newsletter
Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
[email protected]
Em 2022, os países ricos finalmente conseguiram alcançar a meta de mobilizar US$ 100 bilhões anuais para ajudar as demais nações em suas transições para o baixo carbono, com US$ 115,9 bilhões disponibilizados na forma de financiamento climático, mas o volume – que chegou com atraso – está longe de ser suficiente para apoiar o nível de ação necessário, aponta o think tank Climate Action Tracker (CAT).
Em estudo divulgado nesta segunda (10/6), o grupo de cientistas que mapeia ações climáticas alerta que, no estado atual das coisas, o mundo está em direção a um aquecimento de 2,7°C até o fim do século, bem acima da meta de 1,5°C do Acordo de Paris.
“Embora tardios, alguns governos estão mostrando sinais positivos de ação e aumentando a ambição em suas políticas. As projeções políticas para China, EUA e UE poderiam realmente levar a quedas perceptíveis nas emissões para 2035, se eles implementarem com sucesso suas respectivas políticas. No entanto, esses desenvolvimentos positivos são rapidamente contrabalançados com aumentos projetados nas emissões em outros países, como Indonésia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido”, analisa.
O relatório do CAT chega em meio à Conferência de Clima de Bonn, na Alemanha, que vai até 13 de julho, uma reunião preparativa para a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climática (COP29).
A COP29, marcada para novembro deste ano no Azerbaijão, tem como objetivo chegar a um acordo sobre o financiamento para ações relacionadas à mudança do clima, como transição para longe dos combustíveis fósseis e adaptação de regiões vulneráveis.
Só em adaptação e resiliência – para reduzir a exposição aos riscos climáticos – o Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês) estima serem necessários mais de US$ 200 bilhões anualmente.
Pré-COP29
A primeira semana da reunião de Bonn encerrou no sábado sem consenso ou indicativos de quais serão as bases de negociação da COP29. O principal ponto de divergência é que países ricos cobram muito, mas estão pouco dispostos a arcar com os custos da transição para o baixo carbono de países pobres.
A discussão em Bonn gira em torno da Nova Meta Coletiva Quantificada (NCQG, da sigla em inglês), que substitui e dobra a meta de US$ 100 bilhões em recursos para emergentes e vulneráveis estabelecida em 2009, em Copenhagen. Mas como ela só foi cumprida em 2022, é preciso definir mecanismos para que a NCQG não fracasse de novo.
“Os governos dos países desenvolvidos precisam aumentar urgentemente a quantidade de financiamento climático que prometeram e mobilizaram, para apoiar uma transição justa e equitativa para um mundo compatível com o Acordo de Paris”, diz o documento do CAT publicado hoje.
Além do financiamento público, o think tank defende o redirecionamento de recursos do setor privado para que a escala total do dinheiro disponível para investimentos em mitigação corresponda às necessidades climáticas, estimadas em trilhões por ano.
“Até o momento, o redirecionamento do financiamento do setor privado permanece inadequado, e a mobilização do apoio dos bancos multilaterais de desenvolvimento também é insuficiente para fornecer suporte aos países em desenvolvimento para fazer os investimentos necessários e criar um ambiente favorável para que o setor privado cubra a maior parte dos investimentos necessários para a transição energética”, completa.
Fluxos renováveis
A Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) estima que os investimentos em transição energética devem superar os fósseis, chegando ao dobro do que é destinado a petróleo, gás e carvão.
Apesar das pressões sobre o financiamento, a organização estima que o investimento total em energia deve superar US$ 3 trilhões em 2024 pela primeira vez, com cerca de US$ 2 trilhões destinados a tecnologias de energias renováveis, veículos elétricos, energia nuclear, redes, armazenamento, combustíveis de baixa emissão, melhorias de eficiência e bombas de calor.
No entanto, a IEA alerta que ainda existem grandes desequilíbrios nos fluxos de capital em muitas partes do mundo. Países de renda média e baixa fora da China atraem apenas 15% do investimento global em energia limpa – bem abaixo do necessário para atender à crescente demanda em muitos deles. Entre as barreiras está o alto custo de capital, que desencoraja o desenvolvimento de novos projetos.
