Biocombustíveis

Produção de SAF deve triplicar em 2024, mas barreiras persistem, diz Iata

Associação avalia que transporte aéreo precisa de entre 25% e 30% da capacidade de produção de combustíveis renováveis

Produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) deve triplicar em 2024, mas entraves persistem, diz Iata. Na imagem: Visão lateral da parte frontal de aeronave e, ao fundo, visão frontal de outro avião, em pista de aeroporto (Foto: 穿着拖鞋一路小跑/Pixabay)
Aviação civil internacional se comprometeu a chegar a 2050 com emissões líquidas zero, o que exigirá uma profunda transformação em todo o setor (Foto: 穿着拖鞋一路小跑/Pixabay)

BRASÍLIA – Estimativas da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata) indicam que a produção de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês) devem triplicar dos 600 milhões de litros fornecidos em 2023 para 1,8 bilhão de litros em 2024.

A produção de SAF está em plena expansão. Em 2023, o volume disponibilizado para as companhias aéreas foi o dobro dos 300 milhões de litros vendidos em 2022.

Ainda assim, sua participação no mercado global é de apenas 3% de todos os combustíveis renováveis produzidos. 97% da produção é destinada a outros setores, como o transporte terrestre.

Segundo a Iata, a pequena porcentagem de produção de SAF na proporção do total de combustível renovável se deve principalmente à nova capacidade disponível em 2023 sendo alocada para outros mercados.

“O aumento da produção de SAF em 2023 foi encorajador, assim como a expectativa de triplicar a produção em 2024. Mas mesmo com esse crescimento impressionante, o SAF como parte de toda a produção de combustível renovável só crescerá de 3% este ano para 6% em 2024. Essa alocação limita o fornecimento de SAF e mantém os preços altos”, comenta Willie Walsh, diretor geral da Iata.

Demanda em expansão

Walsh avalia que a aviação precisa de entre 25% e 30% da capacidade de produção de combustíveis renováveis para SAF.

“Com esses níveis, a aviação estará na trajetória necessária para atingir zero emissões líquidas de carbono até 2050. Até que esses níveis sejam alcançados, continuaremos perdendo grandes oportunidades de avançar na descarbonização da aviação”.

Dados da Iata mostram que cada gota de SAF produzida foi comprada e utilizada até agora. Em 2023, o transporte aéreo desembolsou mais US$ 756 milhões para adquirir o produto. Pelo menos 43 companhias já se comprometeram a usar cerca de 16,25 bilhões de litros de SAF em 2030, com mais acordos sendo anunciados regularmente.

Os passageiros também estão a bordo. Uma pesquisa recente da Iata identificou que cerca de 86% dos viajantes concordam que os governos deveriam fornecer incentivos à produção para que as companhias aéreas possam acessar SAF.

Além disso, 86% concordaram que deve ser uma prioridade para as empresas de petróleo fornecer SAF às companhias aéreas.

Incentivo à oferta

Desbloquear o fornecimento para atender à demanda é o desafio que precisa ser resolvido, observa o diretor da Iata. E as políticas desenhadas pelos governos ao redor do mundo é que farão a diferença nesse mercado.

“Os governos devem priorizar políticas para incentivar a ampliação da produção de SAF e diversificar as matérias-primas com as disponíveis localmente”, completa Walsh.

As projeções indicam que mais de 78 bilhões de litros de combustíveis renováveis serão produzidos em 2029.

Entre as recomendações para políticas que ajudarão a alavancar a oferta estão os incentivos para acelerar investimentos em SAF por empresas tradicionais de petróleo e diversificar a produção.

Aproximadamente 85% das instalações de SAF que entrarão em operação nos próximos cinco anos utilizarão a tecnologia de produção por hidrotratamento (HEFA), que depende de gorduras animais não comestíveis (sebo), óleo de cozinha usado e gordura residual como matéria-prima.

Mas essa rota está no limite, pela baixa disponibilidade dos insumos que já são usados na produção de bicombustíveis tradicionais. Por isso, a indústria defende políticas que ajudem outras tecnologias a serem competitivas, como o álcool para jato (ATJ) e Fischer-Tropsch (FT), que utilizam resíduos biológicos e agrícolas.

Meta para combustíveis de baixo carbono

No final de novembro, governos de mais de 100 países membros da Organização da Aviação Civil Internacional (Icao, em inglês) chegaram a um acordo para estabelecer meta de reduzir em 5% a intensidade de carbono do combustível usado nas aeronaves.

Segundo a Icao, o objetivo aspiracional coletivo é importante para avançar com políticas de descarbonização no transporte aéreo, que hoje responde por cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa.

Através da adoção de um novo Quadro Global da Icao para SAF, combustíveis de aviação com baixo carbono (LCAF) e outras energias mais limpas, os membros da organização deverão definir suas próprias estratégias para alcançar a meta.

Cada Estado membro informará sua capacidade de contribuir com o objetivo geral, mas não há obrigações.

“Os governos querem que a aviação seja neutra em carbono até 2050. Tendo estabelecido uma meta intermediária no processo da CAAF, agora eles precisam implementar medidas políticas que possam alcançar o necessário aumento exponencial na produção de SAF”, observa Walsh.