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Editada por André Ramalho
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PIPELINE Argentina sinaliza a empresários brasileiros interesse em exportar gás. A mensagem é que há gás de sobra e predisposição a negociar contratos de longo prazo com a indústria brasileira.
PL do Combustível do Futuro é aprovado com programa de descarbonização do mercado de gás natural, via biometano. Eneva avalia leião de reserva de capacidade e prepara estreia na comercialização de gás de Sergipe. PT tenta segurar Profert e mais. Confira:
A MENSAGEM ARGENTINA
Nossos vizinhos têm gás de sobra para exportar ao Brasil e veem condições favoráveis para negociar contratos de longo prazo com a indústria daqui.
Essa foi a mensagem dada pelos argentinos (autoridades do governo e agentes do mercado) a um grupo de empresários brasileiros que viajou a Buenos Aires no início do mês, ao lado de membros do governo, para prospectar oportunidades de importação de gás.
No encontro, a estatal argentina Enarsa sinalizou que, garantida a expansão da infraestrutura necessária, estão criadas as bases para o envio do gás ao Brasil a partir de 2027.
Como antecipado pelo político epbr, serviço de assinatura exclusivo para empresas (teste grátis por 7 dias), a empresa estima que o envio de gás ao mercado brasileiro pode começar com uma capacidade mínima de 11,5 milhões de m3/dia.
A missão brasileira a Buenos Aires foi organizada com o objetivo de abrir as conversas e entender melhor as perspectivas do país vizinho, após a mudança do governo local.
Ainda não foi o momento de se colocar propostas na mesa, mas os argentinos prometeram um gás competitivo.
A seguir, a gas week apresenta as principais mensagens compartilhadas pelas autoridades e produtores do país vizinho, com base em relatos de três pessoas que participaram das conversas na capital argentina.
PRECIO, PRECIO, PRECIO…
Dos produtores argentinos, os brasileiros ouviram as perspectivas de boom da oferta de gás de Vaca Muerta – que tem potencial para manter um platô por 20 anos, num cenário de gás abundante para abastecimento dos mercados interno, regional e global (via GNL).
Os preços do gás em Vaca Muerta, de US$ 3,5 o milhão de BTU na média, são extremamente competitivos… mas não quer dizer que a indústria brasileira conseguirá pagar algo parecido.
As exportações na Argentina são regidas por preços mínimos – o Chile, por exemplo, paga cerca de US$ 6,3 o milhão de BTU pela molécula este ano.
A Enarsa estima que seja possível vender gás em São Paulo a entre US$ 9 e US$ 10 o milhão de BTU (molécula + transporte). Para efeitos de comparação, o preço da Petrobras, com transporte, é superior a US$ 12 o milhão de BTU atualmente.
Mas tudo ainda está no campo das estimativas. Não houve uma negociação formal de preços nesse primeiro encontro.
Preços, prazos, volumes… todos esses números ainda são estimativas que, para se concretizarem, dependem de um longo caminho a ser percorrido.
Falta, por exemplo, clareza sobre as tarifas de conexão do gás argentino para o Brasil – sobretudo na hipótese de o gás vir a passar pela infraestrutura da Bolívia.
Falta transparência sobre as tarifas de transporte na própria Argentina – cujo governo atual, de Javier Milei, promete uma revisão geral dos subsídios contidos na tarifa do gás.
Esse cenário pode levar a um reajuste dos valores atualmente praticados (as tarifas das transportadoras devem começar a subir a partir de abril).
Quanto aos prazos, tudo vai depender, claro, do ritmo das negociações, ajustes regulatórios e dos investimentos em infraestrutura.
TENEMOS GAS, PERO…
Do lado argentino, os agentes bateram na tecla de que as condições para viabilizar as exportações são favoráveis, mas que será necessário: fortalecer o regime regulatório local para exportações (eliminando restrições), além de muita coordenação entre os dois países (ou três, se a rota de exportação for via Bolívia); e investimentos na rede de gasodutos da Argentina (e do Brasil, se a opção foi importar via Uruguaiana/RS).
Os argentinos, aliás, lembram que a construção do segundo trecho do Gasoduto Néstor Kirchner ainda está pendente de financiamento e não tem prazo para ser concluída neste momento. O projeto, plenamente implementado, permitirá aumentar o envio de gás ao Norte argentino, abrindo as portas para exportação de grandes volumes.
Ainda não está claro quem assumirá os investimentos na Argentina – a intenção do governo atual é aumentar o protagonismo de capital privado.
Também resta saber quanto de fato a Argentina terá para exportar ao Brasil em bases firmes (dado o caráter sazonal da demanda interna, que cresce abruptamente no inverno). Segundo fontes, os agentes argentinos veem espaço para negociar contratos de longo prazo firmes.
Próximos passos. Os dois governos sinalizaram que vão avançar nos estudos de integração – que pode incluir, num segundo momento, a inclusão da Bolívia nas conversas.
A missão é um desdobramento do compromisso firmado por Lula com o governo argentino do então presidente Alberto Fernández, em janeiro de 2023, propondo um projeto de integração regional na área de energia.
NOTÍCIAS DE BUENOS AIRES
Esta semana, o secretário de Energia, Eduardo Chirillo, reforçou alguns pontos da reforma que Milei prepara na política energética.
