RIO – Relatório ainda não publicado pela agência de geologia dos Estados Unidos, a US Geological Survey (USGS), estima que existam 5 trilhões de toneladas de hidrogênio natural em reservatórios subterrâneos pelo mundo, e uma pequena percentagem disso já seria suficiente para satisfazer todas as necessidades globais pelo energético durante centenas de anos.
“A maior parte do hidrogênio é provavelmente inacessível, mas uma recuperação de alguns por cento ainda supriria toda a procura projetada – 500 milhões de toneladas por ano – durante centenas de anos”, disse o pesquisador da USGS, Geoffery Ellis, durante uma conferência no Colorado, na semana passada, de acordo com o Financial Times.
Isso porque boa parte do hidrogênio está em camadas muito profundas, distante da costa ou em acumulações consideradas pequenas, o que torna a sua exploração economicamente inviável.
Contudo, Mengli Zhang, professora assistente de pesquisa da Escola de Minas do Colorado, afirma que deve haver “uma corrida do ouro” pelo hidrogênio natural – também chamado de hidrogênio branco – uma vez que esta seria uma rota mais limpa e mais barata do que produzir H2 por meio da reforma a vapor ou da eletrólise.
Estímulos para exploração nos EUA
Ellis está liderando o esforço do USGS para mapear as regiões dos EUA com maior probabilidade de conter hidrogênio geológico. Existem pelo menos duas grandes áreas do país que apresentam geologia favorável. Uma ao longo da planície costeira do Atlântico, e outra na região central.
No início deste mês, o Departamento de Energia dos EUA (DoE) anunciou US$ 20 milhões em subsídios de 16 projetos em oito estados norte-americanos para acelerar a exploração de hidrogênio natural.
Os recursos serão disponibilizados pela agência governamental encarregada de financiar pesquisa de tecnologias avançadas de energia (ARPA-E, na sigla em inglês).
“Com o financiamento da ARPA-E, as equipes de projeto de todo o país explorarão a possibilidade de acelerar a produção e extração de hidrogênio natural, transformando nossa compreensão deste recurso energético crítico e, ao mesmo tempo, acelerando as soluções que precisamos para reduzir os custos de energia e aumentar a segurança energética da nossa nação”, disse a diretora da ARPA-E, Evelyn Wang.
O hidrogênio natural é encontrado na natureza como gás livre em camadas da crosta continental, nas profundezas da crosta oceânica ou em gases vulcânicos, gêiseres e sistemas hidrotermais.
Pesquisas geofísicas confirmaram que parte do ferro encontrado em rochas no subsolo reagiu com a água e produziu hidrogênio. Outros cientistas vão ainda mais longe e propõem que a injeção de água quente em rochas ricas em ferro também poderiam gerar hidrogênio renovável.
“Se você somar a quantidade de hidrogênio que achamos que pode estar preso em reservatórios, mais a quantidade que pode ser produzida diretamente à medida que é gerado, e a quantidade que pode ser produzida por meio de estimulação, você obtém um recurso potencial muito grande”, afirmou Ellis em outra ocasião.
Hidrogênio natural no Brasil
No ano passado, um grupo de cientistas brasileiros e franceses, liderados pelo professor Paulo Emílio de Miranda, presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio (ABH2), comprovaram a existência de uma reserva de hidrogênio natural com grande potencial em Maricá, no Rio de Janeiro.
O município que mais recebe royalties da exploração e produção de óleo e gás no Brasil agora vê no hidrogênio branco uma nova fonte de recursos.
Segundo o Projeto de Lei do Hidrogênio, apresentado pelo governo federal, os direitos de exploração e produção do hidrogênio natural pertencem à União, assim como no óleo e gás. Entretanto, o texto não cita a incidência de royalties.
Além de Maricá, uma pesquisa liderada pela Engie em conjunto com a Geo4u constatou a presença de altas concentrações desse gás em reservatórios profundos da Bacia do São Francisco, em Minas Gerais.
Estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) também indica áreas nos estados do Ceará, Goiás, Tocantins, Roraima e Bahia, “que apresentaram diferentes potenciais para a pesquisa de hidrogênio natural. Alguns melhores e outros piores, mas sempre positivos”. E ressalta que a lista não é exaustiva, “uma vez que muitas outras regiões nunca foram estudadas”.