Energia

Produtora argentina se prepara para exportar gás ao Brasil até 2025

PAE obtém autorização do governo argentino para enviar 300 mil m3/dia à Tradener

Alejandro Catalano é diretor-geral da Pan American Energy (PAE) no Brasil (Foto: Divulgação)
Alejandro Catalano é diretor-geral da Pan American Energy (PAE) no Brasil (Foto: Divulgação)

RIO – A Pan American Energy (PAE), uma das principais petroleiras privadas da Argentina, se prepara para começar a trazer os primeiros volumes de gás natural para o Brasil no próximo verão.

A companhia entrou no país em 2021, focada inicialmente em energias renováveis, e agora quer desenvolver o negócio de gás. Obteve recentemente autorização do governo argentino para exportar até 300 mil m3/dia do campo de gás convencional de Acambuco, na Bacia Noroeste.

O diretor-geral da PAE no Brasil, Alejandro Catalano, conta que a empresa já tem um acordo de venda de gás para a Tradener, na modalidade interruptível, e está em negociações com outros agentes.

Em paralelo, a companhia avalia também desenvolver seu próprio braço de trading – a produtora argentina, inclusive, obteve em maio autorização da ANP para atuar como agente comercializador no país.

“Nós temos a possibilidade de entregar na fronteira com a Bolívia, temos nossa comercializadora aqui, nós vamos desenvolver todas as alternativas possíveis para oferecer aos nossos clientes o gás da maneira mais competitiva possível”, disse Catalano, em entrevista à agência epbr.

A Pan American produz, atualmente, cerca de 18 milhões de m3/dia de gás na Argentina e espera dobrar esse volume em três a quatro anos.

O plano de expansão se concentra, sobretudo, no desenvolvimento de suas reservas em Vaca Muerta, formação de gás não convencional localizada na Patagônia.

A companhia, no entanto, produz em outras importantes bacias de gás convencional no país, como a Austral (offshore) e Noroeste (onshore) – além de atuar na exploração e produção de óleo e gás na Bolívia e no México.

Catalano destaca que buscar mercados consumidores fora da Argentina será uma necessidade para os produtores locais, porque o tamanho do potencial de Vaca Muerta é muito superior à capacidade de consumo interno.

E o Brasil não é o único destino possível. A Argentina já exporta gás, hoje, para o Chile.

Este mês, a PAE fechou também um contrato com a Golar LNG para instalação de uma planta flutuante de liquefação (FLNG), para exportação de gás natural liquefeito (GNL) a partir de 2027.

Empresa vê janela aberta no Brasil

Na visão do executivo, o Brasil é um mercado tangível a curto prazo, sobretudo a partir da conclusão das obras de reversão do Gasoducto Norte.

O projeto permitirá que o gás de Vaca Muerta seja enviado ao norte da Argentina e, numa inversão do fluxo da infraestrutura atual, chegue também à Bolívia – abrindo as portas para que o gás argentino seja exportado ao Brasil.

“No verão de 2024/2025 já vamos ter a possibilidade de trazer as primeiras moléculas de gás da Argentina para o Brasil”, disse.

Ele cita o declínio na produção de gás boliviano como um importante fundamento para viabilizar a integração entre os mercados de gás da Argentina e Brasil.

“Ainda que o Brasil tenha a possibilidade de desenvolver gás próprio, gás nacional, offshore, há uma janela de tempo até que esses projetos sejam desenvolvidos e será preciso substituir esse gás da Bolívia de alguma maneira. Então, tem todas as condições para que isso [importação de gás argentino] aconteça daqui a pouco”, comentou.

O transporte de gás da Argentina ao Brasil, via a infraestrutura existente e ociosa da Bolívia, é a saída mais viável a curto prazo.

Catalano acredita, contudo, no potencial de desenvolvimento de novas rotas a longo prazo – seja via Uruguaiana (RS), seja via Uruguai – conforme o comércio Brasil-Argentina amadureça.

“A rota da Bolívia é a rota que já existe, então é a rota que tem que ser aproveitada no curtíssimo prazo. Mas a competição boa é em todo o sentido, então gerar alternativas, gerar diferentes maneiras de chegar é sempre bom”, afirmou.

“Há também o GNL desde a Argentina como alternativa. Então vai ser uma sequência de diferentes alternativas e passos”, complementou.

Exportação começará com gás flexível

A expectativa, conta o executivo, é que as exportações de gás argentino para o Brasil comecem com oportunidades de gás interruptível e volumes menores e sazonais.

Catalano lembra que a Argentina tem um perfil de consumo de gás muito concentrado no inverno.

“Mas, uma vez que a roda comece a girar, vamos transformar esses contratos interrumpíveis em firmes o mais rápido possível”, afirmou.

“É uma sequência de passos. Não vai ser de um momento para outro que você vai conseguir fazer tudo junto. Por isso nós estamos fazendo o percurso, o caminho, passo a passo, e estamos nos preparando para chegar até esse momento [contratos firmes de longo prazo]”.

Ele cita que, no próximo verão, o potencial de volume disponível para o Brasil pode chegar a 2,5 milhões de m³/ dia – mas que, no ano seguinte, essa capacidade pode subir para 7 milhões de m³/dia.

“Então, a gente tem que trabalhar forte e desenvolver todas as alternativas, ter todas as capacidades para oferecer esse gás ao mercado”, disse.

O executivo prefere não entrar em detalhes sobre possíveis níveis de preço de venda do gás argentino no Brasil. Ele acredita que o preço, ao fim, será resultado de um ajuste de mercado.

“O gás de Vaca Muerta é uma fonte a mais disponível e tem que competir e tem que ser bem competitivo para trazer uma solução ao mercado brasileiro”.

O nível de competitividade do gás argentino ainda depende de uma clareza maior sobre o quanto será cobrado pelo transporte no país – a Argentina passa por um momento de revisão dos subsídios nas tarifas – e também pela passagem da molécula pela Bolívia.

Apesar disso, Catalano acredita que as condições para o início da integração entre os dois países estão dadas para que o comércio Brasil-Argentina comecei a acontecer.

“[As tarifas de transporte na Argentina] ainda não estão totalmente arrumadas, mas perder-se num detalhe concreto, assim, no curto prazo, não vai resolver nada”

“Detalhes faltam, mas o importante é que todo mundo tem intenção de isso acontecer. Então, a Argentina está trabalhando, está outorgando exportações, por exemplo, as obras estão sendo implantadas, a YPFB está trabalhando para ser transportadora [do gás argentino na Bolívia], os clientes brasileiros já estão em contato com a Argentina, estão levantando a mão, falando o que precisam”.

PAE traça planos também para renováveis

O mercado de gás é o segundo passo da PAE no Brasil. A Pan American Energy já atua no país em energias renováveis.

Inaugurou este mês o Complexo Eólico Novo Horizonte, o primeiro empreendimento da empresa no país.

Ao todo, foram investidos R$ 3 bilhões na instalação de um conjunto de dez parques na Bahia, e que somam 423 MW.

A empresa avalia a construção de um parque solar, próximo à estrutura do complexo eólico, para transformá-lo num complexo híbrido capaz de atingir 800 MW.

Além de atuar na produção de óleo e gás e geração de energia, a companhia opera uma refinaria Campana, na Argentina; e possui uma rede de postos de combustíveis na Argentina, Paraguai e Uruguai (sob a marca Axion Energy (herança da aquisição da rede da ExxonMobil na região).