O mundo está na busca de uma eletrificação que possa alavancar a transição energética. Com esse objetivo, os olhares estão mais voltados para o sol e o vento, energias renováveis que não emitem gases de efeito estufa na sua operação. O problema é que as demandas de eletrificação estão ficando cada vez maiores e custosas: carros elétricos, armazenamento de dados, bombas de calor, etc…
Para garantir todo esse processo são necessárias baterias que armazenem a energia com segurança temporária (quatro horas) como garantia contra a intermitência das fontes eólicas e solares. No caso dos veículos elétricos, suas baterias poderiam também ser usadas no armazenamento de energia para o setor elétrico.
Hoje a tecnologia de baterias usa minerais de forma intensiva na construção destes equipamentos. Para fazermos um MW de eólica precisamos de 10 vezes mais aço do que o necessário para fazer um MW de usina a carvão. E Isso sem contar com os minerais críticos, como as terras raras.
Para fabricar o aço precisamos de carvão e ferro. Na questão das baterias precisamos de vários minerais, como o níquel. A produção e o processamento de níquel têm por base um só país, a Indonésia. Por ter enormes reservas, em dez anos (2013-2023) os indonésios fizeram uma verdadeira revolução, desenvolvendo uma indústria que só vendia minério bruto para transformá-la num centro de processamento desse produto.
Como isso foi possível? Com uma política de Estado, pois a Indonésia tinha minério e energia de baixo custo e política de licenciamento ambiental rápido para os projetos. Isso atraiu investidores, especialmente chineses. Hoje, o país tem 15 GW de energia elétrica produzida por carvão para atendimento as usinas de processamento de níquel. Sem a Indonésia produzindo níquel, não teremos baterias a custos acessíveis.
Quanto ao cobre usado nos motores e nas linhas de transmissão, produzimos 700 milhões de toneladas até hoje e teremos que produzir a mesma quantidade nos próximos 22 anos para atender a demanda da transição energética.
Ocorre que o teor do minério está caindo cada vez mais. Será preciso, então, minerar mais volume para a mesma produção, aumentando o custo do produto final. O desafio da mineração é enorme, já que os processos minerários demandam muito tempo para aprovação, podendo levar 10 a 12 anos, o que afasta investidores.
Geopolítica dos minerais críticos para a transição energética
A necessidade de mão de obra qualificada também é algo importante, pois não temos engenheiros e técnicos para atender a demanda. Por último, mas não menos importante, a concentração geopolítica da produção desses minerais é outro fator de preocupação para os países fora desse círculo.
A China, que em 2030 deverá ter um terço de sua frota de carros elétricos, numa estratégia de importar menos gasolina e diesel, desenvolveu toda a cadeia produtiva dos carros elétricos. Dessa forma, os chineses concentram hoje cerca de 85 % da produção e processamento de terras raras usadas nas pás das usinas eólicas e em vários produtos como telefones celulares e baterias.
A Europa está tentando reduzir a dependência da China, que tem domínio da cadeia de produção de carros elétricos e de painéis solares. Para equilibrar o jogo, os europeus colocam uma taxação de importação e de carbono e tentam se voltar para a mineração e reciclagem dos minerais críticos.
Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos também buscam incentivar a indústria de minerais críticos, colocando muito dinheiro em pesquisa e desenvolvimento para a produção dos minerais estratégicos. Nesse esforço, os americanos já começam a desenvolver projetos de produção de terras raras e grafites sintéticos a partir da indústria do carvão mineral.
Por isso tudo, a transição energética precisa ser vista como um processo tecnológico e ecológico com visão holística. Nessa nova realidade, a segurança mineral e energética deve estar sempre presente, com um olhar sobre as cadeias produtivas, sem demonizar produtos e processos. O segredo é recorrer às tecnologias, inovar os processos e buscar reduzir seu impacto no meio ambiente.
Fernando Luiz Zancan é Presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS).
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