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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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A próxima reunião da Organização Marítima Internacional (IMO, em inglês) para discutir a transição do setor em direção ao net zero está marcada para 30 de setembro de 2024 e o Brasil levará seus biocombustíveis para as discussões.
O país quer que o fórum internacional considere características regionais nos cálculos de intensidade de carbono de combustíveis de origem agrícola, para mostrar que o uso da terra brasileiro é mais sustentável do que diz o padrão europeu.
Além de expandir mercados para a bioenergia nacional, há uma visão de que é possível diversificar o leque de opções para substituir combustíveis fósseis na navegação, hoje muito concentrado em derivados do hidrogênio verde, como metanol e amônia.
“No cenário nacional, estamos muito bem. O Brasil é exemplo de descarbonização e está bem melhor do que o resto do mundo. Então, nesse sentido, parece que já fizemos a tarefa de casa, mas a gente pode fazer ainda muito mais”, comenta a professora Amanda Gondim, coordenadora da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação (RBQAV).
“Há uma oportunidade para o Brasil como negócio, como desenvolvimento de país, para exportação”, completa.
Ela observa que, assim como na aviação, o combustível responde por cerca de 40% das despesas do transporte marítimo e, por isso, é preciso um cuidado para evitar que a mudança no abastecimento tenha o menor impacto possível nos custos operacionais do setor.
“Precisa ser um combustível de alta densidade energética, que não tem custo caro, seja renovável e drop-in. Mas, diferente da aviação, no marítimo, temos algumas alternativas que podem não ser drop-in, o que nos dá uma flexibilidade maior. Isso é uma boa notícia. Tem algumas opções. O biodiesel é uma delas”.
O Brasil na IMO
Em março deste ano, o Comitê de Proteção do Ambiente Marinho (MEPC 81) da IMO concordou com a “ilustração de um esboço possível de uma estrutura de zero líquido” para os navios.
O documento traz uma lista de regulamentos que serão adotados ou alterados para permitir um novo padrão global de combustível. Também está previsto um mecanismo de preços para as emissões de gases de efeito estufa (GEE) marítimas, cuja arrecadação será usada para custear a transição para fontes mais limpas. Essa estrutura deve ficar pronta até 2025.
O Brasil é um dos 175 países membros da IMO e precisa seguir as regras combinadas, concordando ou não, se quiser continuar exportando, apontou o comandante da Marinha Flavio Mathuiy, assessor da Comissão Coordenadora para os Assuntos da IMO, durante um evento da RBQAV no início da semana.
Ele explica que a função do organismo é buscar consenso, o que é difícil, e normalmente as decisões pendem para o lado mais forte – dos países ricos –, por isso o movimento do governo brasileiro de levar uma agenda mais compatível com a sua realidade.
“Os países que lideram esse organismo lideram as discussões. Naturalmente, os países desenvolvidos têm uma força muito grande, e são muito bem coordenados, porque no momento que o presidente do Parlamento Europeu levanta a plaquinha para uma determinada posição, são 28 placas com a mesma posição”.
Para conseguir se contrapor à visão centrada na Europa, o Brasil tem buscado aliados entre os países emergentes com as mesmas dificuldades em levar adiante essa agenda climática.
“Hoje, a gente percebe nas recomendações que alguns países querem ter reserva de mercado, e aí adotam determinadas posições que são contrárias a posições mais abrangentes”.
Em busca de regras factíveis
Segundo o comandante, o Brasil está próximo de alcançar a meta de redução de 40% das emissões setoriais até 2030. O desafio está nas ambições seguintes: novas tecnologias net zero devem representar 5% da energia usada pelo transporte marítimo internacional, perseguindo 10%. E chegar ao líquido zero “por volta de 2050”.
Por isso a importância de quebrar barreiras e preconceitos em relação à produção nacional de biocombustíveis, historicamente criticada pela Europa, onde a produção de energia compete com a de alimentos.
