.
“Não é um caminho trivial para a Argentina, ainda que ela esteja bem posicionada para poder brigar pelo mercado. O Brasil surge como um grande potencial. Só que o Brasil vai pedir preço para que esse gás chegue aqui de forma firme. Não vejo nenhum caminho fácil para a Argentina, ela vai ter que ser muito competitiva”, afirma Moreira Neto.
Outras rotas… A curto prazo, a infraestrutura da Bolívia é caminho natural para escoar o gás argentino ao Brasil. A longo prazo, no entanto, se o comércio Argentina-Brasil se desenvolver para volumes maiores, será preciso investir em mais infraestrutura, seja qual for a rota: via Bolívia ou construção de alguma outra, por Uruguaiana, Uruguai ou Paraguai, por exemplo.
GÁS NA SEMANA
Tarifaço. Conselho dos Usuários enviou carta aos diretores da ANP defendendo a suspensão dos efeitos do choque tarifário da malha da NTS, para que seja aprofundado o debate sobre as causas do tarifaço – e sobre as medidas tomadas pela agência para mitigá-lo.
Gás nas debêntures incentivadas. MME pretende incluir produção de gás associado nas novas regras que regem as emissões, permitindo assim que investimentos no upstream sigam contemplados nas possibilidades de captação. Na epbr
Caso Âmbar. Aneel aprovou termo aditivo do acordo entre União e geradora da J&F, prorrogando a data de início da vigência de 22 de julho para 30 de agosto, como proposto pelo MME após representação do MP junto ao TCU. Na epbr
Déficit de potência de 5,5 GW em 2028. O sistema elétrico brasileiro vai precisar de oferta adicional de potência a partir de 2027, de acordo com os estudos prévios da EPE para o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE).
Eneva compra térmicas. De olho em leilões, empresa fechou acordo vinculante com BTG Pactual, por R$ 2,9 bilhões, para comprar conjunto de seis termelétricas no ES e MA, num total de 862 MW de capacidade instalada.
Desoneração para gás no Rio. Governador Cláudio Castro (PL) sancionou a lei que isenta as termelétricas de ICMS na compra de gás, inclusive GNL.
Edge compra biometano da Orizon. Comercializadora assinou um novo contrato, dessa vez para aquisição da produção no aterro de Itapevi (SP).