O número de poços pioneiros no Brasil apresentou uma drástica redução na última década. Esse declínio é resultado da diminuição dos investimentos em atividades exploratórias, especialmente por parte da Petrobras.
A não retomada dos investimentos em exploração e, por conseguinte, na perfuração de poços pioneiros poderá dificultar a realização de novas descobertas a curto prazo, representando riscos para a segurança e a sustentabilidade energética do Brasil a longo prazo.
De acordo com a resolução 699/2017 da ANP, os poços pioneiros são os primeiros a serem perfurados em um prospecto que visa testar a ocorrência de petróleo ou gás natural.
São os poços que indicam a possível ocorrência de hidrocarbonetos em uma determinada região de interesse. Logo, a perfuração de poços dessa categoria é indispensável para a realização de novas descobertas.
Segundo dados da ANP, de 2004 a 2023, foram perfurados no Brasil um total de 1.217 poços pioneiros, sendo 773 em terra e 444 no mar. Cerca de 82,1% desses poços foram perfurados no período entre 2004 e 2013 e somente 17,9% nos últimos 10 anos. Comparando as duas décadas, houve uma redução de 73% na perfuração de poços pioneiros em terra e uma redução de 86,1% no mar.
No gráfico a seguir, esses números podem ser visualizados.
Entre 2004 e 2013, houve um aumento significativo na perfuração de poços pioneiros em terra, com destaque para os anos de 2007 e 2008, quando foram perfurados 209 poços. Esses se concentraram principalmente nas bacias Potiguar, Espírito Santo, Recôncavo e Sergipe.
No mar, foi observado um crescimento contínuo na perfuração de poços pioneiros entre 2005 e 2011, período em que foram realizados volumosos investimentos exploratórios na região em que veio a ser consolidado o pré-sal.
Freio político nos investimentos da Petrobras
Contudo, na última década, entre 2014 e 2023, houve uma brusca redução dos poços pioneiros. Essa redução não se justifica pelo amadurecimento das bacias, por fatores tecnológicos e de infraestrutura, ou pelo fato de as petroleiras terem investido em outros segmentos, mas principalmente pela queda dos investimentos da Petrobras em exploração e produção (E&P).
A redução de investimentos na Petrobras na última década está relacionada ao contexto político institucional do país que afetou a empresa. Em 2014, com a deflagração da operação Lava-Jato, os investimentos da estatal foram freados.
Em seguida, a partir de 2016, sob uma gestão neoliberal, a companhia alterou suas estratégias de negócios, focando na redução da dívida em curto prazo e na maximização da remuneração dos acionistas, o que acabou reduzindo seus investimentos e promovendo uma agressiva política de privatização de ativos.
Um dos efeitos diretos dessas medidas foi exatamente a redução da perfuração de poços pioneiros.
Entre 2004 e 2013, a Petrobras foi responsável pela perfuração de 361 poços, sendo 196 no mar e 165 em terra. Dos poços no mar, 152 foram na região onde se descobriu e consolidou o pré-sal. Esses dados confirmam a importância e a centralidade energética e econômica da Petrobras para o país no movimento de ampliação das reservas nacionais e para a segurança energética nacional.
Já na última década, a Petrobras perfurou apenas 64 poços pioneiros. Como consequência, não houve significativos avanços sobre possíveis novas fronteiras petrolíferas e a companhia e o país se tornaram mais dependentes das reservas do pré-sal.
O gráfico abaixo ilustra essa redução tanto na perfuração de poços pioneiros quanto nos investimentos da Petrobras.
Atualmente, sob nova gestão, a Petrobras sinaliza retomar os investimentos em E&P. Em seu Plano Estratégico 2024-2028+, a companhia planeja investir U$$ 7,5 bilhões em exploração.
Além disso, no âmbito do leilão da 4ª rodada de Oferta Permanente sob concessão, a estatal arrematou 29 blocos exploratórios na Bacia de Pelotas. Esses aspectos sinalizam um possível novo ciclo de investimentos em exploração pela Petrobras, o que é fundamental para a segurança energética nacional.
Em síntese, é de suma importância que haja uma retomada nos investimentos em exploração, especialmente na perfuração de poços pioneiros por parte da Petrobras com o intuito de descobrir novos reservatórios capazes de garantir a reposição das reservas nacionais, bem como o adequado abastecimento do país no futuro.
Tal medida revela-se fundamental tanto para a segurança energética como para o desenvolvimento social e econômico e para a transição energética.
Afinal, além do petróleo permanecer como principal fonte da matriz energética mundial nas próximas décadas, no caso do Brasil, a renda da indústria petrolífera será fundamental para financiar o desenvolvimento de novas fontes de energia limpa e novas rotas tecnológicas, uma vez que requerem um elevado volume de investimentos.
Este artigo expressa exclusivamente a posição do autor e não necessariamente da instituição para a qual trabalha ou está vinculado.
Francismar Ferreira é doutor em Geografia e pesquisador da área de Exploração e Produção do Instituto Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).