Diálogos da Transição

Brasil oferta, mas não precifica minerais verdes, mostra estudo

Organizações defendem política nacional para desenvolver cadeia industrial de minerais críticos e estratégicos no Brasil

Brasil oferta, mas não precifica minerais verdes, mostra estudo (Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados)
Pesquisadora titular do Cetem Lúcia Helena Xavier (Foto: Renato Araujo/Câmara dos Deputados)

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Editada por Nayara Machado
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O Banco Mundial estima que serão necessários mais de três bilhões de toneladas de minerais críticos estratégicos para descarbonizar o sistema global de energia até 2050, no entanto, a precificação de produtos verdes ainda é incompatível com o volume de investimentos necessários para ofertá-los, aponta um estudo do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) encomendado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).

“Vimos nesse estudo que a precificação internacional ainda não está a contento. O que significa que temos uma mercadoria de valor, mas que não está atingindo o seu potencial total, isso dito pelas práticas do país e o mercado internacional, que consome o material verde, mas não precificado a contento”, comentou a pesquisadora do Cetem Lucia Helena Xavier, coautora do levantamento.

Ela explica que o Brasil já vem cumprindo metas de descarbonização na produção de alumínio e aço, por exemplo, com o uso de energias renováveis e iniciativas de sustentabilidade. Falta, no entanto, uma política industrial para a mineração do futuro.

Divulgado nesta nesta terça (9/7) durante um seminário sobre o tema na comissão especial sobre Transição Energética e Produção de Hidrogênio Verde da Câmara dos Deputados, o documento mapeia regulamentações em 21 países e traz uma série de sugestões para o desenho de uma política nacional de minerais estratégicos.

O evento foi proposto pelo deputado Arnaldo Jardim (Cidadania/SP), autor do projeto de lei que cria o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten).

Aprovado pela Câmara e aguardando votação no Senado, o Paten abre a possibilidade de utilização de créditos de empresas junto à União como garantia para financiamento de projetos como produção de biocombustíveis, hidrogênio de baixo carbono, energia renovável e armazenamento, a partir do Fundo Verde.

Na visão do deputado, o Brasil tem um enorme potencial em recursos a ser explorado, mas depende de mais fontes de financiamento para se materializar.

Outro mecanismo para destinar recursos ao setor vem do Nova Indústria Brasil (NIB), lançado pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC), que no eixo “Indústria mais verde” prevê a criação de um Fundo de Minerais Críticos.

“Contudo, para que o Brasil encontre seu destino de ‘potência verde’ em meio à transição global, uma Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos, que integre políticas setoriais e as diversas esferas federativas, é mais do que necessária”, observa o Cetem.

O estudo defende que uma política industrial focada nos minerais da transição energética é importante para dar segurança a parceiros comerciais e investidores.

“É de extrema importância que a PNMCE esteja articulada a planos e programas tais quais o  Plano de Transformação Ecológica, o Plano Nova Indústria Brasil, o Plano Clima e outros marcos legais e normativos, promovendo integração interministerial em um tema que afeta toda a nova matriz econômica global, que emerge com descarbonização”, completa.

A busca por uma política industrial parte da premissa de que o Brasil tem muitos recursos, mas precisa mapear melhor seus potenciais e mostrar ao mercado como pretende se posicionar no cenário de transição energética.

No estudo, são apontados diferentes mecanismos de incentivos para apoiar o desenvolvimento de uma cadeia industrial em torno dos projetos e, ao mesmo tempo, incentivar práticas sustentáveis e escuta das comunidades que serão impactadas pelos empreendimentos. Veja na íntegra (.pdf)

O mercado de minerais críticos

Enquanto a produção de cobre cresceu a uma taxa média de pouco menos de 2% nos últimos dez anos (ela caiu 1,6% em 2023), a produção de outros minerais críticos para o sistema energético global continuou a crescer em média cerca de 4% ao ano, segundo levantamento do Energy Institute (EI).

