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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Usados para armazenar, processar e distribuir dados, os data centers estão crescendo consideravelmente no Brasil e no resto do mundo, alavancando a demanda por energia.
Essa expansão acelerada é usada como argumento pela indústria de óleo e gás para dar longevidade às suas atividades, já que, quanto mais avançamos em digitalização e inteligência artificial, maior é a demanda por fornecimento seguro de energia.
Dados da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) mostram que, desde 2010, o número de usuários da Internet mais do que dobrou, enquanto o tráfego global na rede aumentou 25 vezes.
Se, por um lado, a eficiência energética tem ajudado a moderar o crescimento do consumo de eletricidade desses centros (hoje em torno de 1-1,5% da demanda global), por outro, o setor já responde por 1% das emissões de gases de efeito estufa relacionadas à energia, com cerca de 330 milhões de toneladas de CO2 equivalente emitidas em 2020.
A IEA afirma que esse volume precisa cair pela metade até 2030, para alinhar com o objetivo de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até 2100. Vale dizer que o planeta já está cruzando esse teto.
Não à toa, governos ao redor do mundo estão apertando as regras para a construção dos centros, com receio dos impactos sobre as redes elétricas e também sobre as metas climáticas nacionais.
Irlanda, Alemanha, Cingapura e China, bem como um condado dos EUA e Amsterdã, nos Países Baixos, introduziram restrições sobre novos centros de dados nos últimos anos para cumprir requisitos ambientais mais rigorosos, relata o Financial Times.
Demanda de 2,5 GW
Aqui no Brasil, Ministério de Minas e Energia (MME) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE) calculam que a evolução da carga prevista para os data centers pode chegar a 2,5 GW até 2037, considerando apenas novos projetos nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Ceará.
As pastas estão elaborando estudos para inserir essa demanda no planejamento energético, observando questões como suprimento e índices mínimos de eficiência energética para equipamentos e edificações.
- Segundo o MME, a eletricidade representa mais de 60% dos custos operacionais de um data center, que precisa de energia ininterrupta para manter os sistemas de resfriamento constantemente ativos.
O ministério contabiliza 12 projetos com pedidos de acesso à rede de transmissão de energia elétrica do Brasil. Sete deles já estão com portarias emitidas e cinco seguem em elaboração ou análise do Estudo de Mínimo Custo Global (EMCG), que avalia o ponto ótimo de conexão na rede, a partir de critérios técnicos e econômicos.
A tendência é de expansão. Levantamento da Arizton, empresa de inteligência de mercado com sede na Irlanda, aponta que o Brasil concentra 40% dos investimentos em data centers na América Latina.
Eletricidade para IA
Serviços de streaming, jogos em nuvem, blockchain, inteligência artificial, aprendizado de máquina e realidade virtual estão impulsionando a demanda por serviços de dados, e, consequentemente, de energia.
No mundo, um estudo da Universidade de Stanford, publicado na Nature Electronics, estima que, até 2030, a quantidade de energia necessária para treinar modelos de IA – como chatGPT, por exemplo – ultrapassará o consumo energético global atual.
- Opinião | Diminuir para crescer: A evolução dos modelos de linguagem para uma IA mais ecológica Pequenos Modelos de Linguagem (SLMs) estão transformando a inteligência artificial, proporcionando eficiência com menor impacto ambiental, analisa Luis Quiles
Big techs renováveis
Com políticas climáticas ficando mais rigorosas e a eletricidade pesando nos custos operacionais, grandes empresas de tecnologia recorrem a projetos de geração eólica e solar para abastecer suas operações.
Microsoft, Google e Amazon, que operam alguns dos maiores centros de processamento de dados do mundo, também integram a lista de empresas que mais compram energia renovável em contratos de longo prazo, além de investirem em outras soluções como hidrogênio, combustíveis sustentáveis e até nuclear.
