Mercado de gás

Conselho de Usuários defende suspender choque tarifário nos gasodutos do Sudeste

Carregadores pedem mais transparência sobre decisão da ANP que mitigou efeitos do tarifaço

Conselho de Usuários defende suspender choque tarifário nos gasodutos do Sudeste

RIO – O Conselho dos Usuários dos gasodutos de transporte enviou uma carta aos diretores da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) defendendo a suspensão dos efeitos do choque tarifário da malha da NTS, vigente desde junho, para que seja aprofundado o debate sobre as causas do tarifaço – e sobre as medidas tomadas pela agência reguladora para mitigá-lo.

Conforme antecipado pelo eixos PRO, serviço de assinatura exclusivo para empresas (teste grátis por 7 dias), o regulador chegou em um acordo com a Petrobras, no fim do mês passado, para aumentar a capacidade reservada pela estatal em Caraguatatuba (SP) – e, assim, amenizar o choque nas tarifas para injeção do gás na malha.

No Tecab (RJ), onde houve uma demanda maior por capacidade por parte dos concorrentes da Petrobras (Shell, Galp e Equinor), por exemplo, o impacto do aumento na tarifa foi revisto de 22% para 9%. 

O CdU pede mais transparência. Argumenta que os carregadores, principais afetados pelo aumento na tarifa da Nova Transportadora do Sudeste, não tiveram acesso à totalidade das justificativas que embasaram a decisão da ANP para mitigação do choque tarifário.

E que, no processo, não constam os documentos e informações específicas que possam explicar o tarifaço, ferindo o princípio da publicidade dos atos administrativos.

O Conselho de Usuários alega que tem competência legal para participar das discussões sobre a definição de tarifas, já que tem como objetivo monitorar amplamente o desempenho, a eficiência operacional e os investimentos das transportadoras. 

O grupo entende que qualquer aumento tarifário deveria ser antecedido da validação de todas as suas premissas e de consulta pública.

Usuários pedem explicações sobre Cabiúnas

O CdU questiona também por que a ANP não agiu para rever a alocação de capacidade no Tecab, em Cabiúnas, onde, a exemplo de Caraguatatuba, a demanda solicitada ficou abaixo do cenário de referência – contribuindo, também, para o choque tarifário (mais detalhes sobre as causas do tarifaço abaixo).

No acordo com a ANP, para mitigar o impacto do tarifaço na malha da NTS, a Petrobras aceitou aumentar a sua demanda de capacidade alocada no ponto de entrada em Caraguatatuba, de 7,6 milhões de m3/dia para 13 milhões de m3/dia em 2024, desde que garantida a flexibilização nas especificações do gás tratado na UTGCA.

Desde 2020, a agência concede uma autorização especial que flexibiliza o teor de metano de 85% para 80% na UTGCA, o que permite à companhia aumentar a oferta de gás.

O waiver, contudo, precisa ser renovado a cada quatro meses – e, dado o seu caráter temporário, não foi considerado pela petroleira na capacidade originalmente reservada junto à NTS.

ANP encaminha caso ao Cade

A solução encontrada pela ANP para mitigar o tarifaço ocorreu por meio do aditamento do ARF, para alterar a capacidade máxima diária da Petrobras em Caraguatatuba em 2024. A diretoria da agência encaminhou o caso ao Cade, em razão do acordo ser fruto do TCC do gás natural. 

Relembrando: o tarifaço teve origem no descasamento entre o cenário de referência e a demanda sinalizada na fase de manifestação de interesse. A necessidade de recalcular as tarifas, diante da diferença das premissas, é algo natural do processo.

O que chamou a atenção, nesse caso, foi o tamanho da disparidade dos números: uma demanda 13 milhões de m3/dia abaixo da referência.

Na fase de manifestação de interesse, a Petrobras (principal cliente) se ateve a solicitar a capacidade desejada no Gasig – o único gasoduto de fato novo.

Para a contabilização final da demanda do sistema, foram consideradas então as propostas dos demais agentes e as reservas de capacidade sinalizadas pela Petrobras no Acordo de Redução de Flexibilidade de 2019 (aquele que possibilitou abrir a malha para terceiros).

Acontece que os números contidos no ARF não refletem o histórico recente dos volumes efetivamente movimentados pela estatal, sobretudo nos pontos de entrada de Caraguatatuba (SP) e Tecab (RJ). São anteriores, por exemplo, à decisão da ANP de flexibilizar as especificações do gás da UTGCA.

Já o cenário de referência foi calculado com base na movimentação de gás nos últimos dois anos – ou seja, uma estimativa que parte de um histórico mais recente. Isso pode ajudar a explicar as disparidades nas contas.

Passados quase dois meses desde a divulgação do resultado da oferta de capacidade da NTS que levou ao tarifaço, os carregadores cobram explicações sobre as causas do ocorrido.

Pedem ainda uma série de esclarecimentos à ANP sobre, dentre outros aspectos, como se operacionaliza o rateio dos custos do sistema de transporte entre a Petrobras, nos contratos legados, e os demais agentes.

E se a inclusão do gasoduto Itaboraí-Guapimirim (Gasig) na Base de Remuneração de Ativos (BRA) da NTS pode ter motivado uma mudança de metodologia para determinação da demanda no sistema – contribuindo, assim, para o aumento das tarifas.