O Brasil é capaz de zerar as emissões líquidas de Gases de Efeito Estufa nos próximos 15 anos e atingir a meta de ser neutro em carbono até 2050, desde que estabeleça um amplo programa de captura e estocagem de carbono e acabe com o desmatamento até 2030, apontam os estudos de longo prazo da Shell.
A conclusão é que o fator mais importante para que o país atinja as metas climáticas será reduzir as emissões referentes ao uso da terra, que incluem o desmatamento e a agricultura. Hoje, essas são as principais fontes das emissões brasileiras.
O estudo aponta que o grande potencial para programas de captura de carbono (CCS) no país está na indústria de etanol, o que teria baixo custo. A maior parte da produção nacional de etanol está em uma região com bom potencial para o armazenamento geológico de carbono.
Para isso, o primeiro passo é regulamentar o mercado de carbono no país. O projeto de lei que cria o mercado regulado foi aprovado na Câmara dos Deputados ao final de 2023 e aguarda análise no Senado. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), tem levado o tema às reuniões de líderes, mas ainda não chegou a um acordo para avançar com o texto para o Plenário.
A petroleira defende ainda a importância de estimular novos investimentos na bioenergia para consumo interno e exportação e fomentar a descarbonização da mobilidade por meio do biodiesel e da ampliação de mandatos para biocombustíveis.
“É importantíssimo criar um mecanismo que estimule a precificação e o comércio de créditos de carbono, vai liberar uma indústria muito grande”, disse o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, a jornalistas nesta quinta-feira (20/6) no Rio de Janeiro.
Caso avance no armazenamento a partir do etanol, o Brasil pode, inclusive, ter emissões negativas até 2040, o que permitiria a venda de créditos de carbono para outros países, conclui a Shell. Isso depende, entretanto, da implementação do Artigo 6 do Acordo de Paris, que cria um mercado de carbono internacional.
Essas projeções, no entanto, levam em consideração um cenário global de longo prazo otimista, o que considera países abertos ao comércio e a continuidade da busca pela transição para uma economia de baixo carbono.
Num cenário pessimista, com a ampliação das tensões globais e aumento de sanções, barreiras comerciais e tarifas internacionais, o Brasil seria capaz de zerar as emissões apenas em 2062.
Petróleo continua importante
Em relação ao setor de petróleo e gás, ambos os cenários preveem que o país vai chegar a 2035 com uma produção de cerca de 4 milhões de barris/dia, com exportações em 1,5 milhão de barris/dia.
A Shell acredita que o país vai atingir o pico de extração de 5 milhões de barris/dia em 2030, mas, num mundo mais fragmentado, o pico da produção nacional poderia ocorrer apenas na década de 2050, quando a produção manteria um platô de 5,7 milhões de barris/dia e o país poderia ser exportador de gás natural.
“O Brasil tem uma oportunidade de acelerar a sua transição energética, mas continuar se beneficiando do avanço da produção, da exploração e da produção de óleo e gás por ainda muitas décadas, suprindo essa necessidade”, disse o presidente da Shell Brasil.
O executivo afirma que as conclusões mostram a importância de manter a competitividade e a estabilidade jurídica e regulatória da indústria de petróleo no país.
“É muito importante manter a competitividade do setor com leilões anuais, mantendo a carga fiscal nos níveis que já está, que é muito alta no momento. Avançar com o marco regulatório de novas áreas, como sequestro de carbono, CCS, hidrogênio é outro ponto”, defendeu.
Setor elétrico ainda pode ampliar geração eólica e solar
No setor elétrico, a expectativa otimista é que o país possa atender a demanda futura por eletricidade por meio das fontes eólica e solar, que têm potencial para chegar a uma capacidade total de 300 gigawatts (GW) nas próximas três décadas, o que depende também do aumento da geração nuclear como carga de base.
Já o hidrogênio pode ganhar espaço a partir da próxima década, com uma contribuição inicial sobretudo para descarbonizar o transporte pesado.
Com base nas previsões, a Shell defende que o país precisa continuar a avançar na abertura do mercado livre de energia, além de ter políticas estáveis, previsíveis e competitivas para investimentos em energia solar e eólica e fomentar o armazenamento de energia.
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