Energia Eólica

Mercado de energia eólica vive crise inédita, diz Elbia Gannoum

Presidente da Abeeolica defende política industrial específica e aprovação de projetos de lei que incentivem a atividade

Mercado de energia eólica vive paradoxo e crise inédita no Brasil, diz Elbia Gannoum, presidente da Abeeolica, durante entrevista ao estúdio epbr no Evex Brasil 2024, em Natal, em 4/7/2024 (Foto: epbr)
Elbia Gannoum, presidente da Abeeolica, concede entrevista ao estúdio epbr no Evex Brasil 2024, em Natal (Foto: epbr)

NATAL – O mercado de energia eólica vive um paradoxo no Brasil: ao mesmo tempo em que bate recordes de novas instalações de usinas, passa por sua mais grave crise setorial. Foi o que explicou Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), em entrevista ao estúdio epbr durante a EVEx 2024, em Natal (RN). Veja a íntegra acima.

“É a primeira vez que a gente vive uma crise na energia eólica com tamanha intensidade”, afirmou Elbia.

Apesar de um histórico de crescimento e recordes de instalação, a partir de 2022 houve uma redução significativa na demanda por energia, o que resultou em menos pedidos nas fábricas e consequente desaceleração na instalação de novos parques.

“Olhando para um passado muito recente e olhando um passo a mais daqui dois, três anos, as perspectivas são muito boas, mas o curto prazo está insuportável, está insuportável porque a gente está vivendo uma crise de demanda muito forte”, diz.

“De 2022 para cá nós fomos percebendo uma forte redução nos contratos. Hoje mais de 90% dos nossos contratos são contratados no ambiente de contratação livre, no mercado livre e na segunda metade de 2022 a gente percebeu uma redução desses contratos. A redução de vendas de PPA, a redução da venda no mercado livre, ela traz consequência no chão de fábrica, porque o gerador não vendeu seu PPA, ele não vai instalar um parque novo e portanto ele não vai fazer um pedido no chão de fábrica.”

Política industrial e regulação

Elbia explicou que essa crise está relacionada a um ajuste econômico e que a indústria de infraestrutura, como a eólica, sente os efeitos dessas decisões de forma retardada. “Uma decisão que é tomada no ano de 2022, ela vai trazer consequências ali para 2024, 2025 e é o que a gente está percebendo”, destacou.

Ela também mencionou a necessidade de políticas industriais estruturadas para evitar danos permanentes à cadeia produtiva e enfatizou a importância da valorização da produção nacional, já que 80% das turbinas eólicas são fabricadas no Brasil.

“O Brasil precisa realmente valorizar a sua indústria e criar os mecanismos adequados para que essa indústria permaneça sustentada no longo prazo.”

Sobre políticas governamentais, Elbia mencionou o Plano de Transformação Ecológica e o Nova Indústria Brasil, que abordam setores essenciais como energia, mineração e bioeconomia. No entanto, ela enfatizou a necessidade de ver ações concretas para que essas políticas se tornem realidade.

“O ano de 2024 é um ano de lançamento, mas a gente está precisando ver coisas mais concretas.”

A aprovação do Projeto de Lei (PL) do hidrogênio e a expectativa pela aprovação do PL das eólicas offshore foram citadas como sinais positivos, mas Elbia alertou sobre a influência negativa de “penduricalhos” legislativos que atrasam o progresso.

Ela reforçou a urgência na criação de um ambiente regulatório que garanta segurança aos investidores, ressaltando a importância do Brasil preparar-se para uma liderança na transição energética, com uma economia próspera em um futuro próximo.

“O Brasil precisa ter uma legislação mínima, tem que ter uma base regulatória mínima para dar segurança para o investidor e esses projetos são o ponto de partida.”

Preocupação com o longo prazo

Apesar da crise, ela disse estar otimista com as perspectivas de crescimento no longo prazo.

“Quando a gente fala também de longo prazo, de perspectivas, há uma grande perspectiva do crescimento das fontes renováveis no Brasil pela transição energética, pelo papel, pelo potencial que o Brasil tem de exercer uma liderança.”

Elbia concluiu afirmando que, apesar da crise de demanda onshore, é crucial continuar desenvolvendo projetos de eólicas offshore, pois os benefícios desses projetos serão percebidos em longo prazo, alinhando-se à transformação econômica do país.

“Ao mesmo tempo que nós estamos falando que tem sobra de projetos, que não tem contratação, nós estamos falando que tem que fazer offshore.” E acrescentou: “daqui 10 anos nós teremos um outro país, uma outra economia e eu realmente espero que seja uma economia próspera.”

Confira a cobertura exclusiva do estúdio epbr na EVEx Brasil 2024