Energia

Baterias: foco de próximo leilão é segurança energética, diz presidente da EPE

Ministério de Minas e Energia ainda avalia demanda do mercado de renováveis para leilão de potência previsto para agosto

Baterias: foco de próximo leilão de potência é segurança energética, diz presidente da EPE. Na imagem: Posse do Presidente da EPE, Thiago Prado, e celebração dos 19 anos da instituição, em 29/9/2023 (Foto: Ricardo Botelho/MME)
Posse do Presidente da EPE, Thiago Prado (Foto: Ricardo Botelho/MME)

RIO – O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Thiago Prado, indicou que o próximo leilão de reserva de capacidade deve focar nas fontes que são despacháveis e que foram contempladas nas diretrizes que entraram em consulta pública.

Ou seja, que neste momento, a prioridade é contratar a potência necessária para dar segurança ao sistema elétrico.

“O enfoque do ministério nesse momento é de segurança energética, que é o que o sistema elétrico está precisando nessa janela de curto prazo”, disse.

Prado reforçou que a decisão final será do MME e que, caso a pasta decida incluir as baterias neste próximo leilão, a EPE conseguirá habilitar e cadastrar os projetos.

“Eu acredito que o ministério avalie a realização de um segundo certame ou levar as novas tecnologias para um certame futuro”, disse a jornalistas em evento organizado pela EPE no Rio de Janeiro, na manhã de segunda-feira (10/6).

Segundo o executivo, um debate em maio no Ministério de Minas e Energia (MME) buscou alinhar o mercado sobre o fato de que existem questões regulatórias que precisam ser superadas para a inclusão do armazenamento nos leilões.

O plano decenal de expansão de energia (PDE), elaborado pela EPE, mostra que vai haver demanda por reserva de capacidade elétrica no sistema na segunda metade desta década, o que leva à necessidade de mais leilões desse tipo.

“Existem demandas para leilão de reserva de capacidade, o que possibilita ao ministério avaliar a melhor janela de oportunidade para incluir todas essas tecnologias”, acrescentou.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), disse na semana passada que é necessário vencer pendências regulatórias e tecnológicas para a inclusão das baterias nos leilões.

“Nós estamos avançando a passos largos para poder deixar uma legislação regulatória segura na questão das baterias”, disse.

“Se for tecnicamente adequado, será feito nesse leilão. Se não for, nós teremos outros leilões pela frente e com certeza essa tecnologia, que é tão importante, será incentivada para o Brasil”, acrescentou.

Já a respeito da data do leilão, o presidente da EPE disse que é possível que o certame ocorra este ano, mas que ainda é necessário colocar em consulta pública a portaria da sistemática da contratação. Em abril, o MME encerrou a consulta sobre as diretrizes, que incluíram apenas as fontes termelétrica e hidrelétrica.

O objetivo do leilão é contratar geração despachável para o sistema, ou seja, a disponibilidade necessária para atender à carga.

Ganhou força nos últimos meses a possibilidade de participação de renováveis como eólica e solar, desde que junto com baterias. Até hoje, esse tipo de projeto nunca foi contratado num leilão no Brasil, mas a queda nos custos dos sistemas de armazenamento é vista como uma oportunidade para a chegada da tecnologia ao país.

Além da contratação como reserva de capacidade, as baterias também podem fornecer outros serviços ao sistema elétrico, como controlar despachos e tensões.

Entretanto, o presidente da EPE disse que para que as baterias possam prestar outros serviços e “empilhar” receitas, vai ser necessário a adoção de modelos de preços de energia mais sofisticados e dinâmicos.

Estudos para novas hidrelétricas

A EPE apresentou, nesta segunda-feira (10), a agentes setoriais a agenda de trabalho do órgão, que inclui estudos sobre a expansão de gasodutos considerando a oferta de biometano; um simulador de viabilidade econômica de projetos de refino e perspectivas para o aproveitamento do hidrogênio branco, encontrado na natureza, entre outros.

A estatal também pretende concluir este ano os estudos do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima) da hidrelétrica Bem Querer, em Roraima. O projeto pode ir a leilão nos próximos três anos, disse o diretor de estudos econômicos-energéticos e ambientais da EPE, Thiago Ivanoski.

Os estudos foram suspensos nos últimos anos pelo empreendimento estar na área de influência indireta de 11 etnias indígenas.

O projeto, localizado na margem esquerda do Rio Amazonas, deve ter uma potência instalada de 650 megawatts. Nos últimos anos, projetos de grandes hidrelétricas têm enfrentado dificuldades para obter licenciamento ambiental no país.

Ivanoski ressalta, no entanto, que a UHE Bem Querer tem um regime hidrológico diferente do Sistema Interligado Nacional (SIN). Assim, o empreendimento pode ajudar a reforçar o suprimento de energia no período seco, em uma região que depende em diversos momento das termelétricas a diesel, mais caras e poluentes.

Aproximação com o Ibama

A EPE espera fechar um convênio amplo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para discutir projetos de infraestrutura em estudo para o setor de energia.

A expectativa é que o órgão ambiental sinalize eventuais sensibilidades e ajude a formatar melhor as propostas dos projetos que serão levados a leilão, no caso de linhas de transmissão e usinas hidrelétricas, além de iniciativas no segmento de petróleo e gás e de estocagem de carbono.

“O que vai para o leilão já está mais discutido, tem mais consenso. Isso leva menos risco para o empreendedor. A parte boa é que o órgão ambiental já conhece o projeto antes mesmo de chegar lá para o licenciamento”, disse o presidente da EPE.

Além disso, o órgão de pesquisa também pretende começar a incorporar nos estudos para o planejamento do setor indicações sobre a resiliência das fontes de energia às mudanças do clima. A estatal tem buscado parcerias estratégicas com outros órgãos e entidades para internalizar estratégias de resiliência climática ao planejamento do setor, disse Prado.

“É um ‘novo normal’ e a indústria tem que estar preparada para pensar e se adaptar”, disse.