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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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As secas severas e prolongadas em diversas regiões do mundo, no ano passado, causaram uma queda recorde na geração hidrelétrica, com consequente aumento no acionamento de térmicas a combustíveis fósseis, elevando as emissões de gases de efeito estufa, mostra balanço da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), publicado nesta sexta (1/3).
Em 2023, as emissões globais de CO2 relacionadas à energia aumentaram 1,1% em relação a 2022 – que já haviam sido recorde.
No ano passado, a queima de fósseis como óleo, gás e carvão contribuiu para o lançamento de 410 milhões de toneladas de CO2 extra na atmosfera. E as emissões do setor de energia ficaram em torno de 37,4 bilhões de toneladas.
O aumento, no entanto, foi um pouco menor do que o de 2022, quando foram emitidas 490 milhões de toneladas de carbono a mais, o que, para a IEA é reflexo da expansão das energias solar fotovoltaica, eólica, nuclear e carros elétricos.
“Sem tecnologias de energia limpa, o aumento global nas emissões de CO2 nos últimos cinco anos teria sido três vezes maior”, diz o relatório.
Segundo a agência, a escassez excepcional de energia hidrelétrica na China e nos Estados Unidos, entre outras economias, contribuiu com mais de 40% do aumento nas emissões em 2023, com esses países recorrendo a alternativas fósseis.
Por outro lado, as emissões em países ricos caíram para o nível mais baixo em 50 anos, enquanto a demanda de carvão voltou aos níveis do início dos anos 1900.
“O ano passado foi o primeiro em que pelo menos metade da geração de eletricidade nas economias avançadas veio de fontes de baixas emissões como renováveis e nuclear”, destaca.
Fósseis em declínio
A IEA enxerga uma “luz no fim do túnel” e afirma que os compromissos firmados nas últimas conferências climáticas, especialmente a COP28, do ano passado, mostram o que o mundo precisa fazer para colocar as emissões em uma trajetória descendente: reduzir o consumo de fósseis e triplicar capacidade renovável até 2030 – que está logo ali.
Essa trajetória parece ter começado. Consultorias avaliam que o carvão, que dominou o setor global de energia nos últimos 30 anos, começará a entrar em declínio já em 2024, perdendo espaço para eólica e solar.
Enquanto a demanda por petróleo começa a sentir efeitos estruturais da transição para energias de baixo carbono, com impactos sobretudo no consumo global de combustíveis para transporte.
O Citi estima que a demanda global este ano deve começar a desacelerar. A projeção é um aumento de 1,3 milhão de barris por dia (bpd), abaixo do crescimento de 1,9 milhão de bpd em 2023. Para 2025, a previsão é ainda menor, entre 700 mil e 1 milhão de bpd.
Energia no G20
Apesar do otimismo, a descarbonização da matriz global encara uma série de desafios, como a pressão que os eventos climáticos extremos colocam sobre os sistemas energéticos.
Além disso, a expansão de capacidade renovável não ocorre na mesma proporção e velocidade em todas as partes do mundo – está concentrada em países ricos com espaço fiscal para incentivos, e na China (que também dá subsídios).
O financiamento e a universalização do acesso são dois pontos críticos para viabilizar as metas climáticas do Acordo de Paris, especialmente em países de renda média e baixa.
São temas que o Brasil está colocando como prioritários no grupo de trabalho do G20 que trata de transições energéticas.
Falamos sobre isso esta semana com Agnes da Costa (diretora da Aneel) e Pedro Brancante (head de Energia e Mineração na Embaixada do Brasil em Paris). Transição justa e governança global também foram tema da live Mulheres de Negócios na Transição Energética, com Elbia Gannoum (ABEEólica), Fernanda Delgado (ABIHV) e Clarice Romariz (Engie).
Cobrimos por aqui:
- G20: Brasil quer reduzir gap de investimentos em energia limpa entre ricos e pobres
- China avança em novas tecnologias eólicas enquanto resto do mundo desacelera
- Veículos elétricos receberam maior parte dos investimentos de energia limpa em 2023
- Pobreza energética sujeita 389 milhões de mulheres a catar biomassa
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