BRASÍLIA – A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, assegurou a autoridades bolivianas e representantes do setor de gás natural e da indústria que a companhia voltará a investir pesado na para ampliar a sua produção de gás natural na Bolívia. A ideia é exportar o energético extraído do país vizinho para o Brasil a preços mais competitivos.
Chambriard acompanha a comitiva do presidente Lula à Bolívia para tratar, dentre outras questões, da cooperação energética entre as duas nações, que vem se reaproximando, com acenos de à Bolívia, como o apoio para ingressar ao Mercosul e o convite para participar da cúpula do G20, em novembro, no Rio de Janeiro.
“Queremos voltar a produzir 30 milhões na Bolívia, mas para isso, de novo, esse gás e esse investimento tem que ser capaz de entregar gás para fertilizantes e para a petroquímica brasileira a preços acessíveis”, disse Magda Chambriard durante o Fórum Empresarial Brasil-Bolívia, realizado hoje.
A empresa já foi responsável pela metade da produção boliviana, no pico atingido em 2014, quando o país já produziu mais de 60 milhões de m³/dia.
Hoje, não só a Bolívia produz menos, como a participação da petroleira brasileira caiu para apenas 9 milhões dos 35 milhões de m³/dia no país. Os volumes correspondem ao que a empresa produzia em 2003.
“A condição é que sejamos capazes de fazê-lo chegar ao Brasil a preços acessíveis”, disse.
Segundo a executiva, com preços competitivos, o consumo de gás natural no Brasil pode triplicar, atingindo 150 milhões de m³/dia.
A aquisição de novas áreas na Bolívia não faz parte dos projetos de expansão da atuação internacional, aprovados ano passado, durante a gestão de Jean Paul Prates, que antecedeu Chambriard.
A companhia já possui contratos no país. No curto prazo, a companhia planeja investimentos no projeto exploratório DMO-X3, em Santelmo Norte, que tem um potencial de 2,7 TCFs (sigla em inglês para trilhões de pés cúbicos).
Ao longo do primeiro ano de Lula 3, a gestão de Prates promoveu uma reaproximação com a Bolívia, mas a companhia e outros investidores consideram que o ambiente de negócios do país é inadequado para a entrada em novas áreas. Opinião compartilhada no governo brasileiro.
O governo de Luis Arce sinaliza uma pauta de reformas econômicas, que envolvem uma nova Lei de Hidrocarburos, admitindo maior participação estrangeira nos resultados da exploração mineral, sem abrir mão do controle estatal. Ele conta com sua vitória nas eleições de 2025 para isso.
Lula também defendeu a cooperação para fertilizantes, insumo do qual o Brasil é altamente dependente de importações. “Queremos fortalecer essa parceria com a implantação de uma fábrica de nitrogenados entre Corumbá e Puerto Quijarro”, disse Lula.
Poço DMO-X3 depende de licença ambiental
A companhia já possui um projeto em curso, que tem enfrentado dificuldades na obtenção da licença ambiental, em razão da sensibilidade da região. Fica na área de San Telmo Norte, em Tarija, batizado de Domo Oso-X3 (DMO-X3).
A executiva, contudo, afirmou que o plano é realizar o primeiro poço exploratório em 2025, a um investimento de US$ 40 milhões. A área tem potencial de recuperação de cerca de 2,7 TCFs, segundo a Petrobras.
Como a intenção de aumentar a oferta de gás verbalizada por Chambriard excederia a capacidade do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), o investimento ocorreria a médio e longo prazo, considerando o decaimento e a renovação das reservas.
Presença na Bolívia
A Petrobras está presente no país vizinho há 27 anos e começou a produzir gás natural em larga escala em 2001. A estatal tem hoje mais de 800 empregados diretos, número que tende a aumentar com a efetivação dos investimentos. Nesse período, a Petrobras proporcionou receitas na ordem de US$ 10 bilhões ao Estado boliviano.
Segundo a presidente, a produção e a cooperação caíram nos últimos anos, mas mesmo assim a participação da Petrobras é de 25% hoje da produção de gás boliviana. Hoje um quarto da produção de gás é responsabilidade da Petrobras, assim como 33% das exportações.
“É um volume razoável de gás, e nós temos nesse projeto uma perfuração de um poço prevista para 2025 com licenciamento ambiental pendente. A gente quer afirmar para vocês que nós estaremos onde nós formos bem-vindos”, disse, referindo-se também às questões socioambientais de comunidades impactadas pelo projeto.
Outro ponto defendido durante a apresentação foi o papel do setor de petróleo e gás natural como financiador da transição energética “justa e inclusiva”.
Indústria fala em mudança história
Nota conjunta assinada pelos presidentes da Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia Elétrica (Abrace), Paulo Pedrosa, da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), Lucien Belmonte, da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), André Passos, da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer), Maurício Borges classificaram a negociação na Bolívia como histórica.
O grupo que representa grandes consumidores industriais diz que a agenda é um passo histórico para a ampliação do mercado de gás natural, por meio de maior competição e redução de custos, com impactos para a descarbonização da indústria nacional e o aumento da atividade econômica brasileira.
Segundo o comunicado, a partir das conversas realizadas já será possível iniciar rodadas de negociação para contratação de gás boliviano e argentino sem a participação da Petrobras, o que será fundamental para aumentar a concorrência no mercado de gás, possibilitando maior liquidez, ajudando, inclusive, na viabilização do gás natural vindo do pré-sal.