RIO – O BNDES deve lançar, na próxima semana, o edital para acesso ao Fundo de Minerais Estratégicos, que pretende captar no mercado até R$1 bilhão para pequenas e médias empresas que atuam no setor de minerais críticos utilizados para transição energética e fertilizantes.
A iniciativa é uma parceria com a Vale, que também deverá ser uma das investidoras do Fundo.
As informações foram dadas pelo chefe do Departamento de Indústria de Base e Extrativa do banco de fomento, Flavio Moraes, durante audiência da Frente Parlamentar de Mineração na Câmara dos Deputados, na quinta (23/5).
“É uma participação acionária por meio do fundo, não é uma participação direta do BNDES. É uma participação indireta, em que o BNDES se coloca como um investidor âncora, onde ele se compromete a aportar até R$ 250 milhões com até 25% de participação”, disse Moraes.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, havia antecipado em janeiro os planos do banco para participação em empresas de setores estratégicos, como de minerais críticos.
Além do Fundo dedicado, os projetos de minerais críticos no Brasil ainda podem acessar recursos disponíveis no Fundo Clima e no BNDES Mais Inovação, além de fundos não reembolsáveis para pesquisa e desenvolvimento de materiais críticos.
Desenvolvimento da indústria
O governo enxerga nos minerais críticos uma oportunidade de industrialização no país. Em um primeiro momento, no processamento químico desses minerais e, posteriormente, no beneficiamento e uso na indústria de transformação.
Para isso, deve lançar ainda este semestre o Programa Mineração para a Energia Limpa, segundo Vitor Saback, secretário Nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia (MME).
O programa prevê o financiamento com ajuda do BNDES e Ministério da Fazenda, promoção internacional e desenvolvimento de tecnologia para o setor.
“O mundo tem tratado isso como apoio a pesquisa e desenvolvimento, financiamento em condições preferenciais, eventualmente subsídios onde precisa na cadeia. E é dessa forma que também queremos tratar esse assunto”, disse o secretário.
“Temos que avançar ainda mais neste modelo de transformação mineral. Uma indução econômica que permita que induza essas companhias a ter essa transformação mineral aqui no país, agregando emprego e renda na nossa comunidade”, completou.
Segundo Saback, há um interesse muito grande de países da Europa e dos Estados Unidos em investir em transformação mineral no Brasil.
“No cenário geopolítico mundial há uma favorabilidade muito grande para que nos tornemos um grande agente transformador de minerais”.
Diversificação da cadeia de suprimentos
O pano de fundo desse movimento é a necessidade desses países em diminuir sua dependência de insumos da China, garantido múltiplos suprimentos de minério que permitam a segurança energética e industrial.
Hoje, a China concentra 80% da capacidade global de processamento do concentrado de lítio, e 70% da produção de terras raras.
Marcelo de Carvalho, diretor executivo da Meteoric Resources no Brasil, confirmou o interesse internacional no Brasil para realocar a cadeia produtiva de minerais e seus subprodutos.
“Estamos buscando parceiros para desenvolver a cadeia de downstream no Brasil. Queremos desenvolver aqui, não queremos exportar commodities”.
A empresa desenvolve um projeto de terras raras com recursos minerais estimados de 500 milhões de toneladas em Poços de Caldas, Minas Gerais.
“A China produz 70% das terras raras no mundo, mas produz 98% dos ímãs de terras raras. Hoje, o mercado de energia eólica, de empresas que fabricam motores elétricos de alta performance são totalmente dependentes da China”, disse o diretor da Meteoric.
A empresa possui carta de intenções com a Exim Bank USA, agência de crédito à exportação dos EUA, para financiamento das operações da companhia em Minas Gerais.
“Existe uma força dos mercados ocidentais, Estados Unidos e Europa, para desenvolver novas fontes de suprimento, não só de elementos mas também de produtos. E esse projeto [em Poços de Caldas] se encaixa bem nisso”, destacou.
Carolina Batista, diretora de Comunidade, Relações Governamentais e Institucionais e Jurídica da Energy Fuels, que atualmente realiza estudos na Bahia para exploração de de urânio e terras raras, também aponta o anseio em desenvolver algum nível industrial no país.
“A nossa ideia é investir no Brasil, é fazer a primeira fase de beneficiamento no Brasil”, disse.
Demanda eólica offshore
Pedro Henrique Vilela, responsável por assuntos governamentais e regulatórios para a América Latina da Vestas, fabricante de equipamentos eólicos, observa uma novo mercado que deve impulsionar ainda mais a demanda por terras raras: os futuros parques eólicos offshore no Brasil.
Até abril de 2024, o Ibama contabilizava 97 pedidos de licenciamento de parques na costa brasileira, um total de mais de 234 GW de capacidade e 15,5 mil aerogeradores.
Para Vilela, só esse segmento, caso se estabeleça no país, poderá duplicar a demanda por minerais de terras raras até 2029.
O representante da companhia pontuou o processo de desindustrialização do setor no Brasil, com empresas de turbinas que interromperam suas operações ou até mesmo deixaram o país nos últimos anos, e que são necessárias políticas públicas, do governo e Congresso, para estimular a permanência e expansão dessa indústria.
“Temos que garantir no curto prazo que essa indústria se mantenha essa indústria viva (…) Se perdermos essa indústria onshore, não teremos a possibilidade ter a indústria aqui fabricando uma eólica offshore, demandando minerais de terras raras para fabricação de ímãs permanentes no Brasil”.