Quase 70% dos metais e materiais críticos para a fabricação de baterias de íon de lítio foram produzidos na região Ásia-Pacífico, com destaque para a China – tanto a maior produtora mundial de cobalto refinado quanto a maior consumidora mundial dele, com quase 87% destinado à indústria de baterias.

A China também respondeu por quase 20% da produção mundial de lítio e 74% do suprimento de grafite.

Já a África foi responsável por quase 75% da extração mundial de cobalto, sendo 96% explorado no Congo (56% do total global).

Na Europa, Portugal possui a maior reserva de lítio (cerca de 60 mil toneladas) e vem buscando entrar nesse mercado – embora historicamente tenha se concentrado na produção de cerâmicas para vidraria.

Há ainda um enorme potencial a ser explorado na América Latina: o chamado Triângulo do Lítio, formado por Bolívia, Argentina e Chile, concentra cerca de 65% das reservas mundiais do minério.

Preços em queda. Ainda de acordo com o EI, os preços dos principais metais e materiais caíram, em média, 26% em 2023. As maiores quedas foram no cobalto (-47%), coque de agulha de petróleo (-36%) e carbonato de lítio (-32%). Já cobre e grafite natural tiveram recuos mais tímidos, de 4% e 15%, respectivamente.

Cobalto e lítio, por outro lado, tiveram saltos expressivos, cerca de 400% acima dos níveis pré-Covid, enquanto o cobre ficou cerca de 140% acima.

Cobrimos por aqui

Curtas

Paradoxo eólico

O mercado de energia eólica vive um paradoxo no Brasil: ao mesmo tempo em que bate recordes de novas instalações de usinas, passa por sua mais grave crise setorial. Foi o que explicou Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), em entrevista ao estúdio epbr durante a EVEx 2024, em Natal (RN). Veja a íntegra

Transição a bordo

A Transpetro iniciou as contratações do novo programa de ampliação e revitalização da frota de navios, com a previsão de embarcações capazes de substituir o combustível marítimo, o bunker, por etanol e metanol no futuro. A licitação para as primeiras quatro unidades foi lançada na última sexta-feira (05/7) e a previsão é iniciar mais uma rodada de contratação de oito unidades, incluindo navios gaseiros, em dezembro ou janeiro. Veja detalhes

Veículos verdes nas licitações

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou nesta terça-feira (9/7) o PL 1086/2024, que estabelece uma margem de preferência de 10% a 20% para compras e locações de veículos flex, híbridos ou exclusivamente movidos a biocombustível ou a hidrogênio. A vantagem também vale para a aquisição de combustíveis para o abastecimento de frotas. O projeto altera a Lei de Licitações.

De olho no hidrogênio e no SAF

Ministério de Minas e Energia (MME) e Embaixada dos Países Baixos se reuniram, na última semana, para discutir oportunidades de colaboração nas áreas de hidrogênio e combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês). A intenção é aproximar centros de tecnologia para que estudos desenvolvidos por eles possam auxiliar parcerias futuras entre os dois países. (MME)

Regulação para novas energias

A ANP assinou na segunda (8/7) um memorando de entendimentos com a Comission de Régulation de l’Energie (CRE), órgão regulador de energia da França, para facilitar a troca de informações e melhores práticas na regulação da transição energética. A cooperação pode incluir áreas como: biogás/biometano; metodologias para tarifas de gás natural; armazenamento de gás; hidrogênio; captura e armazenamento de carbono e descarbonização da indústria de energia, entre outros. (ANP)

Barreira no mercado livre

A principal barreira hoje para a ampliação do mercado livre de energia elétrica é a chegada da informação ao consumidor, avalia a head de Marketing da Electy, Raphaela Rangel. O acesso ao ambiente de contratação livre ainda é dificultoso no Brasil, mesmo para os grandes usuários, que já podem escolher o fornecedor de energia no ambiente livre. Leia na epbr