RIO – A frota mundial de navios movidos a gás natural liquefeito (GNL) deve mais do que dobrar nos próximos anos, em meio ao movimento de descarbonização do setor marítimo, segundo a Shell.
Ao todo, existem hoje 469 embarcações a GNL em operação no mundo, mas o número de navios do tipo encomendados pela indústria marítima já totaliza 537 novas unidades, de acordo com dados do relatório LNG Outlook 2024, publicado pela petroleira esta semana. Caso todas sejam entregues, haverá um aumento de 114%.
A Shell destaca que a demanda por GNL no setor marítimo deve ser puxada por navios-contêineres, sobretudo da China.
O relatório mostra, ainda, que o GNL é, hoje, a principal alternativa aos combustíveis convencionais (como o bunker), seguido do crescente interesse pelo hidrogênio e derivados.
A descarbonização do frete marítimo deve demandar até US$ 28 bilhões por ano até 2050, de acordo com estimativas da ONU, grande parte para viabilizar a substituição de combustíveis fósseis.
O frete marítimo é hoje responsável por mais de 80% do volume de comércio mundial e quase 3% dos gases de efeito de estufa (GEE) lançados na atmosfera. Com uma frota envelhecida e funcionando quase exclusivamente com combustíveis fósseis, o setor registrou um aumento de 20% nas suas emissões na última década.
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Pico da demanda em 2040
A petroleira acredita que o setor de transportes será cada vez mais relevante no mercado de gás, mas que a demanda global por GNL deve continuar a ser sustentada pela indústria e geração de energia.
A Shell estima que o consumo global de GNL aumentará mais de 50% até 2040, à medida que a substituição do carvão pelo gás ganhe ritmo na China e que os países do Sul e Sudeste Asiático utilizem mais GNL para apoiar o crescimento econômico da região.
De acordo com a multinacional, a demanda global por gás natural já atingiu o pico em algumas regiões, como Europa, Japão e Austrália, mas deve continuar a aumentar em nível mundial. A previsão é que o consumo de GNL atinja de 625 milhões a 685 milhões de toneladas por ano em 2040.
A expectativa é que os Estados Unidos vivam o pico da demanda na década de 2030, mas que mercados emergentes, como a Ásia, América do Sul, África e Rússia, só atinjam o pico a partir de 2040.
“É provável que a China domine o crescimento da procura de GNL nesta década [atual], à medida que a sua indústria procura reduzir as emissões de carbono mudando do carvão para o gás”, disse Steve Hill, vice-presidente executivo da Shell Energy, em nota.
“Sendo o setor siderúrgico baseado no carvão da China responsável por mais emissões do que as emissões totais do Reino Unido, Alemanha e Turquia juntas, o gás tem um papel essencial a desempenhar no combate a uma das maiores fontes mundiais de emissões de carbono e poluição atmosférica local”, complementou
O ritmo do declínio do consumo de gás no mundo não é um consenso, hoje, entre analistas. A Wood Mackenzie, por exemplo, estima que a demanda será resiliente ao menos pelos próximos 20 anos e que o mercado de GNL crescerá até 2050, enquanto a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) acredita que o consumo global de gás pode atingir o seu pico até o fim desta década.
- Para aprofundar: O que será do gás na transição energética brasileira?
O comércio global de GNL atingiu 404 milhões de toneladas em 2023, 1,7% acima dos 397 milhões de toneladas de 2022. A escassez de oferta restringiu o crescimento, ao mesmo tempo que manteve os preços e a volatilidade dos preços acima das médias históricas.
A Shell acredita que o mercado global de gás deve permanecer estruturalmente apertado.
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