Transição energética

Emissões de energia estão entrando em 'declínio estrutural', diz IEA

Intensidade de CO2 na geração global de eletricidade está programada para diminuir a uma taxa duas vezes maior do que a registrada antes da Covid-19

Central solar SunPower Total, Prieska (Foto: ZYLBERMAN LAURENT - GRAPHIX IMAGES - TOTAL)
Central solar SunPower Total, Prieska (Foto: ZYLBERMAN LAURENT - GRAPHIX IMAGES - TOTAL)

BRASÍLIA — A Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) disse, nesta quarta (24/1), que as emissões de gases de efeito estufa provenientes da geração de eletricidade estão entrando em declínio estrutural à medida que a substituição de fontes fósseis por renováveis ganha ritmo.

Publicado hoje, o relatório Electricity 2024 indica que emissões globais de CO2 da geração devem diminuir mais de 2% em 2024, após um aumento de 1% em 2023. Isso será seguido por pequenas reduções em 2025 e 2026.

O aumento das emissões no ano passado foi motivado pelo forte crescimento na geração de energia a carvão, especialmente na China e na Índia. Os países passaram por secas severas que prejudicaram a produção hidrelétrica.

A participação dos fósseis no mix de fornecimento de eletricidade, no entanto, deve começar a cair já nos próximos anos, à medida que renováveis e nuclear expandem capacidade, e chegar a 54% em 2026, ante 61% em 2023. Será a primeira vez, desde de 1971, que os fósseis responderão por menos de 60% da matriz.

“Embora condições climáticas extremas, choques econômicos ou mudanças nas políticas governamentais possam levar a aumentos temporários nas emissões em anos individuais, espera-se que o declínio mais amplo nas emissões do setor de energia persista à medida que as capacidades de energia renovável e nuclear continuam a se expandir e a substituir a geração a partir de combustíveis fósseis”, analisa a agência.

Intensidade de CO2 em queda

A intensidade de CO2 na geração global de eletricidade está programada para diminuir 4% entre 2023 e 2026, o dobro dos 2% observados no período entre 2015 e 2019.

A União Europeia deve registrar a maior taxa de redução da intensidade de emissões, com uma média de 13% ao ano, seguida pela China (6%) e pelos Estados Unidos (5%).

O relatório prevê que as renováveis fornecerão mais de um terço da geração total de eletricidade global até o início de 2025, ultrapassando o carvão.

A participação das renováveis na geração de eletricidade deve subir de 30% em 2023 para 37% em 2026, com destaque para as instalações de painéis solares pelos próprios consumidores.

Mas o fator determinante nas perspectivas globais será a evolução das tendências na China, onde mais da metade da geração mundial de energia a carvão ocorre.

De acordo com a IEA, a geração a carvão na China caminha para uma lenta queda estrutural, impulsionada pela forte expansão de renováveis e crescimento na geração nuclear, além de um crescimento econômico moderado.

Já a geração global de energia por meio de gás natural deve aumentar ligeiramente ao longo do período de projeção.

“Em 2023, as acentuadas quedas na geração de energia a gás na União Europeia foram mais do que compensadas por ganhos maciços nos Estados Unidos, onde o gás natural, que tem substituído cada vez mais o carvão, registrou sua maior participação na geração de energia. A produção global de energia a gás cresceu menos de 1% em 2023. Até 2026, projetamos uma taxa média anual de crescimento de cerca de 1%”, diz o relatório.

Enquanto a geração a gás na Europa segue em queda, Ásia, Oriente Médio e África devem impulsionar o crescimento global, com a demanda por energia aquecida e perspectivas de disponibilidade adicional de suprimento de GNL a partir de 2025 em diante.

Clima e segurança energética

Apesar das projeções otimistas, a IEA chama a atenção para os impactos das mudanças climáticas sobre a segurança energética global.

O ano de 2023 foi classificado pelos cientistas como o mais quente já registrado, e o aumento da temperatura causou instabilidades na geração de energia em diversas partes do mundo.

Canadá, China, Colômbia, Costa Rica, Índia, México, Turquia, Estados Unidos e Vietnã, entre outros países, todos registraram uma redução na geração de energia hidrelétrica, por exemplo.

Até as emissões de gases de efeito estufa caírem e o clima estabilizar, a tendência é que eventos extremos continuem ocorrendo e a uma intensidade cada vez maior, o que requer planejamento do setor elétrico.

O fator de capacidade global de hidrelétricas, uma medida-chave da taxa de utilização, caiu para abaixo de 40%, no ano passado, o valor mais baixo registrado em pelo menos três décadas, segundo a IEA. Em certos países, a diminuição na produção de energia hidrelétrica levou a escassez de energia, aumento da dependência de fontes fósseis como carvão e gás, e preocupações com a estabilidade do fornecimento de eletricidade.

“A tendência global destaca a suscetibilidade da energia hidrelétrica a padrões climáticos e a possível exposição de países que dependem fortemente de hidro para gerar eletricidade. Diversificar as fontes de energia, construir interconexões de energia regional e implementar estratégias para geração resiliente diante de padrões climáticos mutáveis se tornará cada vez mais importante”, destaca.