Em outubro de 2023, a Microsoft disse que iria comprar energia nuclear para cobrir 35% da demanda de um dos seus centros de dados na Virginia, segundo o FT.
A jornada é longa e o tempo, curto
Inundações, ondas de calor e incêndios dão o tom da urgência de cortar emissões e conter a mudança climática.
A IEA alerta que as compras de energia renovável ou certificados I-RECs (cada vez mais comuns) não significam que os centros de dados estão sendo alimentados exclusivamente por fontes renováveis – o que gera incertezas na mitigação das emissões do mundo real.
A recomendação é trabalhar rumo à energia livre de carbono 24/7, diversificando o portfólio de fontes.
Cobrimos por aqui:
- Brasil põe à prova políticas para choque em demanda de óleo
- Hidrogênio deve ser usado para descarbonizar indústrias sem outras opções
- Como as empresas brasileiras estão migrando para a economia verde
- Big techs lideraram compra de energia limpa em 2022
- Como 5G e transição energética estão conectados
Curtas
Plano de adaptação
O Plenário do Senado deve analisar nesta terça-feira (14), um projeto de lei que estabelece normas para a formulação de planos de adaptação às mudanças climáticas. As principais diretrizes incluem a criação de instrumentos econômicos, financeiros e socioambientais de adaptação; e a integração entre as estratégias locais, regionais e nacionais.
Litígio climático
Cerca de 5.000 pessoas entraram com processos contra o poder público por prejuízos causados pelas enchentes nos últimos oito anos, no Rio Grande do Sul, segundo levantamento feito pelo UOL com base em dados do Tribunal de Justiça do estado. As ações responsabilizam governo estadual e prefeituras de oito cidades da região metropolitana.
Das 441 cidades em calamidade no RS, só 69 pediram recursos federais
Segundo o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, ainda é pequeno o número de municípios gaúchos que buscaram recursos emergenciais federais para cuidar das pessoas afetadas pelas chuvas e enchentes que assolam o Rio Grande do Sul. (Agência Brasil)
Recorde de importação de painéis solares
As importações brasileiras de módulos fotovoltaicos alcançaram 5,6 GWp nos três primeiros meses de 2024, maior índice registrado na avaliação trimestral, de acordo com mapeamento da consultoria Greener. Desse total, 1,7 GWp (30%) foi destinado à geração centralizada.
7 mil eletropostos
Estimativas da Greener apontam que o Brasil deve encerrar 2024 com cerca de 6,8 mil estações de recarga para veículos elétricos em operação, com a instalação de 2,5 mil novas estações ao longo do ano. No período entre janeiro e agosto de 2023, houve um aumento de 28% na quantidade de eletropostos públicos.
Quase 70 habilitadas no Mover
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) divulgou, na última semana (10/5), que 69 empresas já se habilitaram para receber os incentivos do programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover). Do total, 67 são para unidades de produção de autopeças, veículos leves e pesados no Brasil, uma para serviços de P&D e outra para o projeto de relocalização da FCA Fiat Chrysler. Veja a lista
Incentivos para biodegradáveis
A Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado aprovou o projeto do senador Plínio Valério (PSDB-AM) para incluir os plásticos biodegradáveis entre os produtos com alíquota zero de PIS/Pasep e Cofins. O PL 780/2022 altera a lei que estabeleceu a redução desses impostos para produtos como fertilizantes e farinha de trigo. A proposta segue para debate na Comissão de Assuntos Econômicos. (Agência Senado)
Cogeração descarbonizada
A Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen) formou um grupo de trabalho empresarial para estudar medidas de descarbonização para o setor. Os trabalhos serão coordenados pela clean tech Carbono Zero com objetivo de mensurar o potencial de redução de emissões nas organizações e quantificar o carbono evitado, fomentar produção de biogás e biometano, além de avaliar a viabilidade técnica de desenvolver um modelo de geração de créditos de carbono nos projetos de cogeração.