RIO – Os preços do barril de petróleo no mercado internacional podem ter um alívio de pressões no segundo semestre de 2024, mas isso não deve levar a uma redução significativa nos preços dos combustíveis, apontam analistas.
Isso ocorre porque o mercado de refino está vivendo riscos mais acentuados, relacionados à redução da capacidade de processamento.
Na sexta-feira (10/7), o preço do Brent, principal referência internacional, fechou em US$ 85,27.
Nas últimas semanas, os preços chegaram a apresentar um leve aumento, devido a reduções pontuais nas exportações da Opep, sobretudo da Rússia, e à expectativa de um corte de juros na economia dos Estados Unidos.
“A redução das exportações de petróleo bruto da Opep e da Rússia, num momento em que as operações nas refinarias aumentam para atender ao pico do verão [no Hemisfério Norte], estão contribuindo para um mercado mais restritivo do que o esperado, e os preços estão reagindo”, explica o diretor de Análise do Mercado Global da Rystad Energy, Claudio Galimberti.
Ainda assim, as cotações do óleo bruto têm sofrido maior influência da demanda, que está menor do que o esperado.
A demanda global deve continuar a subir este ano, mas em patamares menores do que os previstos antes.
O maior propulsor global do consumo é a China e, em 2024, o país não aumentou as importações na comparação anual, até meados do ano.
“Países asiáticos, especialmente a China, têm acumulado bastante estoque nos últimos meses, o que também limita o déficit no balanço global”, diz a analista de Inteligência de Mercado da StoneX, Isabela Garcia.
Além disso, os Estados Unidos também têm apresentado um consumo de petróleo bruto abaixo do esperado, devido à desaceleração da atividade industrial e ao aumento do uso de combustíveis alternativos, como biocombustíveis e eletrificação.
Com isso, uma alta firme nos preços é um cenário menos provável para o segundo semestre, conforme analistas. Do mesmo modo, uma queda mais acentuada dos preços também é improvável, sobretudo depois da decisão da Opep e aliados de manter as restrições à produção este ano.
Há ainda os riscos relacionados a fatores geopolíticos, ligados à guerra entre Rússia e Ucrânia e a um possível envolvimento do Irã no conflito no Oriente Médio.
Uma eventual redução das exportações iranianas tenderia a elevar os preços do barril no ambiente internacional. Esse cenário, no entanto, parece improvável no momento, segundo o analista de Energia e Macroeconomia da Hedgepoint Global Markets, Victor Arduin.
“Por mais que os riscos geopolíticos estejam presentes, eles não estão ganhando forças nem pressionando preços”, afirma Arduin.
Os riscos para os combustíveis, no entanto, estão mais severos. Há ameaças à oferta relacionadas sobretudo à temporada de furacões na América do Norte, que vai de agosto a outubro.
O ano de 2024 deve ter uma temporada de furacões mais forte que a média, com a interrupção da produção em diversas refinarias nos Estados Unidos.
O impacto começou no início de julho, com a passagem do furacão Beryl. Apesar de não ter levado a grandes restrições nas plantas de refino, diversos portos precisaram ser fechados no país.
A redução das margens de refino nos últimos anos e a redução da capacidade de processamento global também ampliam os riscos para a oferta global de derivados, segundo o Goldman Sachs.
Essa alta dos derivados deve ter impacto sobretudo para mercados com moedas desvalorizadas em relação ao dólar.
“Quando o dólar está fortalecido em relação a outras moedas, o petróleo fica mais caro para países com outras moedas, e isso acaba afetando a demanda”, lembra Arduin, da Hedgepoint.
O que isso significa para os preços de combustíveis no Brasil?
No Brasil, os preços dos combustíveis sofrem influência sobretudo da política de preços da Petrobras, que opera a maior parte das refinarias nacionais.
Desde maio de 2023, a estatal implementou uma nova política de precificação, que incorpora os preços internacionais e o dólar, mas também visa suavizar a volatilidade e garantir a fatia de mercado da estatal.
A companhia concorre com os produtos importados, principalmente no caso do diesel, e com o etanol, no caso da gasolina.
No começo de julho, a estatal fez o primeiro reajuste da gasolina desde outubro de 2023. Na segunda-feira (8/7), a estatal alterou o preço de venda da gasolina nas refinarias, em média, em R$ 0,20 por litro, num aumento de 7,1%. Com isso, o preço médio de venda passou a ser de R$ 3,01 por litro.
O diesel permanece sem alterações desde 8 de dezembro, quando houve um corte de 6,66% e o combustível passou a ser vendido nas refinarias a R$ 3,78 por litro em média.
A pressão pelo reajuste está alta, pelo menos, desde maio e se ampliou depois que o dólar teve forte alta frente ao real nas últimas semanas.
Segundo analistas, o mercado nacional está bem abastecido para o segundo semestre, depois de um aumento no volume processado nas refinarias nos primeiros meses do ano, assim como por importações.
Por isso, o câmbio e a competição dos produtos da Petrobras com as alternativas de mercado devem ser os principais fatores a influenciar os preços domésticos no segundo semestre.
Dados da StoneX mostram que o país continua a comprar o diesel da Rússia, país que foi responsável por 72% do volume desse derivado no ano até o momento. Com isso, os importadores se aproveitam das sanções aos produtos russos na América do Norte e na Europa para garantir melhores condições.
“A Rússia deve seguir sendo uma importante fornecedora de diesel para o Brasil, exatamente por esses preços mais competitivos frente a outras referências no mercado internacional”, diz Garcia.
Um levantamento feito pela Argus junto com empresas importadoras de combustíveis mostrou que no dia 28 de junho o preço do diesel importado proveniente da Rússia era de R$0,22 por litro acima do preço de R$3,39 por litro da Petrobras em vigor no seu terminal de São Luís, no Maranhão. No mercado de revenda para distribuidores, que inclui custos portuários e de tancagem, a diferença foi de R$ 0,45 por litro.
Além disso, a melhor paridade de preços do etanol em relação à gasolina nos últimos meses também fez com que o combustível fóssil tivesse uma queda de 7,2% no consumo entre janeiro e maio deste ano na comparação anual, segundo a StoneX.