Temos avaliado um horizonte positivo e promissor para o segmento de lubrificantes no Brasil, que seguirá crescendo em 2024. Alguns fatores contribuem para o resultado de recuperação do segmento no pós-pandemia, como o aumento das vendas de veículos automotores nos últimos 12 meses, continuidade do crescimento da produção agrícola e a superação de alguns gargalos logísticos e de infraestrutura que, por exemplo, impactavam a importação e compra de óleos básicos.
Podemos verificar a retomada do volume e da rentabilidade, que são bons ventos que devem continuar nos próximos três anos. Em 2023, ainda podemos perceber a reversão de um processo de deterioração no mix de produtos comercializados na troca de óleo, como, por exemplo, a redução do top-up (reposição do nível de lubrificante).
Estimado como o sexto maior mercado de lubrificantes do mundo, com um volume de aproximadamente 1,35 bilhão de litros ou 8,5 milhões de barris, o Brasil atingiu um crescimento de volume de aproximadamente 6% em 2023, acima dos anos anteriores desde o severo impacto da pandemia.
O mercado agrícola, por exemplo, atinge produção recorde de grãos, ano após ano, e tem sido o maior impulsionador do consumo de lubrificantes no país. Neste cenário, devemos considerar o agrobusiness brasileiro em seu contínuo investimento e elevadas taxas de mecanização e automação, que demanda lubrificação contínua.
O negócio de lubrificantes no Brasil está passando por uma transformação: a demanda por produtos premium, impulsionada por uma busca de economia altamente eficiente e de baixo carbono, e o advento da eletrificação não são mais uma tendência, mas uma realidade potencial.
Depois da pandemia, as empresas que conseguiram implementar uma matriz de fornecimento com parceiros estratégicos se diferenciaram pela eficiência, flexibilidade e confiabilidade aos seus clientes, e que ficou evidenciado como a maior adição de valor, diferentemente de um período em que o mercado entendia esses componentes como base de uma relação comercial capturada na essência pelo termo take for granted.
Há também uma “estrada aberta” de oportunidades de atualização no mercado que impactará positivamente a matriz de óleos básicos no Brasil. Por exemplo, o volume vendido ao mercado de lubrificantes premium, necessários para atender às exigências dos motores modernos, ainda não é compatível com a quantidade de veículos novos no mercado. Porém, este cenário deverá mudar nesta década.
Logística de distribuição e gestão tributária
O importante é que a cadeia produtiva de lubrificantes no Brasil já possui todos os recursos necessários para apoiar esse movimento, como tecnologia de aditivos e disponibilidade de óleos básicos de qualidade.
Entretanto, os pontos que requerem atenção e análise criteriosa são questões relacionadas à logística de distribuição e à gestão tributária, devido às grandes distâncias entre as cidades do país e aos diferentes regimes tributários dos estados da federação. Este último, acreditamos ser dirimido pela reforma tributária.
Uma das vantagens que precisa ser destacada no mercado brasileiro é o papel preponderante do agente regulador – a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).
Suas atividades regulatórias e educativas incluem as regras que precisam ser adotadas para quem deseja ingressar no negócio de lubrificantes, como a adesão ao registro de produtor ou importador de lubrificantes, que inclui auditorias na fábrica e a necessidade de registro de todos os produtos automotivos.
A agência tem liderança no monitoramento e auditoria do volume de óleo usado que precisa ser coletado. Quem não cumprir as regras de percentuais que precisam ser recolhidos, recebe multas severas. Em 2024, a meta média será de 48,3% do volume total produzido.
Neste caso, alguns tipos de lubrificantes, principalmente aqueles para lubrificação por perdas, estão isentos. Este é um fator essencial para promover a economia circular no país. O país tem avançado positivamente nessa temática, excedendo em 2023 o percentual obrigatório na ocasião de 47,5%.
No campo de ESG, analisamos que a transição para a eletrificação não ocorrerá apenas direcionado pela sustentabilidade, mas também pela competitividade, melhor tecnologia embarcada e/ou maior satisfação dos clientes oferecida pela indústria automotiva no segmento elétrico/hibrido.
O Brasil está alguns passos à frente no uso de energias renováveis, tanto na matriz energética quanto na elétrica. Por exemplo, a matriz de energia renovável representa 48% sobre 15% numa perspectiva global. O mesmo acontece com a matriz elétrica, que apresenta um conteúdo de 83% de renováveis versus 17% na média internacional.
Considerando todos os elementos acima, podemos afirmar que o mercado brasileiro de lubrificantes, é uma atividade essencial, está em viés de crescimento, preparado e com boas oportunidades para investimento.
Este artigo expressa exclusivamente a posição dos autores e não necessariamente da instituição para a qual trabalham ou estão vinculados.
Marcelo Guimarães é gerente Executivo de Óleos Básicos da ICONIC.
Fernanda Ribeiro é gerente de Produtos da ICONIC.
Thiago Junqueira é gerente de Inteligência de Mercado da ICONIC.