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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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O mundo está à beira de cruzar linhas perigosas em pelo menos cinco sistemas cruciais para a humanidade, de acordo com uma análise assinada por mais de 200 cientistas publicada hoje (6/12).
O relatório Global Tipping Points 2023 foi apresentado na 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), que ocorre em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, até a próxima semana.
Enquanto governos tentam chegar a um acordo sobre o que pode ser feito para cortar emissões de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até 2100, os cientistas mostram que a Terra talvez não espere.
Pelo menos cinco limiares naturais importantes já correm o risco de serem ultrapassados: derretimento das grandes camadas de gelo na Groenlândia e na Antártida, o degelo generalizado do permafrost, a morte dos recifes de coral em águas quentes e o colapso de uma corrente oceânica no Atlântico Norte.
Além disso, outros três estarão ameaçados na década de 2030 se o mundo aquecer 1,5°C acima das temperaturas pré-industriais: manguezais, prados de ervas marinhas e florestas boreais.
Os cientistas explicam que, ao contrário de eventos extremos como as ondas de calor e chuvas intensas observadas em 2023, esses sistemas não vão se recompor tão facilmente, mesmo que o mundo consiga limitar as emissões de GEE. Se atingirem o chamado “ponto de virada”, podem alterar permanentemente a forma como o planeta funciona.
Na trajetória errada
Ontem (5/12), outros dois relatórios acenderam um alerta sobre o quão desalinhados estão as políticas e os investimentos com a necessidade de descarbonização da economia.
O Climate Action Tracker estima que as metas de emissões para 2030 colocam o planeta a caminho de um aquecimento de 2,5°C até o final do século.
Ao mesmo tempo, o grupo científico Global Carbon Project calcula que as emissões de dióxido de carbono (CO2) oriundas de fontes de energia como petróleo, gás e carvão alcançarão 36,8 bilhões de toneladas em 2023, um aumento de 1,1% em relação a 2022.
Embora as emissões de CO2 fóssil estejam diminuindo em algumas regiões, como Europa e Estados Unidos, globalmente, o cenário é de elevação. Os pesquisadores afirmam que a ação global para reduzir os combustíveis fósseis não está ocorrendo na velocidade suficiente para evitar mudanças climáticas, e o orçamento de carbono está se esgotando rapidamente.
Não à toa, a primeira recomendação do Global Tipping Points 2023 é eliminar (phase-out) emissões de combustíveis fósseis e uso da terra agora.
“A mitigação global deve agora assumir uma postura de emergência. As emissões de combustíveis fósseis devem ser eliminadas em todo o mundo antes de 2050. Um fim rápido das emissões de mudança no uso da terra e uma transição para a restauração ecológica global também são necessários. Os países devem reavaliar suas ambições mais elevadas de acordo, especialmente as nações ricas e de alta emissão”, diz o relatório divulgado hoje.
Prejuízos para o agro
No Brasil, estimativas do setor de seguros apontam para um prejuízo total de R$ 80 bilhões na agropecuária relacionado a eventos climáticos no ano passado.
Durante painel sobre perdas e danos promovido pelo Ministério das Cidades na COP28, o presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros (CNseg), Dyogo Oliveira, reconheceu que os impactos da mudança climática estão sendo sentidos muito antes do que se esperava, e os números do setor segurador retratam isso.
Só em 2022, o Seguro Rural pagou R$ 10 bilhões em indenizações aos produtores brasileiros, sendo que apenas 10% da área plantada é segurada.
CNseg e a Climate Policy Initiative vão desenvolver um estudo sobre os impactos socioeconômicos causados pelas mudanças climáticas no Brasil. As informações serão utilizadas pela indústria seguradora na mitigação e prevenção de ocorrências.
Cobrimos por aqui:
- Ação lenta faz custo de adaptação climática dobrar
- COP28 começa com acordo para remediar perdas e danos em países pobres
- Triplicar energias renováveis até 2030 é difícil, mas possível, diz BNEF
- Mercado de carbono ajudará empresas brasileiras em nova fase do comércio global, avalia ICC Brasil
Curtas
Teto de emissões para O&G
O Canadá planeja lançar um sistema cap-and-trade a partir de 2026 para limitar as emissões do setor de petróleo e gás, uma estratégia para cumprir as políticas climáticas do primeiro-ministro, Justin Trudeau, de acordo com a Reuters. A proposta deve ser anunciada na quinta, durante a COP28.
Recorde de lobistas fósseis
Relatório da Kick Big Polluters Out contabiliza pelo menos 2.456 lobistas relacionados a combustíveis fósseis registrados para participar da cúpula climática da ONU. Isso é mais do que quase todas as delegações de outros países, exceto o Brasil (3.081) e o anfitrião da COP28, os Emirados Árabes Unidos (4.409), mostra a análise.
Aliança para descarbonizar a indústria
Mais de 60 CEOs membros da Aliança para a Descarbonização da Indústria (Afid) se comprometeram, na terça (5/12), em Dubai, a reduzir 51% das emissões diretas e indiretas de GEE e aumentar a capacidade instalada de energia renovável de 84 gigawatts (GW) hoje para 187 GW em 2030.
Transição para o hidrogênio
As majors de óleo e gás têm apenas 8% dos projetos anunciados de produção de hidrogênio de baixo carbono em todo o mundo, mostra levantamento da Wood Mackenzie. Equinor, bp e Shell lideram as iniciativas. As petroleiras têm se concentrado no hidrogênio azul, produzido com gás natural associado à captura e armazenamento de carbono (CCS).
Eletrólise com biomassa
Nova versão dos requisitos para o hidrogênio verde da Organização do Hidrogênio Verde (GHO, na sigla em inglês) – iniciativa privada que busca harmonizar globalmente critérios para o energético – incluiu a biomassa como fonte de eletricidade renovável apta para produção do gás.
A atualização das regras, apresentada nesta segunda (4/12), durante a COP28, também inclui requisitos de metanol verde e metano sintético, derivados do hidrogênio.
25 GW de geração própria
As instalações de geração própria de energia no Brasil alcançaram, em novembro, 25 GW de capacidade. Desse total, 24,8 GW vem de painéis solares montados em residências, prédios e terrenos. O crescimento no ano de 2023 é de 6 GW até o momento.
Iceberg em movimento
A milhares de quilômetros da COP28, o maior iceberg do mundo está em movimento pela primeira vez em mais de 35 anos. Os cientistas acreditam que o desprendimento do bloco de gelo da Antártida ocorreu de forma natural, mas dizem que é um lembrete dos perigos do aquecimento do planeta.
Estima-se que o iceberg, conhecido como A23a, cubra uma extensão de quase 4 mil quilômetros quadrados, cerca de três vezes o tamanho da cidade de Nova York.