“Na minha visão, o mercado vai ser tão demandante, que não haverá contenção. Na realidade, quem estiver pronto a produzir biocombustível, que seja considerado sustentável, [vai vender]. É isso que a gente está batalhando na regulamentação, para que seja razoável, seja alinhada com a realidade para a sua certificação, de forma que a certificação seja factível e robusta para garantir sustentabilidade”.
Mathuiy afirma que o governo está reunindo documentos e procurando “introduzir ideias fortes” para mostrar a relevância dos biocombustíveis, ao lado de amônia e metanol verdes, como opções viáveis.
“Os biocombustíveis vinham sendo relegados a um segundo plano, só se falava em hidrogênio e amônia. O principal motivo é que os estudos, quando falam em biocombustíveis, falam somente para medidas de curto prazo, não à médio e longo prazo, e sempre excluindo os biocombustíveis de primeira geração, fruto das preocupações com mudanças do uso da terra e a competição food versus fuel. Então, a gente está tentando desmistificar isso”, conclui.
Cobrimos por aqui:
- Brasil reforça defesa de biocombustíveis marítimos com receio de taxa de carbono
- BNDES prevê R$ 2 bi para renovação de frota de navios com foco em combustíveis sustentáveis
- Petrobras testa combustível marítimo com 24% de biodiesel
- Euronav planeja adicionar 120 navios a hidrogênio e amônia verde na frota
- Maersk introduz taxa de combustíveis fósseis
Curtas
Nuclear busca espaço
Enquanto a Eletronuclear tenta concluir as obras de Angra 3, iniciadas em 1984, o setor nuclear tenta importar para o Brasil o movimento global de recuperação da credibilidade – e a disputa por espaço na matriz energética do futuro. A estatal espera agora que a licitação de Angra 3 ocorra no primeiro semestre de 2025. Leia na epbr
Ferro verde no Brasil
A GravitHY, uma iniciativa público-privada europeia, está desenvolvendo a construção de uma planta de produção de ferro reduzido direto (DRI) e Hot Briquetted Iron (HBI), a partir de hidrogênio de baixo carbono, no sul da França, em Fos-sur-Mer. E segundo o CEO José Noldin, a unidade será o primeiro passo da ambição de construir outras unidades na Europa e até mesmo no Brasil. Veja detalhes
Consumidor residencial no mercado livre
A abertura do mercado livre de energia elétrica aos consumidores de baixa tensão, incluindo residenciais, vai precisar garantir a competição e o equilíbrio de encargos e taxas para atrair os potenciais novos clientes, defende o vice-presidente Institucional do grupo Delta Energia, Luiz Fernando Vianna. “Nós vamos ter que ter um equilíbrio muito grande entre os mercados cativo e livre de forma que o mercado livre possa ser competitivo”, afirma em entrevista à agência epbr.
Solar avança no Ceará
A SPIC Brasil inaugurou esta semana o Complexo Solar Panati, na cidade de Jaguaretama (CE), com capacidade de 292 MWp em uma área de 741 hectares. O Ceará soma hoje 1.252 MW de capacidade instalada de energia fotovoltaica centralizada, distribuídas em 51 empreendimentos. Outros 428 empreendimentos solares estão em construção ou em fase de projeto e devem gerar cerca 16.620 MW, segundo projeções do governo local.
Voltalia no mercado de carbono
A produtora de energia renovável anunciou parceria com a consultoria EQAO e a ACX, plataforma global de negociação de créditos de carbono, para transacionar mais de 700 mil créditos de carbono pela primeira vez no Brasil. O volume foi registrado na B3. Os créditos foram gerados por projetos eólicos e certificados pela EQAO.
Artigo da semana
– O potencial nacional do biometano para uma dupla descarbonização A economia circular e o potencial energético do biogás na redução de emissões no transporte pesado, escreve André Ferrarese
A jornalista viajou a Foz do Iguaçu a convite do 3º Congresso da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação.
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