RIO – O empresário Eike Batista está retornando ao setor de energia por meio de projetos de cana-de-açúcar geneticamente modificada. Segundo o executivo, o Brasil poderia produzir 100 bilhões de litros de etanol caso substituísse os atuais 5,5 milhões de hectares plantados de cana tradicional pela versão transgênica, que é mais produtiva. Para ele, essa produção poderia servir como matéria-prima para SAF, o combustível sustentável de aviação, que vai ser usado em mandatos para a descarbonização da aviação.
Batista apresentou no Energy Summit, nesta terça-feira (18/6), no Rio, o projeto desenvolvido pelo agrônomo Sizuo Matsuoka. Questionado, Batista não confirma se está entrando como sócio investidor no projeto e afirma apenas que é um “catalisador”.
“Eu sou um ótimo garoto propaganda”, disse.
O executivo está fora do setor desde que os empreendimentos do grupo EBX, fundado por ele, deram errado. A derrocada do grupo começou com a entrada em recuperação judicial da petroleira OGX em 2013, depois que expectativas de produção nos campos que a empresa operava na Bacia de Campos não se confirmaram.
O empresário foi condenado em 2021, pela 3ª vara criminal do Rio, por crimes contra o mercado de capitais, pelo uso de informação privilegiada e manipulação de mercado. Ele também chegou a ser preso duas vezes, em 2017 e 2019, em desdobramentos da Operação Lava Jato.
Para Eike, faltou “paciência” do setor em relação aos seus projetos.
“O Elon Musk teve muita sorte de ter as empresas dele nos Estados Unidos, porque lá as pessoas têm mais paciência. Em 2019, a Tesla quase pediu falência, mas as pessoas esquecem isso. Aqui, com a nossa mentalidade tropical, pedem ‘amanhã’. Projetos desse tamanho atrasam. Posso falar com orgulho que os meus legados estão todos de pé”, disse se referindo em seguida ao projeto do Porto do Açu, no norte Fluminense, iniciado por ele, mas que hoje é controlado pela Prumo.
“Todos os projetos em que eu investi no Brasil são legados”, acrescentou ao mencionar a iniciativa de geração de energia termelétrica e produção de gás na Bacia do Parnaíba, controlada hoje pela Eneva.
A aposta na cana transgênica vem da maior produtividade em relação ao vegetal natural. Segundo ele, o projeto de Matsuoka pode produzir até 354 toneladas de cana por hectare, quase o dobro das 180 toneladas por hectare da cana normal.
Batista lembrou que o Brasil tem grande potencial para suprir a demanda global por SAF, já que a produção brasileira é baseada na cana, que não compete com gêneros alimentícios, ao contrário do milho.
“Para todo produtor, não tem nada melhor do que ver um mercado infinito”, disse.
Batista acredita ainda que a cana transgênica pode ser usada para a produção de papel e a substituição de produtos plásticos.
“Queimar bagaço, que é uma fibra nobre, é como dar caviar para crocodilos”, disse.
Ele afirma que já teve conversas com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobre o tema, que prometeu um projeto estadual para substituição de embalagens plásticas por aquelas produzidas a partir da cana.
“Esqueçam o plástico. A cana do Brasil, junto com a chinesa e a indiana, vai matar o plástico da indústria”, afirmou.
O executivo comentou ainda o atual momento da geração de energia renovável no Brasil. Para ele, os investimentos em geração solar hoje têm mais potencial do que nas eólicas, sobretudo pela sinergia com o armazenamento em baterias.
“Recomendo todo mundo a olhar mais para o setor solar do que para o eólico”, disse