O reposicionamento da Petrobras no mercado nacional do refino, com a venda anunciada nesta quinta-feira do controle de quadro unidades no país, depende diretamente do resultado das eleições para presidente da República que serão realizadas em outubro.
Dependendo do ocupante do Palácio do Planalto em 2019 todo o planejamento que está sendo moldado agora pela diretoria pode ser mudado.
A Petrobras sabe disso. E topou correr o risco pois entende que o negócio é importante e valioso para a empresa.
O presidente da Petrobras, Pedro Parente, afirmou nesta quinta-feira que o projeto enfrentará o período eleitoral, “em que nem sempre as questões são discutidas quanto à racionalidade econômica”, disse. “Estamos dispostos a enfrentar isso”, garantiu.
A percepção da Petrobras é certamente a mesma dos possíveis investidores. Há quem imagine, por conta disso, que é pouco provável alguém concretizar uma parceria antes do novo ou a nova presidente estar eleita. ok, um negócio desse porte não se fecha mesmo em cinco meses. Ainda mais como todo o temor implantado nos investidores depois dos anos de controle de preço dos derivados feito pelo governo Dilma Rousseff.
Mudanças de governo podem mudar a visão da Petrobras de fazer negócios. Aconteceu com a chegada de Temer e Parente ao poder. Mas aconteceu também antes. Em 2003, logo no começo do ano e depois de empossada a primeira diretoria da Petrobras no governo Lula, a direção da estatal decidiu adiar a licitação para a construção das plataformas P-51 e P-52.
“A Petrobras procederá, dentro de sua política empresarial de médio e longo prazo, à reavaliação das condições de participação da indústria nacional na construção das duas plataformas”, disse a empresa em fato relevante divulgado em 11 de fevereiro de 2003.
A Petrobras está vendendo 25% da participação no mercado nacional de refino. É um ótimo negócio, sobretudo para quem terá produção crescente no país, como as empresas que investem no pré-sal e podem buscar um mercado cativo para seu petróleo sem ter que exportar.
Quem levar as unidades do Sul terá ainda monopólio na região e pode até mesmo pensar em entrar no mercado de distribuição de derivados, dependendo de sua estratégia própria. Mas com a Petrobras com 75% do mercado na mão, não conseguirá formar preço. E isso certamente entrará na conta.
Haverá também resistência interna. Resistência dos funcionários da empresa. Vender refinarias não é como vender campos offshore de petróleo. As refinarias estão em cidades. Fazem parte do dia a dia dos municípios. São sujeitas as greves, manifestações e outros tipo de protestos.
Não é demais imaginar que a decisão da Petrobras vai gerar greves na Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Paraná, onde estão Refap, Repar, Rnest e Rlam, unidades que a empresa pretende vender o controle.
Também haverá resistência política. E não se pode menosprezar a resistência política. Basta olhar o episódio recente da paralisação das Fafens da Petrobras.
A empresa anunciou em 20 de março que iria hibernar, até o final do primeiro semestre deste ano, as fábricas de fertilizantes nitrogenados da Bahia (Fafen-BA), localizada no polo petroquímico de Camaçari, e de Sergipe (Fafen-SE), na cidade de Laranjeiras.
Políticos, inclusive os governadores dos dois estados, se moveram, foram até o presidente Michel Temer, e uma semana depois a estatal anunciou que prorrogou a decisão por 120 dias para aprofundar as discussões.
“Pela complexidade do tema e pelos valores envolvidos, nós assumimos que esse processo vai ter que percorrer todas as etapas da sistemática de parcerias e desinvestimentos. Isto significa dizer que, como estamos acompanhando em outros casos, certamente são coisas que não se concluem em três, quatro ou cinco meses. Nós acreditamos que a conclusão de uma transação dessa natureza possa ir até o ano que vem. Mas começar certamente antes disso”, diz Pedro Parente, que sabe que não é uma tarefa fácil e muito menos rápida.