O presidente argentino vem de derrotas no Congresso, na tentativa de aprovar a Lei Ônibus – pacote de medidas de desregulação da economia que foi desidratado nos últimos meses.
O governo costura, agora, um novo texto para o projeto e a expectativa é que o setor de gás seja contemplado.
Em evento com empresários no início da semana (antes de a Lei Ônibus fracassar no Senado), Chirillo comentou sobre algumas das propostas do governo [El Cronista].
O objetivo é acelerar a produção de óleo e gás nas próximas décadas, no contexto da transição energética, e para isso o governo argentino quer aumentar as exportações de Vaca Muerta – primeiramente com o petróleo, no curto prazo, e em seguida com o gás no médio e longo prazos.
Vaca Muerta, aliás, deve receber investimentos recordes de US$ 9 bilhões este ano por parte das petroleiras.
O novo projeto propõe uma mudança na Lei dos Hidrocarbonetos do país, ao definir que a política nacional tem como objetivo maximizar as receitas com exploração dos recursos e não apenas satisfazer as necessidades do país – o texto atual faz menção apenas à segurança energética.
Segundo Chirillo, a ideia é dar “o direito à livre comercialização de gás e petróleo a terceiros países, além do mercado interno”.
Também fala em liberar preços e permitir autorizações firmes de até 30 anos para exportação de GNL – hoje, o mercado argentino funciona dentro de uma lógica de contratos de curto prazo.
O secretário de Energia argentino citou ainda que a ideia é dar um tratamento especial ao GNL no novo marco normativo, para impulsionar as exportações.
Chirillo também reiterou suas críticas ao Plan Gas, o Plano Argentino de Fomento à Produção de Gás Natural – um programa de estímulo à produção de gás, sobretudo em Vaca Muerta, concebido no governo de Alberto Fernández com foco na substituição de importações.
A intenção do novo governo é mudar o mecanismo, para que os contratos de compra e venda de gás possam ser fechados diretamente entre produtores e consumidores – e com prazos maiores.
Pelas regras do plano, os produtores oferecem, via chamadas públicas, volumes para cobrir a demanda das distribuidoras de gás e a Cammesa, operadora do sistema elétrico. O governo define um preço máximo de referência para o gás.
GÁS NA SEMANA
Combustível do Futuro com biometano. A Câmara dos Deputados aprovou na quarta (13/3) o PL do Combustível do Futuro – que agora segue para o Senado. O projeto aprovado cria um programa de descarbonização do mercado de gás natural, que obriga os supridores a reduzir as emissões por meio do aumento da participação do biometano, com um teto de 10%.
– O grupo Urca, que controla a Gas Verde, aliás, planeja atender clientes em outros estados além do Rio de Janeiro e São Paulo, onde atua hoje.
– A Brookfield, por sua vez, negocia a compra de parte de um projeto de biometano que prevê investimentos de até U$$ 300 milhões, informa o Valor.
Petrobras pode mudar estratégia em Sergipe. Estatal prevê construir plataformas próprias para o projeto de produção de óleo e gás de Sergipe Águas Profundas caso a licitação para afretamento não seja viável.
PT segura Profert. A liderança petista no Senado apresentou um recurso para levar o Profert, proposto pelo PL 699/2023, de Laércio Oliveira (PP/SE), ao crivo do plenário. O projeto havia sido aprovado em caráter terminativo. Entre outros incentivos tributários ao setor de fertilizantes, o programa prevê a desoneração do gás natural voltado à produção de nitrogenados.
– A Toyo Setal, aliás, assinou um protocolo de intenções com o governo de Sergipe para desenvolver projetos de fertilizantes nitrogenados no estado.
– O governo sergipano também assinou acordo com a Macaw Energies, da Golar LNG, para o desenvolvimento de uma planta de liquefação de gás natural.
Novo presidente na CME. Deputado Júnior Ferrari (PSD/PA) foi eleito presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. Ele é defensor da exploração de óleo e gás na Foz do Amazonas.
O futuro da Naturgy no RJ. A Secretaria de Energia e Economia do Mar e a Agenersa assinaram um termo de cooperação técnica para atuarem em conjunto no processo de término das concessões da CEG e CEG Rio. Cabe à agência dar informações técnicas sobre o contrato; apurar o valuation das concessões; e se manifestar em caso de pedido de prorrogação por parte da Naturgy. Rio avalia os caminhos para renovação (ou não) da concessão
Eneva avalia leilão de reserva. A empresa avalia negociar o projeto de expansão da Celse (SE) no leilão de reserva de capacidade previsto para agosto. A expansão pode chegar a 1,2 GW, com demanda de 6 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia.
– Em paralelo, a companhia trabalha para estrear no 2º semestre a mesa de comercialização de gás, a partir do terminal de GNL de Sergipe. Já tem contratos de 1,1 milhão de m3/dia com uma térmica e um consumidor industrial no mercado livre.
Opinião: O papel da Agergs na regulação do gás Após privatização, Sulgás enfrenta questionamentos sobre aumento tarifário de 25%, enquanto Agergs busca equilíbrio para consumidor, escreve Adrianno Lorenzon