RIO – O biometano entrou definitivamente no radar das distribuidoras de gás em 2023. Se até então apenas uma concessionária comprava regularmente o gás renovável, agora pelo menos quatro já assinaram contratos e há outras demonstrando interesse.
O caso mais recente é o da Copergás, distribuidora pernambucana de gás, que assinou no fim de 2023 um aditivo ao contrato com a Orizon VR, para ampliação dos volumes de aquisição de biometano.
Os acordos entre distribuidoras e produtores de biometano somam compromissos de suprimento de até cerca de 290 mil m³/dia.
Isso representa menos de 1% da demanda não termelétrica das concessionárias, mas a lista tende a crescer.
A Compagas, do Paraná, espera fechar em breve seu primeiro contrato de aquisição de biometano, enquanto outras companhias, como a ES Gás (ES) e Sergás (SE), também se movimentam para aquisição do produto.
As distribuidoras não são, hoje, o principal destino do biometano produzido no país, com a maior parcela destinada para consumidores finais (em geral indústrias) ou para projetos internos de economia circular – como a substituição do diesel e até do gás natural na frota de veículos e processos de produção.
Mas as concessionárias estaduais vêm ganhando espaço como importantes âncoras para a viabilização de novos projetos de biometano no país. As empresas miram não só aspectos ambientais, como também veem no combustível renovável uma forma de diversificar as fontes de suprimento.
A seguir, a agência epbr faz um raio-x da movimentação das distribuidoras que apostam no biometano como fonte de suprimento:
Quem já contratou?
Cegás (CE)
A distribuidora cearense é pioneira na injeção de biometano dentro da rede de gás canalizado. A concessionária tem contrato com a GNR Fortaleza – parceria entre Marquise Ambiental e Ecometano (MDC).
A GNR Fortaleza completou cinco anos de atividade em 2023, com uma oferta de 90 mil m³/dia de biometano – o que representa cerca de 20% do volume distribuído pela Cegás. A expectativa é chegar a 108 mil m³/dia no futuro.
Necta (SP)
A antiga GasBrasiliano iniciou, em 2023, as operações do primeiro sistema isolado de distribuição de biometano do país. O projeto abastece, com o combustível renovável produzido pelo grupo Cocal, os municípios de Presidente Prudente, Narandiba e Pirapozinho, no interior de São Paulo.
A planta de biometano da Usina Cocal tem capacidade para produzir até 25 mil m³/dia, a partir do processamento de resíduos da cana-de-açúcar.
O projeto tornou-se uma alternativa de suprimento a esses municípios – que estão a 200 km do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) e não justificam economicamente um projeto convencional de conexão à rede integrada da Necta.
Copergás (PE)
A distribuidora pernambucana assinou em 2023 um contrato com a Orizon VR para aquisição de biometano. O acordo inicial previa a venda de 60 mil m³/dia, mas o volume foi posteriormente ajustado para até 130 mil m³/dia.
O fornecimento está previsto para a partir de 2025 por um prazo de dez anos. O combustível será produzido no Ecoparque Jaboatão dos Guararapes, que ainda será construído.
Sulgás (RS)
A concessionária gaúcha firmou seu primeiro contrato de suprimento de biometano com a SebigasCótica – que se associou à gestora de investimentos alternativos eB Capital para desenvolver bioprodutos.
A planta será instalada na cidade de Triunfo e transformará resíduos da atividade agrossilvopastoril. O volume inicial para os cinco primeiros anos do contrato de suprimento com a Sulgás é de 15 mil m³/dia, a contar a partir do fim de 2024.
A capacidade poderá ser ampliada para 30 mil m³/dia a partir do sexto ano, conforme previsão contratual. O projeto beneficiará, inicialmente, o Polo Petroquímico de Triunfo.
E quem está de olho no biometano
Compagas (PR)
A distribuidora paranaense espera fechar, no início deste ano, o seu primeiro contrato de biometano, para fornecimento a partir de 2025.
Na chamada pública aberta pela companhia em 2023, foram apresentadas propostas de 12 fornecedores diferentes, com um volume potencial que pode ultrapassar 380 mil m³/dia de biometano para o Paraná.
A Compagas planeja expandir a participação do biometano em seu portfólio para algo entre 15% a 20% a partir de 2025.
Sergas (SE)
A concessionária sergipana abriu chamada pública em 2023, para fornecimento a partir de 2026. Em outubro, a companhia se reuniu com representantes da Orizon VR, para início de negociações mirando viabilizar uma planta de biometano no aterro de Rosário do Catete (SE).
A expectativa é produzir inicialmente cerca de 70 mil m³/dia, mas o volume pode chegar a 120 mil m³/dia.
ES Gás (ES)
A distribuidora capixaba assinou, no fim de 2023, um memorando de entendimento com a Marca Ambiental, para desenvolvimento de um projeto de biometano com injeção na rede de gás canalizado local.
MSGás (MS)
A Agems, agência reguladora do Mato Grosso do Sul, publicou em 2023 três novas normas de regulação que tratam do biometano, incluindo a Portaria 257 (sobre Autorização de Projetos Estruturantes para a prestação dos serviços de distribuição de gás pelas redes locais). Em 2023, a MSGás lançou uma chamada pública para a compra do gás renovável.
A concessionária aposta no biometano como fonte para projetos de gasodutos virtuais – seja por meio de gás comprimido (GNC), seja liquefeito (GNL).
Naturgy (RJ/SP)
A controladora das distribuidoras CEG, CEG Rio e São Paulo Sul estuda desenvolver projetos de redes de distribuição abastecidas 100% com biometano. A ideia é criar espécies de “municípios verdes”, supridos integralmente pelo gás natural renovável.
Comgás (SP)
A maior distribuidora do país lançou, em 2023, uma chamada pública que recebeu 14 propostas, sendo duas delas para oferta de biometano.
Em dezembro, a empresa informou que seguia em “negociações finais com outros supridores”, além da Petrobras – com a qual a Comgás assinou acordos de longo prazo.
Gasmig (MG)
A distribuidora mineira abriu, em 2023, uma chamada pública para aquisição do gás renovável, para injeção na rede.