As condições de fornecimento muitas vezes são mais importantes para a competitividade do gás natural do que os preços, avaliou o gerente de Comercialização de Gás Natural da Repsol Sinopec Brasil, Andrés Sannazzaro, em entrevista ao estúdio epbr na gas week 2024, nesta quinta-feira (18/4). Assista acima a entrevista na íntegra.
O executivo citou flexibilidade e eventuais penalidades nos contratos como componentes importantes das negociações. “Um gás flexível, mesmo tendo o mesmo preço, é mais competitivo que um gás não-flexível”, afirmou.
Sannazzaro defende que as discussões sobre a competitividade do gás contemplem outros elos da cadeia, como escoamento, processamento, transporte e distribuição.
Nesse contexto, argumenta que a remuneração dos gasodutos de escoamento precisa ser diferente dos dutos de distribuição e transporte, que são empreendimentos regulados. Para ele, o escoamento precisa ter livre acesso aos produtores, mas também precisa ser reconhecido como um modelo de negócio diferenciado.
“Um gasoduto de escoamento faz parte do investimento de risco do upstream”, afirmou.
Ainda a respeito da competitividade da molécula, Sannazzaro criticou as discussões sobre a inclusão de um mandato para o biometano no Projeto de Lei do Combustível do Futuro. “Promover um combustível específico deveria ser através de incentivos, em lugar de obrigações”, disse.
“A transição energética é um assunto tão complexo que pensar que só pode ser resolvido com uma ferramenta, uma opção, dá lugar a uma conclusão errada. Temos que atacá-la com todas as ferramentas disponíveis”, acrescentou.
Ampliação da demanda
O executivo defendeu que os debates sobre gás no país precisam focar mais na ampliação da demanda. Ele lembrou que existem grandes projetos para o aumento da oferta nos próximos anos, incluindo o Rota 3 e o projeto de produção em Sergipe-Alagoas, da Petrobras, e o projeto de Raia, na Bacia de Campos, que é operado pela Equinor (35%), em parceria com a Petrobras (30%) e a Repsol Sinopec 35%).
“O gás vai estar aí. Quais são as medidas que temos que fazer, todos nós e o governo também, para essa demanda acontecer?”, questionou.
Para ele, um dos caminhos para a ampliação da demanda pelo gás está no setor de fertilizantes, com tratamento fiscal diferenciado para o uso do gás como matéria-prima
Sannazzaro explicou que a venda do gás de Raia direto para clientes finais é uma das opções avaliadas pela Repsol Sinopec. Hoje, a companhia vende a produção no país para comercializadoras.
“Já somos um player de comercialização, mas é verdade que o projeto Raia vai nos colocar em outro patamar, com uma produção bem considerável”, afirmou.
Ao todo, Raia vai ter capacidade para produzir 16 milhões de m³/dia de gás, o que corresponde a cerca de 15% da demanda nacional. A previsão de entrada em operação é em 2028.
Cobertura completa da gas week 2024 realizada pela agência epbr