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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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A partir de 1 de janeiro de 2025, para viajar com a Lufthansa em voos que decolam de países da União Europeia, Reino Unido, Noruega e Suíça, os passageiros pagarão uma tarifa extra para cobrir gastos com combustíveis sustentáveis (SAF, em inglês), comércio de emissões e outros regulamentos ambientais que começam a entrar em vigor.
A companhia aérea anunciou que os bilhetes comprados a partir de hoje (26/6) para viagens de janeiro do ano que vem em diante já contam com a chamada Taxa de Custo Ambiental, que pode variar de 1 euro a 72 euros.
É a alternativa encontrada pela europeia para arcar com as despesas que chegam na esteira de legislações e compromissos internacionais para reduzir o uso de combustíveis fósseis, cortar emissões e, assim, frear as mudanças climáticas que já causam prejuízos de trilhões de dólares em todo o mundo.
Ela não está sozinha. Recentemente, a dinamarquesa Maersk também anunciou mudanças na formação de preços do seu frete marítimo para incorporar futuras despesas com a obrigação de uso de combustíveis de baixo carbono.
Os dois grupos têm em comum a atuação em setores difíceis de descarbonizar, dada a sua alta dependência de derivados de petróleo, a necessidade de alternativas renováveis drop-in que ainda não estão disponíveis em escala – logo, são caras – e o ambiente em que estão inseridas: a Europa.
Como parte da sua política climática Fit for 55, a UE estabeleceu mandatos de mistura de SAF ao querosene convencional, começando por 2% em 2025, subindo para 6% a partir de 2030, 20% a partir de 2035 e 70% em 2050.
“Para o Grupo Lufthansa, isso levará a custos adicionais de bilhões no futuro”, explica a companhia em comunicado.
Soma-se a esta conta o Sistema de Comércio de Emissões da UE (EU ETS) para aviação, em vigor desde 2012, além dos da Suíça (CH-ETS) e Reino Unido (UK-ETS), e o Esquema de Compensação e Redução de Carbono para Aviação Internacional (Corsia), que busca neutralidade climática até 2050.
- Na navegação, a partir de 2025, a intensidade de carbono nos combustíveis marítimos deverá cair 2%, com reduções gradativas ao longo dos anos seguintes até chegar a um corte de 80% em 2050.
E o Brasil com isso?
O país é constantemente apontado como importante player no fornecimento global de SAF – embora ainda não tenha produzido uma gota do produto para disponibilizar ao mercado.
Por aqui, a discussão de um estímulo ao desenvolvimento desta nova indústria está concentrada no projeto de lei do Combustível do Futuro (PL 528/2020), aguardando relatório no Senado. O marco legal, ao criar mandato de emissões para as aéreas cumprirem com uso de SAF, introduz também um mercado cativo para os biocombustíveis de aviação.
Há, no entanto, uma preocupação de companhias domésticas sobre os impactos da substituição do QAV fóssil, mesmo que inicialmente próxima a 1%, sobre os custos de viajar de avião.
Estudo desenvolvido em conjunto pela Airbus, Latam e MIT Joint Program on the Science and Policy of Global Change estima uma perda de 8% nos passageiros por quilômetros-transportados (RPK, em inglês) até 2050 no Brasil, em decorrência do impacto do aumento de custo do combustível sobre os bilhetes.
A agência epbr teve acesso a trecho do estudo ainda não publicado onde se calcula que os custos de produção de SAF para os projetos de biorrefino mais maduros no Brasil são de US$ 0,90 a US$ 1,60/litro. A título de comparação, hoje o do QAV fóssil é de aproximadamente US$ 0,70/litro.
Mesmo apoiando o marco legal previsto para ser votado até agosto, executivos do setor consultados pela epbr são unânimes na defesa de mecanismos para garantir que a descarbonização aérea não se converta em preços restritivos para o consumidor.
Taxa sobre passageiros frequentes
Catástrofes climáticas cada vez mais frequentes e intensas vão mostrando que continuar usando combustíveis fósseis também tem custos extras.
Para reverter esse quadro, empresas e países estão assumindo compromissos e aprovando regulações para incentivar o consumo de produtos mais sustentáveis e amigáveis ao clima, mas também há uma conta a ser paga, como no caso da aviação.
Em 2022, o Conselho Internacional sobre Transporte Limpo (ICCT, em inglês) calculou que a criação de uma taxa sobre viajantes frequentes para pagar a conta da descarbonização da aviação civil pode ajudar a equilibrar a balança do setor.
A proposta é cobrar uma taxa a partir de US$ 9 para o segundo voo de um passageiro a US$ 177 para o vigésimo no mesmo ano.
Isso colocaria o custo climático das viagens sobre os passageiros frequentes mais ricos, afirma o ICCT, com potencial de gerar 81% da receita de passageiros frequentes (2% da população global) e 90% da receita dos 10% mais ricos da população mundial.
Neste cenário, os países de alta renda – como os europeus – contribuiriam com 67% da receita global total.
Cobrimos por aqui:
- Transição energética na aviação custará US$ 5 tri até 2050; veja quem já está investindo
- Brasil enfrenta desafio de descarbonizar aviação sem perder passageiros
- Net zero da aviação pode atrasar cinco anos, indica pesquisa
- Incentivos dos EUA para combustíveis limpos aceleram projetos de SAF
Curtas
Déficit hídrico
A superfície de água em todo o Brasil ficou abaixo da média histórica em 2023, segundo levantamento do MapBiomas Água divulgado nesta quarta-feira (26/6). A água cobriu 18,3 milhões de hectares, ou seja, 2% do território nacional no ano passado. O número representa queda de 1,5% em relação à média histórica, cujo cálculo foi iniciado em 1985. (Agência Brasil)
CCS no Canadá
A Shell anunciou nesta quarta (26/6), a Decisão Final de Investimento (FID) para o Polaris, um projeto de captura de carbono na refinaria de Scotford, no Canadá. Polaris foi pensado para capturar aproximadamente 650 mil toneladas de CO2/ano das operações no complexo, que serão injetadas em reservatórios subterrâneos de outro projeto com FID anunciado hoje, o Atlas Carbon Storage Hub, em parceria com a ATCO EnPower. Veja detalhes
Placas solares no Vaticano
O Papa Francisco, defensor da ação contra as mudanças climáticas, decretou nesta quarta (26/6) a construção de um parque fotovoltaico para cobrir as necessidades energéticas da Cidade do Vaticano. O miniestado em Roma acolhe a sede da Igreja Católica global e compreende a Basílica de São Pedro. É o menor país do mundo, medindo apenas 0,44 quilômetros quadrados. (Reuters)
Nuclear na Índia
A empresa indiana de infraestrutura Megha Engineering ganhou um contrato no valor de 128 bilhões de rúpias (1,53 bilhão de dólares) em uma licitação lançada pela Corporação de Energia Nuclear da Índia (NPCIL). O contrato inclui a construção de dois reatores de 700 MW no sul do país e foi a licitação de maior valor já lançada pela estatal NPCIL. (Reuters)