Energia

Petrobras pode comprar o hidrogênio verde para manter demanda no Brasil, defende Lula

"[A Petrobras] vai ser uma grande consumidora de energia limpa. A siderúrgica quer produzir aço verde? Vem pro Brasil", destacou

Lula diz que hidrogênio verde nacional vai ter Petrobras como âncora, com prioridade para o mercado interno, durante cerimônia de retomada das obras da Rnest, em Ipojuca (PE), no Suape, em 18/1/2024 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Lula durante cerimônia de retomada das obras da Rnest, em Ipojuca/PE (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

RIO — O presidente Lula afirmou durante a inauguração das obras do segundo trem da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), nesta quinta-feira (18/1), em Pernambuco, que o hidrogênio verde produzido no Brasil vai priorizar o mercado nacional.

“Esse país não quer ser exportador de hidrogênio verde. Quando estiver produzindo hidrogênio na Bahia, em Pernambuco, sabe quem vai comprar? A Petrobras, porque ela vai ser uma grande consumidora de energia limpa. A siderúrgica quer produzir aço verde? Vem pro Brasil. Quem quer produzir com uma fábrica limpa, venha para o Brasil”, afirmou.

Além do presidente da República, a cerimônia contou com a presença dos ministros de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), e de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos (PCdoB), além dos presidentes da Petrobras, Jean Paul Prates, e da Transpetro, Sérgio Bacci, assim como dos diretores executivos da estatal e de autoridades locais.

Lula relembrou que a decisão de construir a Rnest foi política, tendo como gancho a relação comercial entre o Brasil e a Venezuela durante os seus primeiros mandatos. E que a ideia inicial apresentada ao então presidente venezuelano, Hugo Chávez, era usar o petróleo do país vizinho no processamento, em uma parceria entre a PDVSA e a Petrobras, o que nunca chegou a se concretizar.

“Chávez concordou e a gente resolveu começar a refinaria, mas ele nunca colocou um centavo aqui”, afirmou Lula.

A discussão sobre desenvolver hubs de hidrogênio voltados à exportação, para atendimento à demanda de países industrializados, ou atrair industrias para se instalar — e consumir o produto no Brasil — mobiliza agentes públicos e privados.

Em setembro, o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli criticou, em artigo publicado na epbr, o direcionamento ao mercado externo. “Se ficarmos exclusivamente nesse modelo, estaremos exportando ar, sol e água, e deixando o acréscimo de valor industrial e econômico para o norte global”.

‘Refinaria do futuro’

A Rnest completa dez anos de operação em 2024, sendo o mais recente projeto de refino finalizado no país. Hoje, a unidade opera apenas com o primeiro trem de refino, com capacidade para processar 100 mil barris/dia. As obras do segundo trem foram interrompidas em 2015, na esteira das investigações da Operação Lava Jato.

A Petrobras chegou a incluir o projeto na carteira de desinvestimentos durante o governo Bolsonaro, mas não teve sucesso na venda. Com a entrada em operação do segundo trem, prevista para 2028, a refinaria vai ter capacidade para processar 260 mil barris/dia.

Para o presidente da estatal, Jean Paul Prates, a retomada das obras na Rnest representa um “ato de superação” e o projeto é a “refinaria do futuro, da virada”.

Prates afirmou que a intenção é que futuramente a unidade produza também diesel R5 (coprocessado com óleos vegetais), além de hidrogênio e e-metanol. Segundo ele, a diretoria de transição energética da estatal já está trabalhando nisso.

“O petróleo pode acabar, mas a Rnest não acaba”, afirmou.

As obras do projeto devem demandar de R$ 6 a R$ 8 bilhões, valor que ainda vai depender da conclusão da licitação para as obras, prevista para fevereiro. A expectativa, disse Prates, é que a Rnest gere pelo menos R$ 100 bilhões em faturamento no primeiro ano de operação completa.

Críticas à privatização

Durante a cerimônia desta quinta, Lula rebateu as acusações de corrupção nos contratos da Petrobras durante seus primeiros mandatos.

“Quando eu deixei a presidência, tive as contas dos meus oito anos de governo aprovadas por unanimidade no TCU e no Congresso Nacional. Somente cinco anos depois, começou o processo de denúncia contra a Petrobras”, disse.

Mais cedo, em evento na Bahia, Lula também criticou as vendas de ativos da Petrobras e a privatização da Eletrobras durante o governo Bolsonaro, o que chamou de “escárnio”.