BERLIM – Apesar de o Brasil considerar “baixo carbono” o hidrogênio que emite até 7 kg de CO2 por H2 produzido – quase o dobro do que é considerado como renovável pela União Europeia –, o país tem capacidade de atender aos critérios europeus e ser um grande exportador do energético para a região, aponta estudo da consultoria britânica Aurora.
O levantamento estima que 55% da demanda europeia por hidrogênio até 2060 será suprida via importações.
A analista da Aurora Energy Research Inês Gaspar afirma que, em termos de intensidade de carbono, o Brasil está bem posicionado para exportar hidrogênio em linha com os critérios europeus.
Segundo o estudo, as regiões Norte e Nordeste se destacam como potenciais produtoras de hidrogênio verde para exportação, apresentado índices de emissão no ciclo de vida muito abaixo do que é exigido pelas normas da União Europeia, e um grid 90% renovável – o que permitiria a produção conectada à rede, também em acordo com as normas do bloco.
“Se olharmos para o Nordeste e para o Norte, vemos que a intensidade de produção de hidrogênio aqui ficaria em torno de 0,6 kgCO2eq/kgH2. Como o limite da Europa é de 3,4 kg CO2eq/kg H2, conseguimos um espaço de 3 ou 2,5 de emissões que podem ser aproveitados ao longo da cadeia e do ciclo de vida”, diz Gaspar
O mesmo vale para Sudeste e Sul do Brasil, apesar de contarem com uma participação importante de fontes fósseis na matriz elétrica. Nessas regiões, a emissão fica abaixo dos 3,4 kg CO2eq/kg H2, e ainda têm a possibilidade de agregar novas fontes de energia renovável para “limpar” o grid.
As vantagens competitivas do hidrogênio brasileiro, segundo o estudo, vão além do seu baixo teor de carbono e também envolvem o preço – mesmo agregando os custos de transporte, conversão e reconversão do hidrogênio.
“O hidrogênio do Brasil, produzido no Nordeste, seria competitivo mesmo com os custos de transporte e recondicionamento”, diz Gaspar. Segundo ela, o hidrogênio produzido na região teria um custo em torno de quatro euros o quilo.
“Mesmo quando se considera o modelo de negócios de hidrogênio mais caro e os custos de exportação, o Brasil ainda é um forte candidato ao sucesso na competição pelas importações para a Europa”, completa Ana Barilla, diretora da Aurora.
O potencial da energia no Nordeste
Já o analista da Aurora Rodrigo Longo observa que o Nordeste tem fatores de carga excepcionais tanto para geração eólica quanto solar, “com uma média de 45% para a eólica onshore e cerca de 25% para a solar”, pontua.
Ele também ressalta a importância do modelo de produção conectado à rede que poderia utilizar energia renovável que hoje é deixada de ser produzida em momentos de alta carga no sistema.
Segundo o analista, somente essa energia “desperdiçada”, especialmente no Nordeste, poderia gerar cerca de 12 milhões de toneladas de hidrogênio renovável entre 2030 e 2060.
Para se ter uma ideia, em 2022 a demanda total da Europa foi de cerca de 8,2 milhões de toneladas de hidrogênio.
Além disso, Longo prevê um crescimento cinco vezes maior na capacidade instalada de energia solar e eólica no Brasil até 2060.
“Esperamos que 271 gigawatts de energia eólica – energia eólica onshore e solar entrem entre 2024 e 2060. Isso é fundamental para a produção de hidrogênio”, afirma.