Brasil em busca de capital
Começou nesta segunda (10/6), em Fortaleza (CE), a terceira reunião do grupo de trabalho de arquitetura financeira internacional do G20 – grupo que reúne as maiores economias globais (65% da população mundial e 85% do dinheiro). E uma das pautas é justamente o crescimento econômico de países emergentes em meio ao cenários de crise climática.
“Estamos discutindo a integração de pagamentos internacionais e como isso impacta na economia, nos fluxos de capitais, como fazer para atrair fluxos de capitais mais resilientes e de longo prazo”, disse a jornalistas a representante do Banco Central do Brasil, Cynthia Azevedo.
O estado brasileiro do Ceará está em busca desses investimentos internacionais. O governo local tem se mobilizado para viabilizar um hub de hidrogênio verde no Porto do Pecém, que tem 30% do seu controle acionário nas mãos do Porto de Roterdã, na Holanda, principal porta de entrada para Europa.
“Esse é um exemplo concreto do que as instituições financeiras podem colaborar. Nós vamos fazer um investimento no Porto do Pecém para adaptá-lo à possibilidade de exportação de hidrogênio verde e através de um financiamento do Banco Mundial de US$ 100 milhões nós vamos fazer esse investimento”, exemplificou o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), na abertura da reunião do GT.
Segundo Elmano, a expectativa é que o G20 atue para concretizar os compromissos internacionais com a descarbonização.
“Não é possível descarbonizar o planeta sem ter medidas concretas para realizar uma transição energética nas nossas economias, especialmente nos países industrializados. E possibilitar que regiões do mundo, regiões do nosso país que não tiveram oportunidade de se industrializar, que a nova matriz energética sirva de oportunidade para que nós não tenhamos processos de desigualdades regionais muito aguçados como os que temos hoje”, completou.
Cobrimos por aqui:
- Quão longe estamos da meta de triplicar renováveis?
- Transição é oportunidade para América Latina, mas falta investimento em infraestrutura
- Fabricação de tecnologias limpas movimentou US$ 200 bi em 2023
- G7 indica fim do carvão até 2035 – mas deixa uma brecha
Curtas
Térmicas no PL das eólicas offshore
Ex-ministro de Minas e Energia (2015-2016), o senador Eduardo Braga (MDB/AM) afirma que a contratação de térmicas a gás natural é uma medida necessária para garantir a “segurança energética do país”. Essa foi uma demanda incluída no projeto de lei que, originalmente, tratava da geração de energia no mar, o PL das eólicas offshore, atualmente sob relatoria do senador Weverton Rocha (PDT/MA). Leia na epbr
Lula no G7
O presidente brasileiro participa nesta semana da Cúpula do G7, reunião de líderes das sete maiores economias do mundo, a convite da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. No G7, Lula deve defender as agendas do Brasil no G20 como inclusão social, enfrentamento das mudanças climáticas, transição energética e desenvolvimento sustentável, além da reforma das instituições de governança global. (Agência Brasil)
R$ 9 bi para investimentos sustentáveis
O BNDES anunciou no sábado (8/6) acordos com o China Development Bank (CDB) e o Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB) com a finalidade de financiar infraestrutura e indústria no Brasil. Os contratos foram assinados durante visita da delegação brasileira à China. Entre eles, prevê empréstimo de longo prazo de até US$ 800 milhões (aproximadamente R$ 4,2 bilhões) com o CDB nas áreas de energia elétrica, manufatura, agricultura, mineração, água, mudança climática e desenvolvimento verde. (Estadão)
Clima prejudica indústria
As enchentes e enxurradas provocadas pelas fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul a partir do fim de abril tiveram seu impacto negativo sobre a indústria gaúcha mensurado pela Receita estadual, que constatou uma queda de 15,6% nas vendas ao longo do mês de maio, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Setor de insumos agropecuários, com -39,1% em maio, foi o mais prejudicado. (Agência Brasil)