Leilões

Petrobras e Chevron lideram consórcios de 44 blocos leiloados em Pelotas 

Grandes petroleiras confirmam nova aposta no petróleo do offshore do Rio Grande do Sul

Petrobras e Chevron lideram consórcios de 44 blocos leiloados na Bacia de Pelotas, no offshore do Rio Grande do Sul. Na imagem: Presidente da Petrobras Jean Paul Prates na coletiva de imprensa do Plano Estratégico 2024-28, em 24/11/23 (Foto: Agência Petrobras)
Presidente da Petrobras Jean Paul Prates na coletiva de imprensa do Plano Estratégico 2024-28 (Foto: Agência Petrobras)

RIO – O 4º ciclo da oferta permanente de concessão da Agência Nacional do Petróleo (ANP), nesta quarta-feira (13/12), confirmou o interesse na Bacia de Pelotas como uma nova fronteira para exploração e produção marítima no Brasil por grandes empresas, incluindo a Petrobras e as majors Chevron e Shell.

Foram, ao todo, 44 blocos arrematados na bacia, que está localizada no Sul do país, na fronteira com o Uruguai.

A Petrobras será operadora de 29 áreas, sendo 26 delas em consórcio com 30% de participação da Shell e três em sociedade com Shell (30%) e CNOOC (20%).

A Chevron contratou outros 15 blocos, com 100% da operação. No Brasil, a companhia tem ativos de exploração no pré-sal das bacias de Campos e Santos.

Houve, inclusive, disputa para 11 blocos. Ao todo, a previsão é de R$ 1,56 bilhão em investimentos no programa exploratório mínimo das áreas, segundo cálculos da ANP. Os blocos arrematados em Pelotas garantiram R$ 298,7 milhões em bônus de assinatura à União.

Nos últimos meses, representantes da Petrobras vinham sinalizando o interesse em Pelotas, sem prejuízo à aposta na Margem Equatorial, que no momento é a grande aposta da companhia para a próxima década, mas onde tem enfrentado dificuldades para a obtenção de licenças ambientais.

A petroleira precisa abrir novas frentes de exploração e produção dada a tendência de declínio natural das Bacias de Campos e Santos, no Sudeste.

Em entrevista a jornalistas depois da rodada, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, destacou que, com as aquisições no Sul do país, a companhia abre uma nova fronteira de exploração em uma região que também tem potencial para geração de energia eólica offshore.

“Inauguramos agora uma área nova, com menos perspectivas de problemas ambientais, de demoras [no licenciamento]. Até porque é uma área parecida com as bacias de Campos e Santos”, disse.

Petrobras devolveu blocos em Pelotas

Não havia, até então, nenhuma concessão vigente nas áreas marítimas da Bacia de Pelotas.

No passado, a Petrobras já chegou a ter quatro blocos na região, que foram devolvidos. Em 2019, a estatal tentou vender as áreas e reiniciar o processo de licenciamento ambiental, antes da devolução. Na época, o Ibama solicitou à companhia a realização de uma modelagem de dispersão de óleo, que não chegou a ser realizada.

O resultado da rodada de hoje confirma o interesse das grandes petroleiras no Sul do Brasil, assim como na Argentina e no Uruguai.

A costa uruguaia chegou a ter esforços exploratórios na década passada, mas não houve confirmação de descobertas. Em 2018, uma parceria entre a TotalEnergies e ExxonMobil fez com que o país, inclusive, recebesse a perfuração na maior lâmina d’água do mundo até então, a 3.400 metros de profundidade, no poço batizado como Raya.

O interesse na região ressurgiu recentemente, depois da descoberta em bacias análogas na costa africana, na Namíbia.

O diretor em pesquisa em upstream da Wood Mackenzie para a América Latina, Marcelo de Assis, lembrou em comentário no estúdio epbr na manhã de hoje, antes do leilão, que a Equinor deve iniciar uma perfuração em janeiro na costa da Argentina, confirmando o interesse na região.

“Faz muito tempo que não são perfurados poços em Pelotas, nos últimos leilões ninguém se interessou por essas áreas”, disse.

A tendência é que a região entre em produção dentro de dez a quinze anos, caso confirmadas descobertas.

Licenciamento para sísmica já é realizado

A Bacia de Pelotas surge como uma aposta de nova fronteira com menor risco de problemas para obtenção de licenciamento ambiental do que a Margem Equatorial, segundo especialistas.

“Uma pergunta que nós temos é como vai ser o posicionamento do Ibama em relação ao licenciamento em Pelotas, se vão adotar uma postura mais conservadora ou minuciosa, como estão fazendo com a Margem Equatorial”, disse o diretor da Wood Mackenzie.

O CEO da TGS, João Correa, destacou em comentário ao estúdio epbr que duas das grandes áreas arrematadas em Pelotas hoje já têm licença ambiental ativa para o levantamento de dados sísmicos.

“Depois da sísmica, vem a perfuração e existe a necessidade de mais dados ambientais. Por que não juntar o esforço da indústria e fazer o levantamento desses dados para o Ibama?”, sugeriu Correa.

Para o sócio da área de Infraestrutura e Energia do Mattos Filho, Felipe Feres, não são esperados desafios para licenciamento ambiental em Pelotas, apesar de ser uma área de nova fronteira.

“É uma nova fronteira exploratória que vem há tempos tendo campanhas sísmicas consistentes. Não é uma região com sensibilidade ambiental e é uma área semelhante às bacias de Santos e Campos, com litoral com bastante atividade industrial”, disse.